quarta-feira, 31 de março de 2010

Mudanças Geopolíticas e o Brasil

Carta Maior
15/03/2010

DEBATE ABERTO

"Mudanças Geopolíticas e o Brasil"

Novas articulações e mudança na geopolítica mundial se fazem necessárias. Mas para repor o poder no lugar de sempre? Para mais mercado aos produtos dos países emergentes ou para outro modo de organizar as economias e as sociedades do mundo?

Na conjuntura eleitoral em que estamos entrando, vai ser importante ver como os diferentes atores se posicionarão diante do quadro externo que se está desenhando e os desafios para o Brasil. Esta pauta ocupa desde já os grandes jornais brasileiros, com foco nas iniciativas e movimentos do Governo Lula. O fato é que a geopolítica em mudança aponta para a necessidade de uma nova arquitetura do poder mundial. O desequilíbrio atual é evidente. Sobretudo com a crise e na crise, vieram à tona os limites e a total incapacidade da estrutura atual de fazer face aos desafios de profunda reorganização da economia e do poder no mundo, globalizado do jeito que foi. É neste contexto que precisamos nos situar como brasileiros e brasileiras, perguntando-nos sobre nós mesmos e o mundo. Dada a interdependência planetária, o tamanho do Brasil em população e território, com um enorme patrimônio natural, nossas propostas e escolhas têm impacto sobre o mundo tanto quanto sobre a nossa realidade doméstica. Podemos escolher, sem dúvida, mas o mundo nos cobra cada vez mais responsabilidade.

Vale a pena lembrar aqui alguns desafios para a humanidade, incontornáveis e urgentes. A ameaça da mudança climática e a incapacidade da estrutura de poder existente em enfrentá-la de forma adequada revela de forma dramática o tamanho do problema que temos diante de nós. As grandes corporações, que controlam as economias e os recursos, afetando o modo como vivemos, sem regulações em sua atuação, são uma espécie de infraestrutura da globalização que nos levou ao estado atual. Seu descontrole exacerba a destruição natural e a desigualdade social no mundo, levando ao extremo o modelo industrial, produtivista e consumista, que está no centro da questão da crise ambiental. O modo como está organizado o poder atualmente é totalmente incapaz para regular as corporações econômicas e financeiras, ainda mais que elas o contaminam e corrompem por dentro. O mundo como está, não consegue dar respostas às demandas de uma emergente cidadania planetária, que define um horizonte civilizatório de todos os direitos para todos os seres humanos, sem exclusões e discriminações.

A exclusão social, a pobreza e a desigualdade social são intrínsecas da lógica que organiza a economia e o mundo atual, feito para gerar e acumular riquezas e não para gestar sociedades sustentáveis e justas. Por isto, o poder que aí esta, com suas raízes presas nas entranhas de um sistema social excludente e ambientalmente destrutivo, não tem capacidade para atender à necessidade de reorganizar as condições de existência, apontando para sociedades sustentáveis, segundo as possibilidades de uso dos recursos naturais e sua regeneração. Para criar as bases de uma biocivilização, fundada na justiça social e ambiental, as mudanças na arquitetura do poder deverão ser profundas. Estamos diante da necessidade de um mundo organizado segundo outra lógica, de interdependência e responsabilidades compartidas, com maior solidariedade e cooperação, com menos homogeneidade e mais diversidade, segundo os ecossistemas e as culturais locais.

Enfim, precisamos de uma estrutura mundial capaz de dar lugar a uma relocalização de economias e poderes para melhor atender ao imperativo da sustentabilidade, da democracia participativa com a vibração da gente do lugar, de uma nova relação com a natureza, com centralidade nos bens comuns de todos e todas. Precisamos enfrentar pobrezas e injustiças, sem dúvida. Mas isto não pode servir de justificativa para destruir as condições de vida no planeta Terra.

Penso que é neste quadro que precisamos situar o debate sobre o Brasil no mundo. Já estamos participando de processos que nos devem fazer pensar. Estamos no G-20, algo melhor que o exclusivista clube fechado do G-8 – uma invenção dos governos dos países mais ricos para contornar as contradições e condicionalidades de uma organização como a ONU, potencialmente mais democrática. Fomos artífices de iniciativas Sul-Sul que tiveram impacto nas negociações comerciais, especialmente na cúpula da OMC, em Cancún. Depois ficou o fórum IBAS – Índia, Brasil e África do Sul. Como parte das negociações climáticas e das novas articulações necessárias, acabamos criando em Copenhagen o BASIC – Brasil, África do Sul, Índia e China. O tal “mercado” propôs e acabou realidade o BRIC – Brasil, Rússia, Índia e China, o grupo das grandes economias emergentes.

Aqui na região, o Brasil tem um papel de destaque na UNASUL – União da América do Sul, uma construção política da própria idéia de região. Mas o Brasil é também a principal força de empuxe do IIRSA - Iniciativa para a Integração da Infraestrutura Regional Sul-Americana e as grandes corporações sob controle acionário de capital brasileiro se multinacionalizam com volúpia para controlar fatias da economia latinoamericana, processo aliás que se estende para a África. Enquanto isto, do ponto de vista econômico, a presença brasileira no mercado mundial é cada vez mais via produtos primários, produtos que tem a natureza como seu componente principal. Enquanto o mundo discute formas de destruir menos, nós vamos fundo no extrativismo dos bens comuns naturais!

Afinal, o que significa isto tudo? Que Brasil emerge nestes processos? Um tal papel é o que mundo precisa dados os desafios que assinalei acima? Novas articulações e mudança na geopolítica mundial se fazem necessárias. Mas para repor o poder no lugar de sempre? Para mais mercado aos produtos dos países emergentes ou para outro modo de organizar as economias e as sociedades do mundo? Para fazer o que até aqui foi exclusividade dos países industrialmente ricos, imperialistas e ex-potências coloniais? Ou para mais solidariedade nas relações entre povos e sustentabilidade da vida no planeta, com sociedades baseadas nos princípios de equidade, justiça social, respeito à diversidade, participação social e uso sustentável dos recursos naturais? Espero que um tal debate tenha lugar na conjuntura eleitoral e nós, cidadãs e cidadãos, tenhamos visão do alcance mundial da escolha que fizermos.

Cândido Grzybowski, sociólogo, é diretor do Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas (Ibase).
 

sábado, 27 de março de 2010

Navio da Marinha sul-coreana afunda perto da Coreia do Norte


BBC Brasil

26/03/2010

Navio da Marinha sul-coreana afunda perto da Coreia do Norte


Mais de 100 marinheiros estavam a bordo do navio sul-coreano.


Cerca de 40 marinheiros estão desaparecidos após o naufrágio de um navio da Marinha sul-coreana nas proximidades da fronteira com a Coreia do Norte nesta sexta-feira, de acordo com a agência de notícias da Coreia do Sul, Yonhap.

