sábado, 19 de dezembro de 2009

sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

O Pré-Sal no Programa Multiponto da UFRGSTV

Diário do Pré-Sal
17/12/2009

O Pré-Sal no Programa Multiponto da UFRGSTV

Programa da TV Ufrgs entrevista especialistas sobre o petróleo da camda pré-sal, o novo marco regulatório, o modelo de exploração e o destino dos recursos do petróleo.

Dentre os entrevistados está o presidente regional da Associação dos Engenheiros da Petrobrás (AEPET), Raul Tadeu Bergmann, o ex-diretor de Gás e Energia da Petrobras e professor da USP, Ildo Sauer, os professores Rogério Dornelles Maestri, Luiz Augusto Estrella Faria, Ricardo Ayup Zouain, Vicente Ribeiro  e Lucas Kerr de Oliveira.
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Pré-Sal - programa Multiponto - parte [1/3]

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Pré-Sal - programa Multiponto - parte [2/3]

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Pré-Sal - programa Multiponto - parte [3/3]

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Pré-Sal - programa Multiponto - teaser

terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Brasil caminha para se tornar 'petropotência', diz 'Washington Post'

BBC Brasil
7 de dezembro, 2009

Brasil caminha para se tornar "petropotência", diz  'Washington Post'

 http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2009/12/091207_press_petroleo_pu.shtml

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Petrobras é 'ícone nacional', observa jornal americano
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Uma reportagem publicada nesta segunda-feira no jornal americano Washington Post afirma que o Brasil se encaminha para se tornar uma "petropotência".

Intitulado "Brasil se prepara para extração maciça de petróleo", o artigo faz, no entanto, a ressalva de que os desafios envolvendo o desenvolvimento do pré-sal são tão gigantescos quanto a tarefa em si.

"Tudo neste estaleiro é colossal", escreve o repórter, durante uma visita a uma das infraestruturas da Petrobras em Angra dos Reis, no Estado do Rio de Janeiro. "Os 4 mil trabalhadores, os bilhões aplicados em custos de capital, as plataformas com altura de um prédio de dez andares inconclusas."

"Assim também é o desafio que enfrenta a estatal brasileira de energia, a Petrobras: desenvolver um grupo de campos de petróleo recém-descobertos em mar profundo que, segundo analistas de energia, catapultarão o país para o ranking das petropotências."

A reportagem cita estimativas da Petrobras, de que o país poderia chegar a 2020 com uma produção de 3,9 milhões de barris de petróleo por dia, praticamente o dobro do volume de 2 milhões de barris atualmente.

As reservas comprovadas de petróleo podem passar dos atuais 14,4 bilhões de barris para mais de 30 bilhões de barris, diz o texto.

"Em uma era de oferta reduzida, as descobertas na costa brasileira e o aumento da envergadura da Petrobras estão mudando o equilíbrio petroleiro do mundo", diz a matéria.

O artigo lembra que a estatal "permanece firmemente sob o controle do Estado, com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva tratando-a como um ícone nacional, cujo futuro está entrelaçado com o do Brasil".

"Apesar do otimismo que os dirigentes da Petrobras demonstram para os visitantes, eles listam os desafios: perfurar a camada de sal a 6,5 mil pés e operar campos que estão tão longe da costa que só podem ser alcançados de helicóptero", diz o texto.

Além disso, a reportagem cita a associação de petroleiras estrangeiras que operam no Brasil. O grupo critica o que considera um excessivo posicionamento da Petrobras nos campos do pré-sal, afirmando que o quinhão estatal nos projetos corre o risco de "limitar o desenvolvimento" deles.

http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2009/12/091207_press_petroleo_pu.shtml

domingo, 29 de novembro de 2009

A política externa chinesa e a 4ª Conferência do Fórum de Cooperação China-África-2009, por Diego Pautasso

Meridiano 47

28/11/2009

A política exerna chinesa e a 4ª Conferência do Fórum de Cooperação China-África-2009, por Diego Pautasso
Diego Pautasso
http://meridiano47.info/

O fim da Guerra Fria não representou apenas a derrota da URSS, mas o fim de um ordenamento mundial centrado nos EUA e o início de um período de transição sistêmica. Esta transição tem sido marcada pela perda de vantagens competitivas dos EUA, pela intensificação das rivalidades e competições interestatais e interempresariais e pelo surgimento de novas configurações de poder (ARRIGHI; SILVER, 2001, p. 30-45). Se esta premissa teórica tiver um fundo de verdade, as relações sino-afrianas são representativas destas transformações globais, amplificando a relevância da 4ª Conferência Ministerial do Fórum de Cooperação China-África, ocorrido entre 8 e 9 de novembro de 2009 em Sharm el Sheikh, no Egito. Com efeito, o presente artigo relaciona a ascensão da China (e de sua política externa) com a África através do FOCAC, no quadro de reorganição sistêmica.

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

Rafale International esclarece informações sobre proposta francesa no FX-2

Press Releases

16/11/2009
Rafale International esclarece informações sobre proposta francesa no FX-2
Brasília, 12 de novembro de 2009 – O consórcio francês Rafale International, formado pelas empresas Dassault Aviation, Snecma e Thales, realizou coletiva na tarde desta quinta feira para esclarecer à opinião pública informações que não correspondem à realidade e que tem sido divulgadas nas últimas semanas sobre a proposta francesa no FX-2, processo de escolha do Governo Brasileiro para aquisição das novas aeronaves de combate da FAB.

O consórcio Rafale International, em respeito ao processo de escolha realizado pela FAB, que desde o seu início é transparente e criterioso, esclarece que:

Sobre o preço ofertado, respeita o termo de confidencialidade que foi assinado com a FAB, o que deveria ter sido feito também pelos outros concorrentes.

Foram divulgadas informações de que a proposta do Rafale seria 40% mais cara que a do F-18. Esta afirmação não tem fundamento. O consórcio garante que o valor oferecido ao Governo Brasileiro para aquisição do Rafale é compatível com o valor de outras aeronaves da mesma classe, sendo que a França oferece total garantia de transferência de tecnologia (já aprovada pelo governo francês) e um caça que está em início de vida operacional, já com capacidade operacional comprovada em combate e com mais de 30 anos de expectativa de operação.

Representantes da SAAB dizem que o Gripen custa a metade do valor do Rafale. Causa estranheza esta afirmação, uma vez que o valor do Rafale não é de conhecimento público. Mais do que isso, não é correto comparar valores de caças de classes diferentes.

Ainda assim, é possível fazer algumas ponderações que colocam por terra esta afirmação da empresa sueca:

- O Gripen é um monomotor da classe do Mirage 2000, portanto de classe diferente do Rafale, seu sucessor. O Rafale é um bimotor, que traz mais segurança e capacidade operacional superior. 

- A depender da missão, são necessários dois Mirage 2000 para executar a missão de um Rafale, conforme experiência da Força Aérea Francesa. Então, para ter o mesmo poder aéreo, o comprador deveria adquirir o dobro de caças desta classe.

- E o mais importante: em função de estar em fase inicial de projeto (é apenas um demonstrador de conceito), o custo final do desenvolvimento do Gripen NG é totalmente desconhecido, podendo se tornar um verdadeiro “saco sem fundo”. Alguns países que fecharam negócios semelhantes no passado acabaram por desistir do projeto após centenas de milhões de dólares de investimento, como ocorreu com o Japão e Israel com aeronaves que incorporavam tecnologias dos próprios países e norte-americanas.

Noruega e Dinamarca, nações economicamente sólidas e parceiras históricas da Suécia, não quiseram assumir o risco financeiro do projeto do Gripen NG. Além do risco de custo, existe risco elevado quanto ao prazo de entrega. No caso do Rafale, o custo de produção está estabilizado. Não há risco quanto ao custo e prazo.