O navio com 104 pessoas a bordo afundou após uma explosão inesperada. Vários marinheiros morreram, de acordo com oficiais militares citados pela agência.

Mergulhadores devem retomar as operações de resgate após o amanhecer do sábado.

O governo sul-coreano negou relatos iniciais de que o naufrágio ocorreu por causa de um ataque da Coreia do Norte, dizendo que não há sinais de navios norte-coreanos na área.

O presidente da Coreia do Sul disse que os militares devem priorizar as operações de resgate dos marinheiros.

Foram resgatados 58 marinheiros nas proximidades da ilha de Baengnyeong.

Relações tensas

A relação entre as duas Coreias atravessa um momento de tensão. As negociações internacionais para impedir que o país adquira armas nucleares parecem paralisadas há meses.

Em janeiro e fevereiro ocorreram vários incidentes, sem deixar vítimas, nas águas disputadas pelos dois países.

Ocorreram confrontos navais com mortos entre 1999 e 2002. O último ocorreu em 2009, quando um choque incendiou um barco norte-coreano e matou um marinheiro do país comunista.

A Coreia do Sul afirma que na ocasião o navio violou os limites territoriais, alegação negada pela Coreia do Norte.

Os sul-coreanos reconhecem um limite estabelecido unilateralmente pela coalizão liderada pelos EUA para demarcar a fronteira entre os dois países ao final da guerra coreana de 1950-53. O limite nunca foi reconhecido pela Coreia do Norte.

http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2010/03/100326_naviocoreiasulfn.shtml

terça-feira, 23 de março de 2010

Crise EUA-Israel: A Arma do Juízo Final

 
A arma do juízo final

Não há pior pesadelo para os judeus norte-americanos do que serem acusados de pôr a segurança de Israel acima da segurança dos EUA. Se Obama decidir reagir e ativar sua arma do juízo final – a acusação de que Israel põe em risco a vida de soldados dos EUA – as consequências serão catastróficas para Israel.

Já é lugar comum que, quem não aprende com a história, está condenado a repetir erros.

Há 1942 anos, os judeus revoltaram-se contra o Império Romano na província chamada Palestina. Considerado em retrospectiva, parece loucura. A Palestina era parte pequena e insignificante do império planetário que acabava de impor uma derrota acachapante ao poder rival – o Império dos Partos (a Pérsia) – e vencera também uma grande rebelião na Britânia. Que chances teria a revolta dos judeus?

Sabe Deus o que passaria pela cabeça dos Zelotes. Mataram os líderes moderados, que alertavam contra provocar o império, e ganharam prestígio entre a população judaica local. Confiavam em Deus. Talvez confiassem também nos judeus de Roma e acreditassem que a influência deles sobre o Senado conseguiria segurar o imperador, Nero. Talvez tivessem ouvido dizer que Nero estava enfraquecido, a beira de ser derrubado.

Sabe-se como acabou: depois de três anos de luta, os rebeldes foram esmagados, Jerusalém caiu e o templo foi reduzido a cinzas. Os últimos Zelotes suicidaram-se, em Massada.

Os sionistas bem que tentaram aprender com a história. Agiram de modo racional, não provocaram as grandes potências, trabalharam para obter o que fosse possível em cada caso. Fizeram concessões e cada concessão serviu-lhe de base para andar adiante. Inteligentemente usaram o radicalismo de seus adversários e conquistaram a simpatia do mundo.

Mas desde o início da ocupação, a mente dos sionistas parece mergulhada em trevas. O culto de Massada tornou-se dominante. Promessas divinas voltam a desempenhar função importante no discurso público em Israel. Partes significativas do público seguem hoje os novos zelotes.

E a fase seguinte também já começa a repetir-se: os líderes de Israel estão começando a rebelar-se contra a nova Roma.

O que começou como insulto ao vice-presidente dos EUA já se converte agora em algo muito maior. O camundongo pariu um elefante.

Nos últimos tempos, o governo de ultra direita em Jerusalém começou a tratar o presidente Obama com mal disfarçado desprezo. Os medos que ainda havia em Jerusalém no começo de seu governo dissiparam-se. Para eles, Obama é uma pantera negra de papel. Até desistiu de exigir verdadeiro congelamento das construções nas colônias. Cada vez que lhe cuspiram na cara, Obama comentou que começava a chover.

Agora, ostensivamente de repente, a paciência esgotou-se. Obama, seu vice-presidente e seus principais assessores condenam, cada dia com mais severidade, o governo de Netanyahu. A secretária de Estado Hillary Clinton impôs um ultimato: Netanyahu tem de por fim a toda e qualquer construção nas colônias, também em Jerusalém Leste; tem de começar a negociar os problemas centrais do conflito, inclusive Jerusalém Leste, e mais.

Surpresa total em Israel. Foi como se Obama cruzasse o Rubicão, quase como o exército egípcio cruzou o canal de Suez em 1973. Netanyahu deu ordem para mobilizar todas as reservas de Israel nos EUA e avançar todos os blindados diplomáticos. Todas as organizações de judeus nos EUA receberam ordens de unir-se à campanha. O AIPAC fez soar as cornetas de chifre de carneiro e ordenou que seus soldados, no Senado e na Câmara, atacassem a Casa Branca.

Parecia que ia começar a batalha decisiva. Os líderes israelenses tinham certeza de que derrotariam Obama. Mas então, de repente, ouviu-se um som estranho: o som da arma do juízo final. O homem que decidiu ativá-la é inimigo de novo tipo, que ainda não se vira em Israel.

David Petraeus é o oficial mais popular do exército dos EUA. General de quatro estrelas, filho de um capitão do mar holandês que emigrou para os EUA quando seu país foi ocupado pelos nazistas e lá viveu toda a vida, desde a infância. Foi “distinguished cadet” na academia militar de West Point e primeiro colocado na Escola de Alto Comando do Exército. Como comandante em combate, só colheu elogios. Escreveu sua tese de doutoramento (sobre as lições do Vietnã) em Princeton e trabalhou como professor-assistente na cátedra de Relações Internacionais na Academia Militar dos EUA.

No Iraque, comandou as forças em Mossul, a cidade mais problemática de todo o país. Concluiu que, para derrotar aqueles inimigos, os EUA tinham de conquistar corações e mentes da população civil, ganhar aliados locais e gastar mais dinheiro que munição. A população local conhecia-o como “Rei David”. Seu sucesso foi considerado tão significativo, que seus métodos incorporaram-se à doutrina oficial do exército dos EUA.

Sua estrela ascendeu rapidamente. Foi nomeado comandante das forças da coalizão no Iraque e logo se tornou chefe do Comando Central do exército dos EUA, que cobre todo o Oriente Médio exceto Israel e Palestina (os quais ‘pertencem’ ao comando norte-americano na Europa).

Quando Petraeus fala, o povo dos EUA ouve. Como pensador de questões militares, não tem rivais.

Essa semana, Petraeus enviou mensagem claríssima: depois de examinar os problemas de sua Área de Responsabilidade [ing. Area Of Responsibility, AOR] – que inclui, além de outros setores, o Afeganistão, o Paquistão, o Irã, o Iraque e o Iêmen – chegou ao que chamou de “causas de raiz da instabilidade” na região. O primeiro item dessa lista é o conflito Israel-Palestina.

No relatório que Petraeus encaminhou ao Comitê das Forças Armadas, lê-se:

“As intermináveis hostilidades entre Israel e alguns de seus vizinhos implicam desafios específicos à nossa habilidade para obter avanço no rumo de nossos interesses na AOR. (...) O conflito fomenta o sentimento anti-norte-americano, porque se percebe que os EUA favorecem Israel. A fúria dos árabes motivada pela questão palestina limita a força e a profundidade das parcerias que os EUA construam com governos e povos na AOR e enfraquece a legitimidade de regimes moderados no mundo árabe. Simultaneamente, al-Qaeda e outros grupos militantes exploram essa fúria e assim mobilizam apoios. O conflito [Israel-Palestina] também faz crescer a influência do Irã no mundo árabe, mediante seus clientes, o Hizbollah libanês e o Hamás.”

Como se não bastasse, Petraeus enviou seus oficiais para que apresentasse essas conclusões ao Conselho dos Comandantes do Estado-Maior.

Em outras palavras: a paz entre palestinos e israelenses não é questão específica de dois grupos, mas assunto que envolve o superior interesse nacional dos EUA. Isso significa que os EUA têm de alterar o apoio cego que tem dado ao governo israelense e deve impor a Solução de Dois Estados.

O argumento, como tal, não é novo. Muitos especialistas já disseram aproximadamente a mesma coisa. (Imediatamente depois dos ataques de 11/9, escrevi também nessa direção e previ que os EUA teriam de mudar suas políticas. Daquela vez, nada aconteceu.) Mas agora, a mesma ideia aparece em documento oficial redigido pelo comandante norte-americano responsável.

O governo Netanyahu imediatamente entrou em modo de redução de danos. Os porta-vozes disseram que Petraeus tenta impor sua visão estreita; que nada entende de questões políticas; que o argumento é falho. Nem por isso conseguiram impedir que, em Jerusalém, muitos começassem a suar frio.

Todos sabemos que o lobby pró-Israel domina sem limites o sistema político nos EUA. Isso, ou quase isso. Todos os políticos e altos funcionários norte-americanos morrem de medo dele. O menor desvio do roteiro prescrito pelo AIPAC, implica suicídio político.

Mas há um ponto fraco na armadura desse Golias político. Como Aquiles no calcanhar, esse descomunal lobby pró-Israel tem um ponto vulnerável o qual, se atingido, pode neutralizar todo o seu poder.

Boa ilustração desse fenômeno é o caso Jonathan Pollard (relacionados a eventos ocorridos em 1983-1984). Esse judeu-norte-americano era empregado de uma importante agência de serviços de inteligência e espionava para Israel. Para os israelenses, era herói nacional, um judeu que cumpria seus deveres de judeu. Mas para a comunidade de inteligência dos EUA, não passava de um traidor que pôs em risco a vida de vários agentes norte-americanos. Não satisfeitos com as penalidades de rotina, os EUA induziram a corte de justiça a condená-lo à morte [1]. Desde então, todos os presidentes dos EUA têm recusado os repetidos pedidos do governo de Israel para que a sentença seja comutada. Até agora, nenhum presidente norte-americano atreveu-se a confrontar os altos setores da inteligência dos EUA, para os quais Pollard é criminoso e merece a sentença de morte.

O aspecto mais significativo desse caso faz lembrar o famoso comentário de Sherlock Holmes, sobre cachorros que não latiram certa noite. No caso Pollard, o AIPAC não latiu. Silêncio. Toda a comunidade dos judeus norte-americanos manteve-se (e assim continua até hoje, 25 anos depois!) calada. O AIPAC jamais defendeu Pollard.

Por quê? Porque a maioria dos judeus norte-americanos está sempre disposta a fazer absolutamente tudo – tudo! – pelo governo de Israel. Com uma única exceção: jamais farão coisa alguma que dê a impressão de ferir a segurança dos EUA. Basta que suba a bandeira da segurança, e todos os judeus, como todos os norte-americanos, perfilam-se e batem continência. A espada de Dâmocles da suspeita de deslealdade pende sobre as cabeças dos judeus norte-americanos. Não há pior pesadelo para eles do que serem acusados de pôr a segurança de Israel acima da segurança dos EUA. Exatamente por isso, é vitalmente importante para os judeus norte-americanos repetirem eternamente, sem descanso, o mantra que reza que os interesses de Israel são idênticos aos interesses dos EUA.

E então, agora, aparece o mais importante general do exército dos EUA e diz que não está sendo bem assim. Que, hoje, a política do atual governo de Israel está, sim, fazendo aumentar o risco de vida que os soldados norte-americanos enfrentam no Iraque e no Afeganistão.

Por enquanto, o assunto tem aparecido só marginalmente, em comentários de especialistas e não está, ainda, na grande mídia. Mas a espada já saiu da bainha – e os judeus norte-americanos já tremem, hoje, só de ouvir o rugido ainda distante desse terremoto.

Essa semana, um cunhado de Netanyahu usou a versão israelense de nossa arma do juízo final. Declarou que Obama seria “antissemita”. O jornal oficial do partido Shas garante que Obama, de fato, é muçulmano. Representam a direita radical e seus aliados; já escreveram que “Hussein Obama, negro que odeia judeus, tem de ser derrotado nas próximas eleições parlamentares e, depois, na próxima eleição presidencial.”

(Importante pesquisa feita em Israel e publicada ontem mostra que os israelenses não acreditam nessas insinuações: a vasta maioria entende que Obama dá tratamento justo a Israel. De fato, os números de aprovação de Obama são mais altos que os de Netanyahu.)

Mas se Obama decidir reagir e ativar sua arma do juízo final – a acusação de que Israel põe em risco a vida dos soldados dos EUA – as consequências serão catastróficas para Israel.

Por hora, parece ter sido disparado um tiro que os destróiers dão para ‘acordar’ a marujada e sinalizar para que outro navio faça o que foi instruído a fazer. O aviso é bem claro. Ainda que a crise atual amaine, não há dúvida de que voltará a incendiar-se outras e outras vezes, enquanto perdurar no poder, em Israel, a atual coalizão de governo.

Quando o filme Hurt Locker foi premiado no concurso Oscar-2010, todo o público norte-americano estava unido na preocupação com a vida dos seus soldados no Oriente Médio. Se esse público convencer-se de que Israel o está apunhalando pelas costas, será desastre completo para Netanyahu. E não só para ele.