Sobre mercado de aeronaves de combate, concorrentes e críticos dizem que o Rafale nunca foi vendido ao exterior. É preciso ressaltar que não se vende uma aeronave de combate antes que esteja em operação na Força Aérea do país de origem. Como o Rafale entrou em operação em 2006 na Força Aérea Francesa, o consórcio Rafale leva em conta efetivamente as concorrências após este período e reafirma a certeza de que o Rafale será um produto de sucesso, a exemplo de todos os caças desenvolvidos pela Dassault, entre eles os Mirage.

O Rafale venceu tecnicamente algumas concorrências, como no caso da Coréia do Sul, quando os Estados Unidos pressionaram os sul-coreanos para que optassem por um caça norte-americano, considerando o alinhamento das posições em relação à Coréia do Norte. A decisão foi tomada por razões estratégicas.

O consórcio Rafale International já em fase de formatação de contrato nos Emirados Árabes Unidos. Na Índia o Rafale está em fase de testes. O Rafale está também na concorrência da Suíça. Outros países como Qatar, Kuwait e Malásia manifestaram interesse pelo Rafale.

Sobre a origem de componentes e tecnologias: todas as tecnologias do Rafale são 100% francesas e o consórcio Rafale International não precisa de autorização de nenhum país para comercializá-las.

É necessário esclarecer que componentes não são a mesma coisa que tecnologias. No caso de componentes, são mais de 100 mil em um caça. Há sim componentes de outros países no Rafale, como também nos outros dois concorrentes; no caso do Rafale, eles foram selecionados por razões econômicas e todos podem ser substituídos.

É importante salientar que uma parte do Gripen é norte-americana, em especial a sua turbina, como os próprios suecos gostam de ressaltar em sua publicidade em outras concorrências pelo mundo, o que talvez explique a campanha em conjunto que SAAB e Boeing fazem contra o Rafale.

Sobre transferência de tecnologia, o consórcio Rafale International reforça o que a proposta do Rafale prevê transferência irrestrita e já aprovada de tecnologia, inclusive as críticas, ao Brasil. O programa de cooperação industrial da proposta francesa é bem fundamentado, com acordos assinados com 39 empresas para 68 projetos e parcerias com a Universidade Federal do Rio de Janeiro e o ITA.

Seguindo a legislação francesa, a autorização de transferência de tecnologia foi concedida pelo poder executivo francês antes do Rafale entrar na disputa e não depende mais de nenhuma nova autorização, ao contrário dos EUA, onde há a necessidade de aprovação pelo poder legislativo norte-americano. A autorização do Congresso dos EUA que vem sendo divulgada é uma pré-autorização, que ainda será revista, podendo haver vetos, por ocasião das revisões periódicas, como aconteceu na venda dos mísseis do F-16 ao Chile. Não há conhecimento sobre como as restrições norte-americanas podem afetar a transferência de tecnologia do Gripen.

Vale ressaltar, que nesse projeto específico, devido à parceria estratégica existente entre o Brasil e a França, a oferta do Rafale incorpora uma transferência de tecnologia crítica em uma dimensão inédita.

As seis primeiras aeronaves deverão ser construídas na França, com participação brasileira, para garantir aprendizado à indústria e entrega rápida dos primeiros caças à FAB. Os demais 30 caças serão montados no Brasil, com a produção de peças sendo transferida gradativamente à indústria brasileira, chegando a 50% na trigésima sexta aeronave e com certeza de aumentar caso o Brasil amplie o programa.

O consórcio do Rafale destaca, ainda, o elemento mais importante associado à proposta francesa: é a única que dá garantia de compra de no mínimo 10 unidades da aeronave KC-390, da Embraer, a maior já desenvolvida no Brasil, em compromisso já firmado pelo Governo Francês. Além disso, o consórcio Rafale International se compromete a ser parceiro para desenvolver o KC-390 junto com a Embraer, transferindo ainda outras tecnologias críticas. A parceria contribuirá significativamente para o sucesso desse projeto e geração adicional de empregos.

A iniciativa destes esclarecimentos está fundamentada no profundo respeito à opinião pública e à imprensa brasileira, que merecem receber informações fidedignas sobre este importante assunto de interesse nacional.

Mais informações à imprensa
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sexta-feira, 13 de novembro de 2009

Tensão entre as Coréias ameaça negociações para a pacificação da Península Coreana

O Estado de S. Paulo

12 de novembro de 2009 | 8h 53

Pyongyang diz que Seul 'pagará caro' por troca de tiros no mar
Coreia do Norte afirma que incidente é parte de conspiração sul-coreana para sabotar diálogo com os EUA
estadao.com.br

A Coreia do Norte disse nesta quinta-feira, 12, que a Coreia do Sul irá "pagar caro" por ter disparado na terça-feira contra um barco de patrulha norte-coreano, num incidente que agrava a tensão entre os dois países e foi o primeiro conflito em sete anos.


"Aquecimento Global é terrorismo climático", por Luiz Carlos Molion

Luiz Carlos Molion

"Aquecimento Global é terrorismo climático"

Pesquisador diz que tendência dos próximos anos é o esfriamento da Terra e que efeito estufa é tese manipulada pelos países ricos


Entrevistado por RODRIGO RANGEL, da Revista ISTOÉ

http://www.istoe.com.br/assuntos/entrevista/detalhe/255_AQUECIMENTO+GLOBAL+E+TERRORISMO+CLIMATICO+?pathImagens=&path=&actualArea=internalPage
 


O professor Luiz Carlos Molion é daqueles cientistas que não temem nadar contra a corrente. Na Rio 92 (ou Eco 92), quando o planeta discutia o aumento do buraco na camada de ozônio, ele defendeu que não havia motivo para tamanha preocupação.

Numa conferência, peitou o badalado mexicano Mario Molina, mais tarde Nobel de Química, um dos primeiros a fazer o alerta. Agora, a guerra acadêmica de Molion tem outro nome: aquecimento global. Pós-doutor em meteorologia formado na Inglaterra e nos Estados Unidos, membro do Instituto de Estudos Avançados de Berlim e representante da América Latina na Organização Meteorológica Mundial, esse paulista de 61 anos defende com veemência a tese de que a temperatura do planeta não está subindo e que a ação do homem, com a emissão crescente de gás carbônico (CO2) e outros poluentes, nada tem a ver com o propalado aquecimento global. Boa notícia?

Nem tanto, diz. Molion sustenta que está em marcha um processo de resfriamento do planeta. "Estamos entrando numa nova era glacial, o que para o Brasil poderá ser pior", pontifica. Para Molion, por trás da propagação catastrófica do aquecimento global há um movimento dos países ricos para frear o desenvolvimento dos emergentes. O professor ainda faz uma reclamação: diz que cientistas contrários à tese estão escanteados pelas fontes de financiamento de pesquisa.



Istoé - Com base em que o sr. diz que não há aquecimento global?
 
Luiz Carlos Molion - É difícil dizer que o aquecimento é global. O Hemisfério Sul é diferente do Hemisfério Norte, e a partir disso é complicado pegar uma temperatura e falar em temperatura média global. Os dados dos 44 Estados contíguos dos EUA, que têm uma rede de medição bem mantida, mostram que nas décadas de 30 e 40 as temperaturas foram mais elevadas que agora. A maior divergência está no fato de quererem imputar esse aquecimento às atividades humanas, particularmente à queima de combustíveis fósseis, como petróleo e carvão, e à agricultura, atrás da agropecuária, que libera metano. Quando a gente olha a série temporal de 150 anos usada pelos defensores da tese do aquecimento, vê claramente que houve um período, entre 1925 e 1946, em que a temperatura média global sofreu um aumento de cerca de 0,4 grau centígrado. Aí a pergunta é: esse aquecimento foi devido ao CO2?


Istoé - Como, se nessa época o homem liberava para a atmosfera menos de 10% do que libera hoje?

Luiz Carlos Molion - Depois, no pós-guerra, quando a atividade industrial aumentou, e o consumo de petróleo também, houve uma queda nas temperaturas.