Nota
[1] Para conhecer esse lado da história, ver “Why Pollard Should Never Be Released (The Traitor)”, The New Yorker Magazine, 18/1/1999, pp. 26-33, em http://www.freerepublic.com/focus/fr/576453/posts .

A defesa de Pollard está claramente exposta em http://www.jonathanpollard.org/ 


Uri Avnery  é jornalista, membro fundador do Gush Shalom (Bloco da Paz israelense).


Tradução: Caia Fitipaldi


O artigo original, em inglês, foi publicado em 20/03/2010 no site israelense Gush Shalom (Bloco da Paz):
http://zope.gush-shalom.org/home/en/channels/avnery/1269137362



Acessado no site da Carta Maior:    http://cartamaior.com.br/

domingo, 21 de março de 2010

Presidente Lula no Oriente Médio: Israel e Palestina

Entrevista com o Ministro de Relações Exteriores do Brasil, Celso Amorim

(março/2010)

"O Brasil inspira confiança no mundo" 





PRESIDENTE LULA DEFENDE ESTADO PALESTINO NO PARLAMENTO ISRAELENSE.

 

 

"A solução dos conflitos no Oriente Médio" (março/2010)



 

 

 

Discurso do Presidente Lula em novembro de 2009:

"Não haverá paz no Oriente Médio sem concessões difíceis"

 


Presidente Lula afirma que é preciso diálogo para estabelecer a paz no Oriente Médio (nov/2009)


Entrevista do Chanceler Celso Amorim à CNN em Espanhol

sábado, 20 de março de 2010

Política Externa: Ministro de Relações Exteriores Celso Amorim fala sobre a Política Externa do Brasil nos últimos 7 anos

O Ministro de Relações Exteriores, Celso Amorim, explica o sucesso da Política Externa brasileira na primeira década dos anos 2000:




Programa "7 anos em 7 minutos" da TVNBR.

Destaque para a Estratégia brasileira de intensificar os laços de cooperação Sul-Sul, principalmente voltado para a integração regional sul-americana. Destaque também dado à relação com o continente africano, países árabes, o IBAS e os países do BRIC.

sexta-feira, 19 de março de 2010

Entenda a polêmica sobre a distribuição dos royalties do petróleo

BBC Brasil
18/03/2010

Entenda a polêmica sobre a distribuição dos royalties do petróleo

Fabrícia Peixoto
Da BBC Brasil em Brasília
-
http://www.bbc.co.uk/
-
Plataforma P-34, da Petrobras
Governo anuncia nesta segunda regras para exploração do pré-sal
-
A aprovação pela Câmara dos Deputados de uma emenda ao projeto de lei que muda as regras de distribuição dos royalties do petróleo colocou o governo federal, Estados e municípios diante de uma polêmica envolvendo disputas políticas e interesses regionais.

Na semana passada, os deputados decidiram que os royalties - espécie de compensação financeira paga pelos exploradores - devem ser distribuídos de forma igualitária entre todos os Estados e municípios do país.
A decisão muda a regra atual, em que Estados e municípios produtores recebem uma parcela maior dos royalties pagos pelas empresas.

A emenda aprovada pela Câmara será ainda encaminhada ao Senado, mas a decisão entre os deputados já foi suficiente para deflagrar a polêmica sobre quem deve receber a verba gerada com a exploração do petróleo.

Entenda o debate.

O que são royalties e como são cobrados?

De modo geral, royalty é um valor cobrado pelo proprietário de uma patente ou ainda por uma pessoa ou empresa que detém o direito exclusivo sobre determinado produto ou serviço.

No caso do petróleo, os royalties são cobrados das concessionárias que exploram a matéria-prima, de acordo com sua quantidade, e o valor arrecadado fica com o poder público.

De acordo com a legislação brasileira, Estados e municípios produtores – além da União – têm direito à maioria absoluta dos royalties do petróleo. A divisão atual é de 40% para a União, 22,5% para Estados e 30% para os municípios produtores. Os 7,5% restantes são distribuidos para todos os municípios e Estados da federação.

A justificativa para essa divisão é de que os royalties são uma espécie de compensação às administrações locais, pelo fato de o recurso ser finito. Além disso, essas localidades em tese têm mais gastos com infraestrutura e prevenção de acidentes, por exemplo.

Segundo a Agência Nacional do Petrólo (ANP), o Brasil arrecadou R$ 7,9 bilhões em royalties no ano passado.
Por que a distribuição de royalties voltou ao centro da discussão?

Com a descoberta da camada pré-sal, o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva passou a defender novas regras para a exploração do petróleo no país.

Um dos argumentos é de que as empresas terão acesso a reservas de alto potencial e com risco exploratório perto de zero – o que justificaria um novo marco regulatório.

Foi nesse contexto que o presidente Lula apresentou, em agosto do ano passado, quatro projetos de lei propondo mudanças no setor, sendo um deles na distribuição dos royalties.

O governo Lula, que chegou a defender a distribuição igualitária dos royalties, voltou atrás diante da pressão dos Estados produtores e passou a defender um tratamento diferenciado para essas administrações.

Mas os deputados não aceitaram a proposta e aprovaram uma emenda, apresentada pelos deputados Ibsen Pinheiro (PMDB-RS), Humberto Souto (PPS-RS) e Marcelo Castro (PMDB-PI), que prevê a distribuição dos royalties do pré-sal para todos os Estados da federação.

A divisão aprovada na Câmara por 369 votos a favor e 72 contrários é de que 30% dos royalties sejam destinados aos Estados, 30% aos municípios e 40% à União, sem tratamento diferenciado para os produtores.

A chamada “emenda Ibsen” foi além da camada pré-sal e estendeu a nova distribuição de royalties também às bacias tradicionais, incluindo as já licitadas.

Cálculos apresentados pelo deputado Humberto Souto mostram que o Estado do Piauí, por exemplo, poderá receber R$ 317 milhões em royalties ainda este ano, enquanto o Rio de Janeiro, maior Estado produtor, ficaria com cerca de R$ 200 milhões.

Quais são os argumentos a favor da nova distribuição?

O principal argumento dos parlamentares favoráveis à mudança das regras é de que o petróleo pertence “a todo o país”, o que justificaria uma distribuição igualitária dos royalties.

Segundo o deputado Marcelo Castro, “não interessa que a exploração seja feita de frente para o Rio de Janeiro”. Para ele, é preciso usar o petróleo para fazer “justiça social” e “reduzir desquilíbrios” regionais.
Na avaliação do deputado Ibsen Pinheiro, a exploração do petróleo é feita no mar, não havendo, segundo ele, possibilidade de danos para Estados e municípios produtores.

Ainda de acordo com o deputado, não seria “justo” privilegiar dois Estados e “prejudicar” 25. Em entrevista ao site G1, Ibsen disse que os Estados produtores “têm, no máximo, vista para o mar, que é muito privilegiada”.