Istoé - Qual seria a origem das variações de temperatura?

Luiz Carlos Molion - Há dez anos, descobriu-se que o Oceano Pacífico tem um modo muito singular na variação da sua temperatura. Me parece lógico que o Pacífico interfira no clima global. Primeiro, a atmosfera terrestre é aquecida por debaixo, ou seja, temos temperaturas mais altas aqui na superfície e à medida que você sobe a temperatura vai caindo - na altura em que voa um jato comercial, por exemplo, a temperatura externa chega a 45 ou 50 graus abaixo de zero. Ora, o Pacífico ocupa um terço da superfície terrestre. Juntando isso tudo, claro está que, se houver uma variação na temperatura da superfície do Pacífico, vai afetar o clima.

Istoé - O IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudança Climática, da ONU) está errado?

Luiz Carlos Molion - O painel não leva em consideração todos os dados. Outra coisa que incomoda bastante, e que o Al Gore [exvice- presidente dos EUA e estrela do documentário Uma verdade inconveniente, sobre mudanças no clima] usa muito, é a concentração de CO2. O IPCC diz claramente que a concentração atingida em 2005, de 339 partes por milhão, ou ppm, foi a maior dos últimos 650 mil anos. Isso é uma coisa ridícula. Eles usam uma série iniciada em 1957 e não fazem menção a medições de concentração de gás carbônico anteriores. É como se nunca ninguém tivesse se preocupado com isso. O aumento de CO2 não é um fenômeno novo. Nos últimos 150 anos, já chegou a 550, 600 ppm. Como é que se jogam fora essas medidas? Só porque não interessam ao argumento? O leigo, quando vê a coisa da maneira que é apresentada, pensa que só começaram a medir nos últimos 50 anos. O Al Gore usou no filme a curva do CO2 lá embaixo há 650 mil anos e, agora, decolando. Ridículo, palhaço.

Istoé - Esses temores são cíclicos?

Luiz Carlos Molion - Eu tenho fotos da capa da Time em 1945 que dizia: "O mundo está fervendo." Depois, em 1947, as manchetes diziam que estávamos indo para uma nova era glacial. Agora, de novo se fala em aquecimento. Não é que os eventos sejam cíclicos, porque existem muitos fatores que interferem no clima global. Sem exagero, eu digo que o clima da Terra é resultante de tudo o que ocorre no universo. Se a poeira de uma supernova que explodiu há 15 milhões de anos for densa e passar entre o Sol e a Terra, vai reduzir a entrada de radiação solar no sistema e mudar o clima. Esse ciclo de aquecimento muito provavelmente já terminou em 1998. Existem evidências, por medidas feitas via satélite e por cruzeiros de navio, de que o oceano Pacífico está se aquecendo fora dos trópicos - daí o derretimento das geleiras - e o Pacífico tropical está esfriando, o que significa que estamos entrando numa nova fase fria. Quando esfria é pior para nós.

Istoé - Por que é pior?

Luiz Carlos Molion - Porque quando a atmosfera fica fria ela tem menor capacidade de reter umidade e aí chove menos. Eu gostaria que aquecesse realmente porque, durante o período quente, os totais pluviométricos foram maiores, enquanto de 1946 a 1976 a chuva no Brasil como um todo ficou reduzida.

Istoé - No que isso pode interferir na vida do brasileiro?

Luiz Carlos Molion - As conseqüências para o Brasil são drásticas. O Sul e o Sudeste devem sofrer uma redução de chuvas da ordem de 10% a 20%, dependendo da região. Mas vai ter invernos em que a freqüência de massas de ar polar vai ser maior, provocando uma freqüência maior de geadas. A Amazônia vai ter uma redução de chuvas e, principalmente, a Amazônia oriental e o sul da Amazônia vão ter uma freqüência maior de seca, como foi a de 2005. O Nordeste vai sofrer redução de chuva. O que mais me preocupa é que, do ponto de vista da agricultura, as regiões sul do Maranhão, leste e sudeste do Pará, Tocantins e Piauí são as que apresentam sinais mais fortes. Essas regiões preocupam porque são a fronteira de expansão da soja brasileira. A precipitação vai reduzir e certamente vai haver redução de produtividade. Infelizmente, para o Brasil é pior do que seria se houvesse o aquecimento.
 
Istoé - A quem interessaria o discurso do "aquecimento"?

Luiz Carlos Molion - Quando eu digo que muito provavelmente estamos num processo de resfriamento, eu faço por meio de dados. O IPCC, o nome já diz, é constituído de pessoas que são designadas por seus governos. Os representantes do G-7 não vão aleatoriamente. Vão defender os interesses de seus governos. No momento em que começa uma pressão desse tipo, eu digo que já vi esse filme antes, na época do discurso da destruição da camada de ozônio pelos CFCs, os compostos de clorofluorcarbonos. Os CFCs tinham perdido o direito de patente e haviam se tornado domínio público. Aí inventaram a história de que esses compostos estavam destruindo a camada de ozônio. Começou exatamente com a mesma fórmula de agora. Em 1987, sob liderança da Margaret Thatcher, fizeram uma reunião em Montreal de onde saiu um protocolo que obrigava os países subdesenvolvidos a eliminar os CFCs. O Brasil assinou. Depois, ficamos sabendo que assinou porque foi uma das condições impostas pelo FMI para renovar a dívida externa brasileira. É claro que o interesse por trás disso certamente não é conservacionista.

Istoé - Mas reduzir a emissão de CFCs não foi uma medida importante?

Luiz Carlos Molion - O Al Gore no filme dele diz "nós resolvemos um problema muito crucial que foi a destruição da camada de ozônio". Como resolveram, se cientistas da época diziam que a camada de ozônio só se recuperaria depois de 2100? Na Eco 92, eu disse que se tratava de uma atitude neocolonialista. No colonialismo tradicional se colocam tropas para manter a ordem e o domínio. No neocolonialismo a dominação é pela tecnologia, pela economia e, agora, por um terrorismo climático como é esse aquecimento global. O fato é que agora a indústria, que está na Inglaterra, França, Alemanha, no Canadá, nos Estados Unidos, tem gases substitutos e cobra royalties de propriedade. E ninguém fala mais em problema na camada de ozônio, sendo que, na realidade, a previsão é de que agora em outubro o buraco será um dos maiores da história.

Istoé - O sr. também vê interesses econômicos por trás do diagnóstico do aquecimento global?

Luiz Carlos Molion - É provável que existam interesses econômicos por detrás disso, uma vez que os países que dominam o IPCC são os mesmos países que já saíram beneficiados lá atrás.
 
Istoé - Não é teoria conspiratória concluir que há uma tentativa de frear o desenvolvimento dos países emergentes?

Luiz Carlos Molion - O que eu sei é que não há bases sólidas para afirmar que o homem seja responsável por esse aquecimento que, na minha opinião, já acabou. Em 1798, Thomas Malthus, inglês, defendeu que a população dos países pobres, à medida que crescesse, iria querer um nível de desenvolvimento humano mais adequado e iria concorrer pelos recursos naturais existentes. É possível que a velha teoria malthusiana esteja sendo ressuscitada e sendo imposta através do aquecimento global, porque agora querem que nós reduzamos o nosso consumo de petróleo, enquanto a sociedade americana, sozinha, consome um terço do que é produzido no mundo.

Istoé - Para aceitar a tese do sr., é preciso admitir que há desonestidade dos cientistas que chancelam o diagnóstico do aquecimento global...
 
Luiz Carlos Molion - Eu digo que cientistas são honestos, mas hoje tem muito mais dinheiro nas pesquisas sobre clima para quem é favorável ao aquecimento global. Dinheiro que vem dos governos, que arrecadam impostos das indústrias que têm interesse no assunto. Muitos cientistas se prostituem, se vendem para ter os seus projetos aprovados. Dançam a mesma música que o IPCC toca.

Istoé - O sr. se considera prejudicado por defender a linha oposta?

Luiz Carlos Molion - Na Eco 92, eu debati com o Mario Molina, que foi quem criou a hipótese de que os clorofluorcarbonos estariam destruindo o ozônio. Ele, em 1995, virou prêmio Nobel de Química. E o professor Molion ficou na geladeira. De 1992 a 1997 eu não fui mais convidado para nenhum evento internacional. Eu tinha US$ 50 mil que o Programa das Nações Unidas havia repassado para fazer uma pesquisa na Amazônia e esse dinheiro foi cancelado.
 
Istoé - O cenário que o sr. traça inclui ou exclui o temor de cidades litorâneas serem tomadas pelo aumento do nível dos oceanos?

Luiz Carlos Molion - Também nesse aspecto, o que o IPCC diz não é verdade. É possível que, com o novo ciclo de resfriamento, o gelo da Groenlândia possa aumentar e pode ser até que haja uma ligeira diminuição do nível do mar.
 
Istoé - Pela sua tese, seria o começo de uma nova era glacial?

Luiz Carlos Molion - Como já faz 15 mil anos que a última Era Glacial terminou, e os períodos interglaciais normalmente são de 12 mil anos, é provável que nós já estejamos dentro de uma nova era glacial. Obviamente a temperatura não cai linearmente, mas a tendência de longo prazo certamente é decrescer, o que é mau para o homem. Eu gostaria muito que houvesse realmente um aquecimento global, mas na realidade os dados nos mostram que, infelizmente, estamos caminhando para um resfriamento. Mas não precisa perder o sono, porque vai demorar uns 100 mil anos para chegar à temperatura mínima. E quem sabe, até lá, a gente não encontre as soluções para a humanidade.



Revista ISTOÉ. Edição n°:  1967 |  11/jul/2009 - 10:00 |  Atualizado em 11/nov/2009 - 09:08



http://www.istoe.com.br/assuntos/entrevista/detalhe/255_AQUECIMENTO+GLOBAL+E+TERRORISMO+CLIMATICO+?pathImagens=&path=&actualArea=internalPage
 

sábado, 7 de novembro de 2009

Erupção vulcânica e tsunami podem ter destruido a civilização minóica por volta de 1630 a.C.

Folha de S.Paulo
05/11/2009 

Erupção vulcânica provocou tsunami gigante há 3.000 anos, diz estudo



A grande erupção do vulcão Thera no Mar Egeu, há mais de 3.000 anos, produziu ondas monstruosas que percorreram centenas de quilômetros do leste do Mediterrâneo para inundar a área que hoje é Israel e provavelmente outras regiões costeiras, descobriu uma equipe de cientistas. 

Os pesquisadores, em artigo publicado na edição de outubro da revista "Geology", disseram que a nova evidência sugere que tsunamis gigantes da erupção catastrófica atingiram "áreas costeiras por todo o litoral do leste do Mediterrâneo". Tsunamis são ondas gigantes que podem atingir a costa, rearranjar o leito do mar, inundar vastas áreas de terra e carregar material terrestre para o mar. 

A região, na época, era habitada por civilizações em ascensão em Creta, Chipre, Egito, Fenícia e Turquia.
Durante décadas, estudiosos sugeriram que a erupção gigante, a apenas 112 km de Creta, pode ter causado o misterioso colapso da civilização minóica no seu apogeu. Os remanescentes da erupção do Thera hoje formam um arquipélago circular de ilhas vulcânicas gregas conhecidas como Santorini. 

terça-feira, 3 de novembro de 2009

"A urgência das hidrovias e ferrovias", por Sérgio B. Motta

Portal NetMarinha 
02 November, 2009  

A urgência das hidrovias e ferrovias
Por Sérgio Barreto Motta

http://netmarinha.uol.com.br/



As agências de águas (ANA) e de navegação interior (Antaq), com apoio do ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, estão fechando o cerco, para que as novas usinas hidrelétricas tenham, desde sua inauguração, passagem para barcos (eclusas). O sistema hidroviário permite a colocação, no porto, a preço mais baixo, da produção agrícola, além de ser o que menos agride o ambiente, pois seu consumo de combustível é bem inferior ao da ferrovia e mais ainda da rodovia. E o presidente Lula, que pouco ligava para o ambiente até há alguns meses atrás, agora é considerado um dos líderes mundiais do setor.


16.03.2009_malha-ferroviaria_mat.jpgUm forte obstáculo está no Ministério de Minas e Energia. Recentemente, o secretário-executivo do MME, Márcio Zimmermann, afirmou que não se deveria incluir eclusas em todas as barragens, pois " poderia haver ferrovias no mesmo trajeto". Em todas as barragens em projeto ou construção no Brasil não há ferrovias paralelas em nenhuma delas.


O superintendente de Navegação Interior da Antaq, Alex Oliva, está entusiasmado. Garante que nas novas usinas do Rio Madeira, já em construção - Santo Antonio e Juruá - serão instaladas eclusas. Oliva insiste em sua tese, embora os projetos oficiais não contemplem esse benefício. Segundo Oliva, já estão sendo contratados projetos básicos para essas eclusas. No caso da maior usina hidrelétrica em fase final de projeto, Belo Monte, haverá, igualmente, nova guerra: ANA, Antaq e Minc querem eclusas, mas o MME, com apoio das empreiteiras, sequer deseja ouvir falar no assunto.

17.03.2009_terminal-aquav-sc_fs.jpg
À época da construção da usina de Tucuruí, no Rio Tocantins, em 1984, a instalação de eclusas custaria R$ 320 milhões. Agora - a inauguração das eclusas está prevista para 2010 - o valor é de alguns bilhões.


O diretor-geral do Departamento Nacional de Infra-Estrutura de Transporte (Dnit), Luiz Antonio Pagot, afirmou, nesse encontro: “Temos um invejável potencial hídrico navegável que não aproveitamos por falta de recursos para projetos e obras. Estamos agora retomando a implantação de ferrovias. A combinação de novas rodovias e investimentos consistentes na área de ferrovias e hidrovias vai nos permitir, com certeza, gerar imensas oportunidades de negócios. Algumas regiões brasileiras que têm enorme potencialidade minerosiderúrgica , florestal e para atividade agropecuária e que estão cerceadas, exatamente por falta de uma infraestrutura multimodal que permita a chegada de insumos e o transporte de produtos por preços que viabilizem a atividade econômica. O investimento em multimodalidade assegura o crescimento igual a muitas regiões brasileiras”.



Confira mais destaques na Coluna semanal de Sérgio Barreto Motta, no Portal NetMarinha.

sexta-feira, 21 de agosto de 2009

Luis Nassif: "A geopolítica do pré-sal"

Último Segundo
20/08/2009

A geopolítica do pré-sal

Luis Nassif
Coluna Econômica
http://colunistas.ig.com.br/luisnassif/2009/08/20/a-geopolitica-do-pre-sal/

Na montagem da regulação do pré-sal, um dos ângulos relevantes abordados foi o geopolítico. Qual o papel que o Brasil desempenhará no mundo nas próximas décadas e quais os pontos que terão que ser desde já observados para não comprometer sua função.

Incumbido de desenhar o projeto, um dos aspectos que mais chamou a atenção do Grupo de Trabalho foi a ferocidade chinesa, atrás de empresas e de reservas de matérias primas. Em uma licitação recente, a Petrobras ofereceu US$ 700 milhões de bônus para participar; os chineses cobriram com um lance de US$ 1,3 bi.

A recente compra da argentina Repsol comprovou que se se abrisse o pré-sal para licitações simples, os chineses acabariam levando todos os campos.

Um dos eixos de consenso foi, portanto, assegurar controle sobre o processo de extração e sobre as externalidades (os ganhos indiretos) – como o de adequar o ritmo de desenvolvimento dos poços à capacidade de fornecimento de equipamentos da indústria nacional.