Os defensores da distribuição igualitária dizem também que todos os Estados acabam pagando, por meio da União, pelas pesquisas da Petrobras e pelos testes nos poços – e por isso devem ser beneficiado com royalties.

“Essa matéria tem fundamento jurídico, fundamento moral e maioria. Nada justifica a desigualdade”, disse Ibsen, durante a votação da emenda.

Ainda de acordo com o deputado, “é justo que o petróleo pertença a todos os brasileiros, pois todos somos iguais perante a lei”. O deputado Fernando Coruja (PPS-SC) acrescentou que a regra “inverte a concentração de recursos”, permitindo que os municípios com menos dinheiro “participem da riqueza do petróleo”.

O que dizem os Estados e municípios produtores?

A emenda Ibsen tem sido fortemente criticada pelas lideranças do Rio de Janeiro e do Espírito Santo, que descreveram a medida como “covardia”. O governador do Rio, Sergio Cabral Filho, chegou a chorar em público ao comentar a decisão da Câmara.

Segundo ele, os deputados que votaram a favor da emenda esperando algum “benefício eleitoral” em seu Estado estão “equivocados”. Sua avaliação é de que a população brasileira será “solidária” ao Rio.

De acordo com cálculos apresentados pelo deputado Otávio Leite (PSDB-RJ), a arrecadação do Estado do Rio de Janeiro com royalties do petróleo cairia de R$ 5 bilhões para cerca de R$ 100 milhões.

O governador do Rio disse que a perda de receita afetará as obras para os Jogos Olímpicos de 2016 e convocou a população para uma caminhada no centro da cidade, na quarta-feira.

Representantes dos Estados produtores veem ainda “falhas jurídicas” na emenda, por mudar as regras de contratos já firmados, no caso dos poços que já foram licitados.

“Campos já licitados, já leiloados, não podem ter as regras mudadas, porque isso fere os princípios jurídicos, muda cláusulas de situações já consagradas”, disse o senador Francisco Dornelles (PP-RJ).

Existe a possibilidade de um acordo?

A aprovação da emenda Ibsen criou um embate entre os Estados da federação, com Rio de Janeiro e Espírito Santo de um lado, e as outras 25 unidades do outro.

Diante da disputa regional, lideranças do governo Lula tentam agora costurar uma nova proposta antes que a matéria seja votada no Senado.

Uma das alternativas apresentadas pelo deputado Ibsen Pinheiro é de que a União use sua cota na distribuição dos royalties para compensar pelo menos parte das perdas nos Estados e municípios produtores.
Segundo o deputado, os prejudicados poderão ser compensados pela União até que a produção de petróleo atinja níveis que garantam os atuais patamares de remuneração.

No entanto, o senador Romero Jucá (PMDB-RR), líder do governo na Casa rebateu essa possibilidade.
A ideia do governo, agora, é elaborar um projeto de lei específico sobre a questão dos royalties. Dessa forma, a matéria poderia ser apreciada normalmente (sem o pedido de urgência), o que daria tempo para que o assunto seja melhor discutido.

Caso os senadores mantenham a emenda que redistribui os royalties, o presidente Lula poderá vetá-la ou não. A partir daí o veto presidencial terá de ser votado por deputados e senadores, em sessão conjunta.

Quais são as implicações eleitorais do debate?
A discussão sobre os royalties do petróleo tem um forte apelo eleitoral, com potencial de desgaste tanto para governo como para a oposição.

No caso do governo, esse potencial tende a ser maior, já que o presidente Lula está diretamente envolvido no debate, podendo vetar ou não a decisão do Senado.

Se os senadores concordarem com a redistribuição dos royalties, o presidente Lula terá de decidir se fica do lado dos dois Estados produtores ou do restante do país.

“Seria um decisão desgastante em meio à campanha da ministra Dilma Roussef”, diz um deputado da base aliada ao governo, referindo-se à pré-candidata do PT ao Palácio do Planalto.

O assunto também é visto com receio pela oposição, que teme se indispor com o restante do país em pleno ano eleitoral.

O governador de São Paulo e possível candidato à Presidência, José Serra, tem evitado criticar de forma mais contundente a emenda Ibsen, mesmo estando à frente de um dos três Estados produtores de petróleo.
Serra disse nesta quarta-feira que distruibir os benefícios do petróleo para todo o Brasil é uma “preocupação correta”, mas que o projeto, do jeito que está, é “inaceitável”.

A avaliação de um deputado da oposição é de que o governador está prestes a oficializar sua pré-canditura à Presidência e que “comprar briga” com o restante do país “teria um alto custo”.
-
http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2010/03/100317_royalties_entenda_fa_np.shtml
 
 
 
 
 
Do Blog Diário do Pré-Sal 

Geopolítica do Atlântico Sul: Petróleo nas Malvinas amplia disputa entre Inglaterra e Argentina

Publicado no jornal online "Pare o Trem".

Março de 2010


Geopolítica do Atlântico Sul: Petróleo nas Malvinas amplia disputa entre Inglaterra e Argentina

 

Lucas Kerr de Oliveira



As Malvinas e a "Passagem de Drake"  entre o Atlântico Sul e o Pacífico Sul
A atual crise nas Malvinas é apenas mais um capítulo de uma longa disputa entre Argentina e Inglaterra pela posse destas ilhas de  localização estratégica e com recursos petrolíferos ainda por serem mapeados.
A disputa remonta ao século XIX, quando a Inglaterra invadiu e anexou as ilhas. A Inglaterra, que já era a maior potência naval do mundo, considerava as ilhas importantes como base para a Royal Navy pois sua localização permitia vigiar facilmente a única passagem existente entre o Atlântico Sul e o Pacífico - a "Passagem de Drake", entre  a América do Sul e a Antártida.
A utilidade da ilha foi comprovada durante a I Guerra Mundial, quando sua posse deu grande vantagem à Royal Navy da inglaterra, na luta contra Kaiserliche Marine, a marinha imperial da Alemanha, durante o episódio que ficou conhecido como "Batalha das Falklands", em dezembro de 1914.


Antártida Britânica: reivindicação territorial da Inglaterra na Antártida
Posteriormente a posse das Malvinas e outras ilhas do Atlântico Sul seriam usadas como justificativa para tentar legitimar reivindicações territoriais do Reino Unido sobre territórios na Antártida. Embora reivindicações desta natureza tenham sido suspensas (ao menos por enquanto) pelo Tratado da Antártida de 1959, continuavam interessantes para o futuro. Isto porque, para a Inglaterra, manter a posse das ilhas significava (e talvez ainda tenha este significado), a perspectiva futura de voltar a reivindicar territórios na Antártida quando a vigência do tratado se encerrar, e possivelmente, este continente puder vir a ser ocupado para fins econômicos.