Outro ponto relevante é sobre a maneira como serão aplicados os recursos advindos da exploração. Haverá duas fontes principais de recursos. A primeira serão as antecipações de bônus – uma espécie de “entrada” que cada empresa vencedora terá que pagar adiantado. Depois, os recursos da exploração.

Na Noruega a regra adotada foi de não mexer no principal e investir apenas os rendimentos. Por aqui não se adotará essa política. A ideia é utilizar os bônus desde o início para grandes obras de infra-estrutura e também investimentos no exterior – para fugir da doença holandesa, de super-apreciação do real.

Nos próximos dias, o governo estará enviando três projetos de lei ao Congresso: um sobre as regras de partilha na exploração; outro sobre a nova empresa a ser criada; e o terceiro criando e regulamentando o fundo de exploração.

Um dos pontos mais controvertidos da exploração é a questão dos royalties – que hoje são pagos a municípios onde se situam as reservas petrolíferas. Por enquanto não se vai mexer na questão, para não atrapalhar a tramitação dos demais PLs.

As críticas contra o modelo partiram especialmente dos que defendiam um modelo puramente privativista em que o único papel do governo fosse arrecadar recursos com os leilões. Sempre é citado o modelo norueguês – no qual uma empresa estatal apenas gerencia projetos tocados por empresas privadas.

Uma das ressalvas é que a Noruega é o único país que adota esse modelo. Em todos os casos de grandes reservas a serem exploradas, a incumbência é dada a uma empresa estatal – a fim de que a maior parte dos ganhos fique no país.

Um segundo ponto, é que o modelo norueguês tem o chamado “dedo do rei”. Ou seja, o rei pode intervir em qualquer parte do processo, definir a empresa que bem entender, inclusive atropelando os procedimentos adotados.

Como a Petrobras será o grande agente da exploração, um dos pontos relevantes será sua estrutura de capital. Há alguns modelos em discussão. Aparentemente já se chegou a um consenso sobre o modelo a ser adotado. Mas, por enquanto, está sendo guardado a sete chaves.
http://colunistas.ig.com.br/luisnassif/2009/08/20/a-geopolitica-do-pre-sal/

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

Moniz Bandeira: Unasul não convém aos EUA

Terça, 18 de agosto de 2009 

Moniz Bandeira: Unasul não convém aos EUA

Claudio Leal



O cientista político Luiz Alberto Moniz Bandeira, um dos principais especialistas na história da diplomacia brasileira, analisa que "o objetivo da ampliação das bases (dos EUA) na Colômbia é restringir a projeção do poder político e militar do Brasil, frustrando iniciativas como a Unasul e o Conselho Sul-Americano de Defesa." 

Em entrevista a Terra Magazine, o professor titular de história política exterior do Brasil, na Universidade de Brasília, argumenta que o desenvolvimento dessas organizações multilaterais não interessa aos EUA:
- Essas instituições, que dão à América do Sul uma identidade própria, não convém aos Estados Unidos (...) A presença dos Estados Unidos sempre foi um fator de desestabilização em todas as regiões do mundo e seu objetivo com a ampliação das bases na Colômbia é fomentar um cisma e impedir a integração econômica e política da América do Sul.

Autor de Fórmula para o caos: a derrubada de Salvador Allende, 1970-1973, Moniz Bandeira comenta a liberação de documentos inéditos pelo Departamento de Estado dos EUA. Entre as revelações, uma conversa entre os presidentes Emílio Garrastazú Médici e Richard Nixon, no Salão Oval da Casa Branca, em 9 de dezembro de 1971. O ditador Médici afirmou que o Brasil "estava trabalhando" pela derrubada do governo do chileno Salvador Allende. Para Moniz Bandeira, a íntegra da conversa "não surpreende".
- Colaboração realmente houve (entre Brasil e CIA), mas todo o processo de desestabilização do governo do presidente Salvador Allende foi financiado e conduzido pela CIA e pelos serviços de inteligência militar da Marinha e do Exército dos Estados Unidos. A participação do Brasil foi importante, mas secundária. Não foi fundamental. 

Leia a entrevista:


Terra Magazine - A conversa entre os presidentes Richard Nixon e Emílio Garrastazu Médici, em 1971, exposta em papéis liberados pelo Departamento de Estado dos EUA, modifica com intensidade os relatos já existentes sobre o papel do Brasil no golpe militar chileno?
Moniz Bandeira
- A revelação do memorandum da conversa entre o general Emílio Garrastazú Médici e o presidente Richard Nixon não surpreende. Era perfeitamente imaginável que os dois chefes de governo conversaram sobre o assunto, quando Médici visitou os Estados Unidos. E conversaram não apenas sobre o Chile, como sobre o Uruguai, onde o Brasil, segundo o próprio Nixon revelou ao primeiro-ministro da Grã-Bretanha, ajudou a fraudar a eleição para evitar a vitória da Frente Ampla. Tudo isto está em meu livro Fórmula para o caos - A derrubada de Salvador Allende, lançado no ano passado, simultaneamente, no Brasil e no Chile (e este ano em Portugal). 

Médici afirmou que o Brasil "estava trabalhando" pela sublevação das Forças Armadas do Chile. Como se deu esse entendimento com militares chilenos?
Os entendimentos foram efetuados através dos serviços de inteligência do Brasil, aos quais Médici encarregou a tarefa de ajudar a articulação do golpe, naturalmente em contacto com a CIA. O embaixador de Brasil no Chile, Antonio Cándido da Cámara Canto, era um homem de extrema direita e adversário do governo de Salvador Allende, mas o general Garrastazú Médici deixou a cargo dos militares a missão de articular com os militares chilenos e os dirigentes de Patria e Libertad, com a assistência da CIA, os planos para o golpe. Eduardo Díaz Herrera, dirigente de Patria y Libertad desenvolveu um plano que envolvia o Serviço Nacional de Informações (SNI) e os serviços de inteligência do Exército, Marinha e Aeronáutica do Brasil. Ele e Manuel Fuentes estiverem em Brasília e lá se reuniram com altos oficiais das Forças Armadas, entre os quais o general João Batista Figueiredo, chefe da Casa Militar da Presidência e o coronel Venceslau Malta. De acordo com o plano elaborado, se ocorresse uma cisão nas Forças Armadas, se o golpe não fosse institucional, as unidades militares insurgentes e as Brigadas Operativas y Fuerzas Especiales (BOFE) de Patria y Libertad, ocupariam as províncias do sul de Chile, apoiadas secretamente pelo Brasil e Argentina, cujas Forças Armadas lhes dariam assistência logística e o armamento necessário. Sobre isto escrevi em Fórmula para o caos com base na documentação brasileira. 

Qual o nível de colaboração entre a ditadura brasileira e a CIA, na deposição de Salvador Allende?
Colaboração realmente houve, mas todo o processo de desestabilização do governo do presidente Salvador Allende foi financiado e conduzido pela CIA e pelos serviços de inteligência militar da Marinha e do Exército dos Estados Unidos. A participação do Brasil foi importante, mas secundária. Não foi fundamental. 

Como o senhor avalia a política brasileira de liberação de documentos sobre a ditadura militar? Quais são os pontos que devem ser priorizados?
Os documentos do SNI, que não foram incinerados nos anos 1980, estão disponíveis para a pesquisa no Arquivo Nacional, seção regional de Brasília. Também os do CIEX. Mas os arquivos do CIE, CENIMAR e CISA, as Forças Armadas relutam em entregar ao Arquivo Nacional, não obstante a determinação decretada pelo presidente Lula. 

BASES AMERICANAS NA COLÔMBIA

A ampliação das instalações militares americanas em território colombiano oferecem quais riscos para a segurança continental?
O objetivo da ampliação das bases na Colômbia é restringir a projeção do poder político e militar do Brasil, frustrando iniciativas como a Unasul e o Conselho Sul-Americano de Defesa. Essas instituições, que dão à América do Sul uma identidade própria, não convém aos Estados Unidos. Não se trata de risco para a segurança continental. A presença dos Estados Unidos sempre foi um fator de desestabilização em todas as regiões do mundo e seu objetivo com a ampliação das bases na Colômbia é fomentar um cisma e impedir a integração econômica e política da América do Sul. A ampliação das bases na Colômbia foi decerto planejada juntamente com a restauração da IV Frota no Atlântico Sul, visando a fortalecer a presença dos Estados Unidos na região e assegurar o controle de seus recursos naturais, como, por exemplo, a água e o petróleo.
Os EUA e a Colômbia caminham para um acordo bilateral. Isso será um erro diplomático do presidente Barack Obama na região?
A ampliação das bases na Colômbia não constitui uma iniciativa do presidente Barack Obama. Ele enfrenta séria oposição interna e não controla todo o aparelho de governo. Não tem muitas condições de reverter a influência do complexo industrial-militar. Atualmente quem pauta a política exterior dos Estados Unidos não é propriamente o Departamento de Estado, mas o Departamento de Defesa, o Pentágono. A militarização da política exterior dos Estados Unidos, formalizada com a criação dos comandos militares, para as diversas regiões, inclusive a América Latina (USSouthern Command), tomou impulso com os atentados de 11 de setembro de 2001. Esses comandos atuam como consulados do Império Americano. 

Caso se concretize a ampliação da presença militar americana, o Brasil deve reformular sua política para a Amazônia?
Não há o que reformular na política para a Amazônia como conseqüência da ampliação das bases americanas na Colômbia. Há muitos anos militares dos Estados Unidos trabalham não só na Colômbia como nos demais países limítrofes da Amazônia. E as Forças Armadas estão conscientes da ameaça, ainda que pareça remota. Todos os anos elas realizam operações de treinamento, tendo como primeira hipótese de guerra o enfrentamento com uma potência tecnologicamente superior no teatro de guerra da Amazônia. 

Terra Magazine









segunda-feira, 10 de agosto de 2009

FAO: África pode alimentar o mundo

 MSIA
 03 July, 2009 


FAO: África pode alimentar o mundo 

Geraldo Luís Lino 


O velho fantasma malthusiano da escassez de alimentos para uma população mundial que caminha para os 10 bilhões de pessoas, o qual tem sido constantemente retirado da tumba na qual deveria descansar para sempre, pode ser afugentado apenas com a incorporação em grande escala da África à produção agropecuária mundial. A confirmação de tal perspectiva, já conhecida por especialistas mas pouco ressaltada, vem de dois estudos recém-divulgados pela Organização das Nações Unidas para os Alimentos e a Agricultura (FAO).
 
Os dois estudos, efetuados pela FAO em conjunto com a Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) e o Banco Mundial, representam mais uma cabal refutação dos cenários pessimistas de "limitação de recursos" que vêm sendo brandidos por instituições neomalthusianas como o Clube de Roma desde a década de 1970, posteriormente reforçados pelo catastrofismo ambientalista, cuja ponta de lança atual é o suposto aquecimento global provocado pelo uso de combustíveis fósseis. O primeiro, o relatório OECD-FAO Agricultural Outlook 2009-2018 (Panorama agrícola 2009-2018), está disponível no sítio da OCDE; o segundo, intitulado Awakening Africa's Sleeping Giant - Prospects for Commercial Agriculture in the Guinea Savannah Zone and Beyond (Despertando o gigante adormecido da África - Perspectivas para a agricultura comercial na zona da Savana da Guiné e além), foi anunciado em um boletim de imprensa da FAO, em 22 de junho.

O planeta tem atualmente 1,4 bilhão de hectares de terras dedicadas à produção agropecuária e pode acrescentar outro 1,6 bilhão de hectares, a maior parte na África e América Latina. Na África, a vasta região de savanas que se estende do Senegal à África do Sul, a chamada Savana da Guiné, abarcando 25 países, tem um potencial agricultável de 400 milhões de hectares, dos quais apenas 10% encontram-se atualmente aproveitados. O potencial de aproveitamento da área pode ser vislumbrado pela semelhança dos solos da região com os do Cerrado brasileiro e do Nordeste da Tailândia. Em ambos os países, sucessivos governos criaram as condições para o crescimento da produção naquelas áreas, como ressalta o estudo "Despertando o gigante"

sexta-feira, 7 de agosto de 2009

Geopolítca da atual Crise Financeira Mundial

UFRGS TV

Crise Financeira Mundial

Programa Multiponto

http://geopoliticadopetroleo.wordpress.com/2009/08/06/geopolitca-da-atual-crise-financeira-mundial/




Programa produzido pela UFRGSTV, apresentado em duas partes na UNITV (Canal 15 da NET em Porto Alegre-RS), nos dias 09/07/2009 e 23/07/2009.

Sinopse: Programa Multiponto entrevista profissionais das áreas de economia, política, relações internacionais, história, saúde e meio ambiente para discutir diferentes aspectos da atual crise mundial.

 
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Disponível no YouTube em 6 partes, postadas em 05 e 06 de agosto de 2009:
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Multiponto - Crise Financeira Mundial
[1/6]


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Multiponto - Crise Financeira Mundial [2/6]


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Multiponto - Crise Financeira Mundial
[3/6]


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Multiponto - Crise Financeira Mundial [4/6]


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Multiponto - Crise Financeira Mundial [5/6]


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Multiponto - Crise Financeira Mundial [6/6]



Do Blog Geopolítica do Petróleo

sábado, 18 de julho de 2009

Cientistas devem aproximar-se da indústria, diz cientista

 Inovação Tecnológica

 17/07/2009

Cientistas devem aproximar-se da indústria, diz cientista

Com agências Brasil e Fapesp


O professor Fernando Galembeck, do Instituto de Química da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), defendeu a aproximação entre ciência e indústria durante a 61ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC).

"Não dá para pensar em pesquisa científica desvinculada do contexto", afirmou Galembeck. Segundo ele, as universidades, as empresas e os governos perdem oportunidades por falta de parcerias e de estratégias para desenvolvimento e inovação.

quarta-feira, 10 de junho de 2009

Resenha: "Maus samaritanos: o mito do livre-comércio e a história secreta do capitalismo"



VARELA, Carmen Augusta (2009). "Maus samaritanos: o mito do livre-comércio e a história secreta do capitalismo". Revista de Economia Política, vol.29, n.1, pp. 150-152, janeiro-março/2009. <http://www.scielo.br/pdf/rep/v29n1/09.pdf>



Maus samaritanos: o mito do livre-comércio e a história secreta do capitalismo
Ha-Joon Chang
Rio de Janeiro: Elsevier, 2009.

Maus Samaritanos é mais um livro do jovem e proeminente economista heterodoxo do desenvolvimento econômico Ha-Joon Chang. Ele nasceu na Coréia do Sul, mas está radicado na Inglaterra há bastante tempo. É professor da Universidade de Cambridge desde 1990. Tem vários livros publicados e seu trabalho mais famoso, traduzido para vários idiomas, é Chutando a Escada: a estratégia do desenvolvimento em perspectiva histórica, publicado originalmente em inglês em 2002 e em português em 2004. Esse livro lhe rendeu o Prêmio Gunnar Myrdal em 2003 e o Prêmio Leontief em 2005.