Malvinas: Zona Econômica Exclusiva (ZEE)  da Inglaterra
Não bastassem estes aspectos estratégicos, somaram-se fortes interesses econômicos imediatos pela posse de uma grande área marítima de 200 milhas no entorno das ilhas, o chamado mar patrimonial ou Zona Econômica Exclusiva (ZEE). Nesta área a Inglaterra tem exclusividade para a exploração de recursos naturais como a pesca, o turismo ou a extração de petróleo e gás natural.
A perspectiva da exploração petrolífera se ampliou nos anos 1970, quando foram encontrados os primeiros indícios de petróleo na região. Entretanto, ainda eram reservas petrolíferas de difícil acesso, e o preço do barril do petróleo no iníciodos anos 1970 não passava dos US$ 2,00 ou 3,00. Foram necessárias duas crises do petróleo nos anos 1970  para mudar radicalmente este quadro.
A conjuntura da  Guerra das Malvinas em 1982 

Tropas inglesas nas Malvinas
A Guerra das Malvinas, em 1982, ocorreu após quase uma década de crise petrolífera mundial, quando o mundo sofrera as consequências da crise petrolífera de 1973 e voltara a sentir os duros efeitos do aumento repentino do preço do petróleo, na crise de 1979-1980. Esta crise foi resultante da Revolução no Irã (1979) e da subsequente eclosão da Guerra Irã-Iraque (1980).  Os preços do barril tiveram um pico de mais de US$ 40,00 em 1981-1982, e no ano seguinte estavam na faixa dos US$ 30,00/barril.

Isto contribuiu para que a Inglaterra decidisse travar uma guerra de grandes proporções com a Argentina, deslocando cruzadores, porta-aviões, bombardeiros estratégicos, submarinos nucleares  e milhares de soldados para o Atlântico Sul.  Margareth Tatcher teria, inclusive, ordenado o deslocamento de armas nucleares táticas para o cenário da conflagração. Como as armas nucleares inglesas eram, na prática, americanas, ficou subentendida a aprovação dos EUA, que na pior das hipóteses fizeram "vista grossa". Quando questionada na Europa a razão de tal atitude, a Inglaterra teria argumentado que deslocava estas armas para o Atlântico Sul porque não sabia se a Argentina também não tinha armas nucleares, já que tinha um programa nuclear secreto.
 
Após a curta retomada das Malvinas pela Argentina, a União Européia - na época Mercado Comum Europeu -, iniciou um embargo comercial à Argentina, que incluiu tanto o bloqueio da importação de produtos argentinos como carne e trigo, como restrições para a exportação de determinados produtos, como armas, à Argentina. Em meio a uma batalha naval, a Argentina se viu impedidia de adquirir novos mísseis anti-navio, que o país não fabricava e dependia de fornecedores membros da OTAN.

Consequências da  Guerra das Malvinas e a conjuntura dos anos 1980 e 1990 

As consequências imediatas da guerra todos conhecemos e são sempre lembradas pela mídia: acelerou o declínio da ditadura militar na Argentina, que colapsou em seguida.

Soldados argentinos nas Malvinas em 1982

O Tratado Interamericano de Assistência Recíproca (TIAR) passou a ser considerado "letra morta" por muitos países latino-americanos, pois os Estados Unidos deixara claro que um membro da OTAN era muito mais importante do que um membro do TIAR. Até mesmo o México, país membro do NAFTA, acabaria por denunciar o tratado anos depois. Outras consequências foram ainda mais profundas, para o bem e para o mal, algumas das quais perduraram por muito tempo.
 
O receio de que os países da região se tornassem alvo das potências nucleares também mobilizou esforços da parte da diplomacia brasileira em favor da criação da Zona de Paz e Cooperação do Atlântico Sul, visando declarar o Atlântico Sul uma zona desnuclearizada. Embora ainda não tenha resultado em avanços maiores, o tratado da ZPCAS ou ZoPaCAS, pode ser considerado a semente para uma futura organização regional que ajude a preservar um futuro de paz para a região.
 
O principal resultado positivo da guerra foi, se dúvida, a aproximação entre Brasil e Argentina. O Brasil, desde o início, se declarou favorável às reivindicações argentinas. Durante a guerra, o Brasil teria fornecido aviões-patrulha para ajudar a patrulhar as águas territoriais argentinas, o que na prática permitiu liberar mais aeronaves argentinas para atuarem no cenário do conflito.  O Brasil também dificultou a passagem de equipamento militar inglês rumo ás Malvinas. Como o Chile, tradicional rival da Argentina, forneceu apoio indireto e informações aos ingleses, o Brasil passou a ser visto como aliado na região.

Rumo ao Mercosul: Raúl Alfonsin, da Argentina,    José Sarney, do Brasil,  e Julio Maria Sanguinetti, do Uruguai (à direita)

Com o embargo europeu aos produtos argentinos, o Brasil passou a comprar grandes quantidades de  carne, trigo e outros produtos produzidos por aquele país. O processo de aproximação  resultou em novos tratados, inclusive em um acordo nuclear bilateral, para fins pacíficos; passo fundamental para acabar com as desconfianças mútuas no plano político-militar. Este tratado ocorreu no contexto em que foram assinados uma série de tratados bilaterais no período dos Presidentes Sarney e Alfonsín. Estes tratados acabariam por resultar na criação do Mercosul.
 
Entretanto, na sequência, o acordo de cooperação nuclear para fins pacíficos entre Brasil e Argentina foi relegado ao segundo plano. Nunca foi criada uma empresa binacional de energia atômica e os investimentos necessários para tal empreendimento nunca foram viabilizados. Sem cooperação de verdade, os dois países continuaram relativamente dependentes de tecnologias estrangeiras, de alto custo mas estratégicas para a manutenção de suas usinas nucleares ou para a construção de novas usinas.

 Na prática os programas nucleares da Argentina e do Brasil foram paralisados nos anos 1990 devido ao corte de verbas para a área militar ou para áreas civis estratégicas, durante os governos neoliberais. Isto significou o fechamento ou atraso no desenvolvimento de uma série de tecnologias estratégicas de uso dual, como as áreas nuclear e aeroespacial, ou no setor de informática e computação, setores que representam grande peso na balança comercial destes países até hoje.
Como parte deste processo, nos anos 1980 a 1990, a indústria de defesa dos dois países foi desmontada, o que colaborou para encerrar todo um ciclo de desenvolvimento tecnológico autônomo que os dois países vinham tentando desenvolver ao longo do século XX.
 