O livro Maus Samaritanos é dividido em nove capítulos e um epílogo e apresenta uma abordagem crítica à teoria econômica heterodoxa. Ha-Joon desenvolve várias analogias ao longo do texto, tentando esclarecer suas críticas. Algumas delas são bastante interessantes, como a que faz em relação ao desenvolvimento de seu filho Jin-Gyu, que tinha seis anos quando da publicação original do livro em inglês, em 2006, e a proteção necessária à indústria nascente nos países em desenvolvimento. Ele diz que se a legislação permitisse, poderia mandar seu filho para o mercado de trabalho, mas com isso, ele estaria fadado a ter eternamente subempregos. Seria muito difícil conseguir se tornar um médico ou um físico nuclear, por exemplo. Para que isso fosse possível, ele teria que proteger e investir na educação de seu filho por no mínimo mais doze anos. O mesmo ocorre com a indústria nascente: se ela é exposta rapidamente ao livre-comércio, posição defendida pelos economistas neoliberais, muito provavelmente não irá conseguir sobreviver, porque, assim como seu filho, precisa de um tempo para conseguir trabalhar com tecnologias avançadas e construir organizações eficientes. O autor observa que é errado inserir o seu filho no mercado de trabalho com seis anos, expondo-o precocemente à concorrência, mas também é errado subsidiá-lo até os quarenta anos. Isso tem que ser feito somente até o momento em que ele consiga ter a capacitação necessária para obter um emprego satisfatório. O mesmo funciona em relação às empresas, que não podem ser subsidiadas e protegidas eternamente.

O que todos devem estar se perguntando é quem seriam os Maus Samaritanos e por que são assim chamados? Ha-Joon retirou a idéia do nome de seu livro de uma parábola da Bíblia, sobre um homem que foi roubado na estrada e recebeu ajuda de um "Bom Samaritano". Os Samaritanos eram vistos como pessoas que tentavam tirar vantagens dos indivíduos que tinham algum problema. No prefácio da versão em inglês do livro, o autor esclarece que chama de Maus Samaritanos os países ricos que indicam, hoje, políticas neoliberais como a defesa de livre mercado e livre comércio, para os países pobres, tentando evitar que eles sejam no futuro seus possíveis concorrentes. Demonstra que esses países ricos não fizeram no passado o que hoje recomendam, quando sua indústria ainda estava se desenvolvendo. Ele diz também que o que mais o intriga é saber que muitos desses Maus Samaritanos não percebem que estão fazendo recomendações ruins para as economias dos países pobres. Segundo ele, a história do sucesso do capitalismo foi reescrita tantas vezes, de tal forma que muitos economistas dos países ricos não conseguem mais perceber o erro de se recomendar livre comércio e livre mercado para os países em desenvolvimento. Como ele mesmo diz, alguns desses Maus Samaritanos têm uma crença honesta, porém equivocada, de que esta é a verdadeira receita de sucesso que seus países utilizaram no passado para se tornar ricos. Para sua surpresa, até mesmo seu país, a Coréia do Sul, faz essas recomendações para outros países.

As pessoas fazem várias afirmações em relação ao caminho percorrido para se chegar ao desenvolvimento econômico pelos países ricos atuais, mas quando fazemos uma análise mais apurada e verificamos dados históricos, percebemos que a história não ocorreu exatamente como é contada hoje. Um outro livro lançado recentemente no Brasil, por Ernesto Lozardo, professor da Fundação Getúlio Vargas de São Paulo (FGV-SP), intitulado Globalização: a certeza imprevisível das nações, assim como o livro de Ha-Joon, faz também uma análise da verdadeira trajetória percorrida por países como, por exemplo, a Coréia, para alcançar o desenvolvimento econômico.

Chang demonstra claramente, não somente neste livro, mas também em suas publicações anteriores, que todos os países considerados desenvolvidos protegeram de uma forma ou de outra sua indústria nascente, no início de seu processo de desenvolvimento econômico.

Também no prefácio do livro, Ha-Joon faz um instigante relato de sua vida pessoal e familiar, tentando demonstrar como era a vida das pessoas e a economia da Coréia do Sul na época em que nasceu, em 1963, quando seu país era tido como pobre, frisando as mudanças radicais que aconteceram, fazendo com que hoje seja considerado um dos países mais ricos do mundo. Nesse relato, o autor também afirma que apesar de atualmente a Coréia ser tida como uma das nações que mais promove inovações tecnológicas, até a metade dos anos 1980 era considerada uma das "capitais da pirataria" do mundo. Ha-Joon conta que boa parte dos livros estrangeiros que utilizou, estudando para entrar em Cambridge, eram pirateados, porque os livros legalmente importados eram vendidos por preços muito altos, mesmo para pessoas de família de classe alta e que dava prioridade para a educação, como a dele.

Os capítulos 1 e 2 do livro apresentam uma análise histórica sobre a evolução do capitalismo e a globalização. Os capítulos 3 a 9 abordam uma série de discussões em relação às recomendações feitas pela teoria econômica chamada de ortodoxa, tentando descobrir a "real verdade" sobre algumas afirmações tidas como "verdadeiras". Nessa parte do livro, ele discute, dentre outros assuntos, questões como a da regulamentação ou não de investimentos estrangeiros, se as empresas privadas são mesmo melhores do que as empresas públicas e a relação existente entre democracia, propriedade intelectual, corrupção e cultura e o processo de desenvolvimento econômico.

O objetivo principal do livro é achar argumentos e exemplos sobre o fato de que nem sempre as políticas atualmente recomendadas aos países em desenvolvimento, por parte dos países ricos e de organismos internacionais como o FMI (Fundo Monetário Internacional) ou o Banco Mundial, foram utilizadas da mesma forma por esses países, no passado, ou são viáveis para os países pobres nos dias de hoje. Discute também a importância do papel do estado no processo de desenvolvimento, criando incentivos para alguns setores considerados estratégicos na economia, regulamentando outros e utilizando políticas anti-cíclicas, contrárias às utilizadas pelos outros agentes econômicos. Como o próprio autor diz, os países ricos seguem políticas keynesianas, mas recomendam para os países pobres políticas monetaristas.

Cabe observar que Chang publicou a versão de seu livro em inglês em 2006, portanto, antes da última crise financeira global. Ainda assim, pode-se extrair de seu texto algumas observações e recomendações bastante interessantes, que poderiam ser levadas em conta pelos países no contexto atual. Dentre essas análises, podemos destacar a discussão que faz, comparando eficiência entre empresas públicas e privadas, onde afirma que grandes empresas privadas, que não são geridas por seus donos majoritários, porque têm sua propriedade acionária diluída entre vários acionistas, podem sofrer dos mesmos problemas que as empresas públicas, relacionados à questão do agente principal, existência de freeriders e problemas envolvendo restrições orçamentárias brandas, ou gestão relaxada do orçamento. No capítulo 5, afirma que empresas privadas grandes, consideradas politicamente importantes em função da área que atuam ou do número de trabalhadores que empregam, em casos de crise ou má gestão, acabam recebendo socorro do estado, mesmo em países geridos por governantes que defendem o livre mercado. Argumenta também que os neoliberais recomendam para os países pobres bancos centrais independentes, mas lembra que os funcionários desses bancos, tidos como tecnocratas não-partidários, na maioria das vezes dão muita atenção ao setor financeiro, implementando políticas a seu favor e contra a indústria e os trabalhadores assalariados. Por isso, é importante que os funcionários de um banco central possam ser supervisionados pelos políticos, visando defender interesses da nação como um todo e não de grupos específicos; a independência de um banco central impede isso. Além disso, lembra que os economistas ortodoxos recomendam a desregulamentação dos mercados, mas que as crises financeiras dos anos 1990 e início dos anos 2000 foram remediadas com regulamentações de bancos e de outras empresas do setor financeiro.

No epílogo do livro o autor ousa, criando uma estória de ficção, chamada pelo autor de "história do futuro", sobre uma empresa de nanotecnologia situada na cidade de São Paulo, em 2037, e sua luta para sobreviver num mundo globalizado, após a derrocada da economia chinesa em 2029, quando passou a fazer parte da OCDE (Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico) e liberalizou seu mercado de capitais. Apesar das ressalvas, em função de ser uma ficção, o autor tenta fazer um alerta para os governantes, de que as políticas nacionais e internacionais atuais precisam sofrer mudanças, para que possa ocorrer o desenvolvimento econômico dos países e a diminuição da pobreza e das disparidades distributivas.