No auge do ufanismo neoliberal dos anos 1990, muitos defenderam que o Brasil não precisaria mais ter Forças Armadas, pois o mundo pós-Guerra Fria seria pacífico e o país não teria inimigos. Bastava ser um país pacífico, não fazer mal a ninguém e ninguém faria mal ao Brasil. No maximo , diziam, o país deveria manter uma parte do exército, mas apenas para usar como força de polícia especial, de forma esporádica ou ocasional, como, por exemplo, para ocupar favelas no Rio de Janeiro. O resultado foi que muitos aceitaram este discurso liberal.: o país "desmontou" grande parte da sua capacidade defensiva, acreditando em um período de "paz e prosperidade" sob a hegemonia dos EUA. Além disso, foi desmontada  uma capacidade industrial já instalada em setores de alta tecnologia, que envolviam tecnologias de uso dual, muitas  ds quais o país levara anos para desenvolver em escala laboratorial, mas que nunca foram transformadas em produtos ou serviços que, finalmente, pudessem ajudar o povo brasileiro.

Conflitos em zonas petrolíferas e as mudanças na geopolítica do petróleo

Guerra do Golfo - 1991: Poços  petrolíferos queimam em  meio ao cenário de guerra

Entretanto, o mundo mudou rapidamente e o Brasil, mais uma vez, saiu perdendo. O mundo não entrou em uma era de paz kantina. O Sistema Internacional tem se mostrado progressivamente instável, na medida em que as grandes potências continuam dispostas a defender seus interesses, se necessário, por meio da força contra os mais fracos.

A instabilidade política tornou-se crescente no mundo, especialmente em regiões disputadas entre as grandes potências.


Oleoduto na Nigéria atacado  por insurgentes separatistas
Essa instabilidade progressiva ficou mais clara em zonas petrolíferas, onde uma proliferaram infinidade de conflitos armados, guerras civis, separatismo, terrorismo e todo tipo de  insurgência armada, inclusive com a consolidação de "senhores da guerra" em países onde o Estado foi destroçado. Além disso, voltaram à cena internacional as guerras de ocupação proto-colonial, como no Iraque. Tornaram-se ainda mais claras as novas disputas internacionais pelo controle de reservas de recursos petrolíferos ou gasíferos, ao ponto de se estabelecer uma clara disputa estratégica pelo controle das rotas de passagem ou escoamento destes recursos através de oleodutos ou gasodutos.
Ao invés de tornarem-se excessão, as guerras e a instabilidade parecem ser a regra em regiões ricas em recursos naturais estratégicas mas sem Estados capazes de defender sua soberania política ou a cidadania de sua população.
É preciso planejamento para evitar que o Brasil seja afetado pelo conjunto de problemas que se convencionou chamar de "maldição do petróleo", incluindo desde os problemas do câmbio sobrevalorizado, o chamado "Mal Holandês", até os inúmeros tipos de conflitos armados em zonas petrolíferas. Para isso, é muito importante que as decisões políticas envolvendo a exploração petrolífera sejam transparentes, envolvam debates com toda a sociedade.  Afinal, as decisões que o Brasil tomar hoje sobre os rumos da exploração petrolífera, poderão impactar o país positivamente ou negativamente, por décadas. Por isso, o mais importante é que esses debates não sejam direcionadas pelos interesses das grandes corporações petrolíferas multinacionais, que, todos sabem, estão preocupadas única e exclusivamente com o seu próprio lucro.
O Brasil em tempos de pré-sal,  a Geopolítica do Atlântico Sul e as perspectivas para um futuro de escassez petrolífera


 Pré-Sal     Imagem  da Petrobrás
 
Não é difícil imaginar o que poderá acontecer se novas descobertas deste tipo, forem feitas em formações geológicas semelhantes ao nosso pré-sal (bacias petrolíferas abaixo de camadas de rochas salinas), em outros locais do Atlântico Sul, tanto no litoral da América do Sul, como da África.
 
Isto é mais um elemento que nos ajuda a entender porque o Brasil simplesmente não pode esperar que o mundo se torne mais pacífico em um futuro próximo. Menos ainda acreditando que isto, como por mágica, tornaria a América do Sul e  o Atlântico Sul regiões mais pacíficas.


HMS Invincible: Porta-Aviões inglês utilizado durante a Guerra das Malvinas
Ao contrário, com o esgotamento das reservas petrolíferas mais antigas e de mais fácil acesso - o  fim do petróleo barato -, e o aumento da demanda energética dos países emergentes, a perspectiva da escassez petrolífera relativa, mas em escala global, torna-se sobria para um futuro não tão distante, como 2015, 2020 ou 2030.
 
Afinal, quem pode garantir que, em um cenário destes, por volta de 2025, uma potência emergente qualquer, alegando razões de Segurança Energética e de Segurança Nacional, não acabe decidindo, de uma hora para outra, que "precisa" das enormes reservas de petróleo do pré-sal brasileiro a qualquer custo? Basta projetar uma situação meramente hipotética, para imaginarmos o que significaria para o Brasil uma ameaça vinda de uma potência emergente mas com grande capacidade bélica.


Blocos de exploração petrolífera nas Malvinas
Imaginemos, por exemplo, que, um país como a Índia, que hoje já tem armas nucleares, e que, neste caso hipotético,  poderá ter em 2025 ou 2030 uma grande marinha de guerra, com vários porta-aviões e submarinos lançadores de mísseis nucleares. Apenas para ilustrar este exemplo fictício, segundo algumas projeções, em 2025 a Índia terá cerca de1,5 bilhão de habitantes, possivelmente o 5º ou 6º PIB mundial. Este país vai depender ainda mais do que já depende na atualidade, de petróleo e gás mineral importado. Possivelmente  estará importando algo em torno de 90% do petróleo que irá consumir. Sob certas circunstâncias de escassez petrolífera global, um chefe de Estado indiano, por exemplo, de um partido radical religioso ou fundamentalista hindu, ficaria muito tentado a dizer que recebeu instruções de qualquer um dos mais de 5 mil deuses do país, para exigir o petróleo brasileiro para o seu país , pois afinal de contas, está no mar, não em território brasileiro.
Com certeza, em 2025, o Brasil será rico em petróleo, mas não temos como saber se o país terá capacidade de defesa contra uma ameaça de tal natureza.

Plataformas petrolíferas do Irã no Golfo Pérsico, atacadas pelos Estados Unidos em 18 de abril de 1988
O grande problema é que não é possível prever o que acontecerá em 2020, 2025, ou 2030, quando qualquer uma das grandes potências mundiais de então, poderá ter capacidade militar para ameaçar o Brasil e  pode querer se aventurar na tentativa de tomar nossas riquezas, como as grandes reservas de água, a Amazônia ou o petróleo do pré-sal.
 
O problema é que se o Brasil não possuir uma capacidade defensiva minimamente compatível com a necessidade de garantir sua soberania e o bem estar do seu povo, poderá se tornar presa fácil das pressões e chantagens das grandes potências. Isto porque não é necessário nem ao menos uma invasão do território continental para causar grandes danos ao país, o simples ataque à infra-estrutura petrolífera em alto-mar já seria catastrófico, e há exemplos históricos deste tipo de acontecimento que não pode ser ignorados.
 