Ha-Joon utiliza, ao longo de todo o seu texto, dados históricos e inúmeros exemplos de sucesso ou fracasso de empresas e países, explicando, de forma extremamente didática, uma série de conceitos da teoria econômica. Seu trabalho resultou num livro interessante e altamente recomendável para todos os leitores que se interessam pela área de desenvolvimento econômico e que realmente se preocupam com a diminuição da pobreza que assola o mundo atual.

Carmen Augusta Varela
Professora da Fundação Getúlio Vargas de São Paulo (FGV-SP)



VARELA, Carmen Augusta (2009). "Maus samaritanos: o mito do livre-comércio e a história secreta do capitalismo". Revista de Economia Política, vol.29, n.1, pp. 150-152, janeiro-março/2009. <http://www.scielo.br/pdf/rep/v29n1/09.pdf>

quinta-feira, 30 de abril de 2009

Conflito perpétuo no Oriente Médio

Correio da Cidadania
29 de abril de 2009

Conflito perpétuo no Oriente Médio

Thiago Gehre Galvão

http://www.correiocidadania.com.br/content/view/3225/
 
Uma nova crise de violência eclode no conflito entre palestinos e israelenses. Os atos de brutalidade em si são tão marcantes quanto a desproporcionalidade e a irresponsabilidade dos agentes internacionais. A paz perpétua, descrita por Kant, parece inconciliável, mesmo como utopia, com o futuro do Oriente Médio. Neste sentido, nos perguntamos por que, afinal, o conflito no Oriente Médio, assim como o conhecemos, entrou na sua sexta década sem uma solução à vista? Qual a origem da insolubilidade deste conflito?
Origens históricas
O conflito em si é muito antigo e possui raízes históricas para a compreensão de sua atualidade: o papel desempenhado pelas antigas potências coloniais, França e Grã-Bretanha, e pelos Estados Unidos, ao moldar o mapa do Oriente Médio durante as negociações de Paz de Paris em 1919. No jogo das afirmações nacionais e da autodeterminação, contidos no discurso idealista do presidente norte-americano Woodrow Wilson, a Palestina tornou-se exceção no remapeamento do Oriente Médio após a Grande Guerra.
Primeiro, o governo britânico havia se comprometido a estabelecer ali um lar nacional para os judeus e optou por seguir sua promessa com a Declaração de Balfour de 2 de novembro de 1917. Na esteira dos eventos que sacudiam o mundo após a Primeira Guerra e com o desmonte dos Impérios, milhões de judeus tentavam deixar a Rússia e Áustria.
Amparado neste quadro, Chaim Weizmann deu início ao périplo político de criação do Estado de Israel, no final de 1919, apelando ao Conselho Supremo formado pelas potências vencedoras da guerra. O sionismo como luta por uma pátria para os judeus com segurança e dignidade. Outra figura importante era a de Theodor Herzl, jornalista de Viena, que organizou o primeiro congresso sionista e emplacaria a idéia de compra de Uganda pelos ingleses a fim de lá se criar um Estado judeu.
Segundo, os Estados Unidos se abstiveram de implementar a solução preconizada pelo relatório Craig-Kane, encomendado por Wilson para averiguar a real situação das antigas possessões do recém-extinto Império Otomano. O relatório era enfaticamente contrário ao programa sionista e desaconselhava veementemente a criação do Estado judeu. Como aponta o historiador judeu Eric Hobsbawn, "essa seria outra relíquia problemática e não esquecida da Primeira Guerra Mundial".
Em seguida, a invenção do Estado de Israel, em 1948, após a 2ª. Guerra Mundial, ofereceu um "direito de retorno" a qualquer judeu do mundo. O novo Estado vinha sendo moldado desde o fim da Primeira Grande Guerra pela imigração maciça e a recolonização, intensificada como política de Estado após 1948, gerando um Estado judeu com dimensões maiores do que o previsto pela partilha britânica com os aliados de guerra. A resultante direta foi a expulsão de 700 mil palestinos não-judeus e o abandono da idéia de criação de um Estado palestino. Como conseqüência, originam-se os movimentos fundamentalistas de afirmação nacional que alimentaram tanto o terrorismo quanto as crises constantes entre os diferentes atores regionais.
Campanha 2008-2009
Enquanto Israel tornava-se uma potência tecnológica e militar na região, alcançando o poder nuclear na década 1970, os palestinos passaram a viver em uma situação de apartheid e diáspora dentro das fronteiras ampliadas de um Estado de Israel inventado.
Neste processo, a relação especial estabelecida com os EUA foi decisiva para suportar os objetivos de afirmação nacional israelense. Cercado por nações árabes, Israel elege a segurança absoluta como parte de sua grande estratégia de política externa. Na crise atual, o planejamento de longo tempo ficou evidente e se aproveitou das lições aprendidas há dois anos atrás no conflito contra o Hizbollah no Líbano. Assim, a força terrestre seria necessária para garantir a segurança da população israelense que circunda a faixa de Gaza e a aniquilação do poder de fogo do Hamas tornou-se condição sine qua non para a abertura das negociações diplomáticas. Dessa forma, o nível de sucesso da campanha terrestre pode trazer de volta a reocupação de Gaza como um elemento de segurança pretendido como parte dos objetivos israelenses.
As ferozes ações de Israel alimentam um ciclo de violência que perpetuam ações e reações dos grupos armados palestinos. A campanha militar israelense de 2008-2009, que levou a uma crise humanitária e a carnificina de milhares de mortos e feridos, fez com que a população local perdesse gradativamente suas cores políticas. Com isso, uma ação coordenada entre Hamas e Fatah é facilitada e pode levar a uma onda duradoura de terror contra Israel. Ao mesmo tempo, o envolvimento da Síria, do Líbano e do Irã torna-se inevitável tanto para contrabalançar as ações israelenses quanto para preservar a segurança e estabilidade regionais.
Com a operação em Gaza em andamento, a mídia internacional foi responsável por apontar as atrocidades do conflito. Aquilo que não tinha sido mostrado no Afeganistão e no Iraque passou a ser noticiado pelas agências internacionais de comunicação. Imagens e notícias estarrecedoras o suficiente para sensibilizar a opinião pública acerca das barbaridades da guerra. Em contraposição, o governo de Israel viu-se impelido a calibrar seu discurso e garantir a legitimidade de suas ações. A justificativa reside no fato de os israelenses combaterem uma organização terrorista como forma de exercer seu direito de autodefesa. Entretanto, os apelos e discursos, muitas vezes contraditórios, obscurecem o entendimento do conflito e dificultam o acesso às possíveis verdades.
Recorre-se então à memória, mas ela também prega truques: é a memória do longínquo que encontra a memória do recente e com elas residem ressentimento e ódio, perpetuando-se a intolerância e a irresponsabilidade. Destarte, árabes e judeus não podem ser acusados e responsabilizados pela perenidade do conflito no Oriente Médio. A história não permite julgamentos, mas ensina lições que precisam ser aprendidas. A responsabilidade sistêmica de lidar com os problemas estratégicos internacionais urge como eixo da política global do século 21. Precisamos estar cientes que um sistema de spill over negativo afeta toda a sociedade global.
Logo, a persistência da solução de força por parte dos israelenses se junta à reatividade palestina, à relutância norte-americana, à inoperância das Nações Unidas e à incapacidade de britânicos, franceses e da União Européia em resolver por definitivo a situação judaico-palestina. Em suma, as causas da não-solução do conflito no Oriente Médio são múltiplas, complexas e têm origens remotas. Certamente abalam a estabilidade da ordem internacional, mas não podem ser vistas pelo prisma fatalista da inevitabilidade.
Nós fazemos com que o conflito seja perpétuo... Mas não precisa ser assim para sempre!
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Thiago Gehre Galvão é professor do departamento de Relações Internacionais da Universidade Federal de Roraima e doutorando em Relações Internacionais do Instituto de Relações Internacionais da Universidade de Brasília.
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http://www.correiocidadania.com.br/content/view/3225/