Embora esse seja um cenário poco provável, e muitas vezes parecer apenas mais um devaneio, sabemos que a Inglaterra foi à guerra  para preservar o controle de uma reserva petrolífera em alto mar, no caso as Malvinas, distante de seu território e cujo volume das reservas de petróleo não se sabe ao certo até os dias de hoje. O que isto poderá significar para os países do sulamericanos e africanos que têm reservas sabidamente gigantes de petróleo em alto mar?

A Brasil do Pré-Sal e o futuro da integração sul-americana
 
Contudo, com o aprofundamento da integração regional, tanto no âmbito da Mercosul como da UNASUL, é possível esperar que a cooperação  regional crie novas dificuldades para as ambições imperialistas das grandes potências.
 
Também é possível esperar que a cooperação Brasil-Argentina em áreas estratégicas seja retomada em larga escala. A retomada da cooperação nuclear para fins pacíficos e, quem sabe, a criação de um programa espacial conjunto, seriam iniciativas fundamentais para alavancar o desenvolvimento tecnológico desses países que hoje formam o "núcleo duro" da integração sul-americana.
 
É preciso avançar na cooperação tecnológica, pois grande parte das tecnologias de ponta é de uso múltiplo, e além de fortalecer o país no campo estratégico, aumenta a geração de emprego e renda. Iniciativas como a construção de um  submarino brasileiro-argentino, poderiam permitir a fabricação de equipamentos deste tipo em escala. A escala de produção de qualquer produto continua sendo necessária para baratear o processo produtivo, e neste caso, o produto é vital para a defesa do litoral de ambos os países contra ameaças extra-regionais.


Submarino brasileiro no Rio de Janeiro
O mesmo seria válido para a cooperação na fabricação de aeronaves, tripuladas ou não, ou  de mísseis  anti-navio, que seriam de valor absolutamente estratégico para os dois países n o caso de um confronto com uma potência naval superior. Além disso, o processo de desenvolvimento conjunto de produtos de ponta, ajudaria a integrar as indústrias de alta tecnologia dos dois países, fortalecendo ainda mais o processo de integração sul-americana.
 
Uma opção interessante seria a criação de programas de cooperação na indústria de bens de produção, por exemplo, na fabricação de turbinas, motores e geradores mais limpos e eficientes, por exemplo, movidos a biocombustíveis. Motores a Células-combustíveis e turbinas movidas a combustíveis mais limpos, de fabricação regional teriam um duplo impacto na economia e na sociedade: além dos benefícios ambientais, trazem claros resultados sociais, na medida em que geram tecnologia, emprego e renda.
 

Fábrica de semicondutores para  painéis fotoelétricos na China
O mesmo é válido para áreas estratégicas como a fabricação dos materiais semicondutores utilizados na produção de painéis com células fotovoltáicas, ou de materiais supercondutores que podem viabilizar o aumento da geração de eletricidade e reduzir significativamente as perdas na transmissão de eletricidade.
 
A cooperação no ramo petrolífero também é fundamental. É preciso criar uma nova empresa petrolífera sul-americana, que permita a esses países se beneficiarem da economia de escala da produção para para o mercado sulamericano, ao mesmo tempo em que se viabiliza uma escala de investimentos ainda maior, para grandes investimentos em infra-estrutura, que nenhum destes países conseguiria sozinho.


Indústria Naval brasileira: milhares de empregos criados para atender a demanda da Petrobrás
Isto pode ampliar também a integração da indústria naval destes países, um dos ramos da indústria pesada que mais gera novos empregos na atualidade. A integração destas indústrias, assim como as cadeias produtivas ligadas ao fornecimento de bens e serviços ao setores petrolífero e energético,  resultaria na geração de mais empregos na região, com uma vantagem sobre outros setores, geralmente são empregos mais qualificados e que pagam melhor os seus funcionários.
 
Uma nova empresa petrolífera sul-americana poderia garantir que os equipamentos, dutos, navios e plataformas tivessem peças fabricadas necessariamente nos países da América do Sul. Também permitiria consolidar a liderança destes países na exploração e extração de petróleo em águas ultra-profundas, com foco no Atlântico Sul. Esta capacidade industrial-tecnológica daria grande vantagem competitiva ao conjunto desses países, mas também facilitaria a manutenção da soberania sobre as áreas petrolíferas localizadas em alto mar. Hoje a única empresa sul-americana competitiva neste ramo é a Petrobrás, que já está  procurando áreas do tipo pré-sal no litoral africano. Contar com uma mega-empresa sul-americana, apoiada em várias empresas dos países da região, seria uma forma de fortalecer a integração regional em um patamar qualitativamente bem superior.

http://www.getech.com/interpretation/South_Atlantic_Margins_Brochure_A4.pdf
Bacias Sedimentares no Atlântico Sul - fonte: Getech - Geodynamics and Petroleum Geology of the South Atlantic Margins
Por enquanto é difícil saber se a camada de rochas do tipo pré-sal, possivelemente existentes na Bacia Sedimentar das Malvinas,  tem grande potencial petrolífero.  Mas mesmo que não tenha muito petróleo nas rochas pré-sal, as reservas já encontradas na camada pós-sal parecem ser grandes o suficiente, ao menos para despertar os interesses e a cobiça de um país como a Inglaterra. Esta potência decadente, que já esgotou quase todo o seu próprio petróleo , extraído das outrora grandes reservas do Mar do Norte, deixaou de ser um país exportador de petróleo para tornar-se novamente um importador. O curioso é que a Inglaterra exportou grande parte do seu petróleo nos anos 1990, quando o preço  variava em torno de US$ 15,00/barril, e tornou-se novamente um país importador na atual década, em que o petróleo tem se mantido acima dos US$ 40,00, atualmente na faixa dos US$ 75,00.

Integração energética sul-americana:   infra-estrutura de oleodutos e   o papel da Petrobrás

A Argentina sozinha não tem força política ou econômica para mudar o status de colônia britânica a que estão submetidas as Malvinas. Embora  o Comitê de Descolonização da ONU atualmente classifique o território como ocupado, ou sem governo próprio, dificilmente a Inglaterra irá descolonizá-lo apenas por pressão de declarações do governo argentino.
Mas esta seria uma excelente oportunidade para que a UNASUL mostrasse unidade em torno de um tema que já é concenso em toda a América Latina: que as Malvinas pertencem à Argentina e não à Inglaterra. Além das declarações já emitidas pelo Cúpula dos chefes de Estado da América Latina e do Caribe nesta direç]ão, seria fundamental ma declaração conjunta do Conselho de Segurança da UNASUL. Acompanhado de medidas práticas, como restrições coletivas às empresas petrolíferas que extraírem petróleo nas Malvinas ocupadas, este tipo de atuação multilateral pode alterar o peso político da América do Sul nesta questão.
 
É importante que os países da região criem mecanismos para situações mais extremas, que exigam respostas mais duras do que declarações, como sanções comerciais. Se a Argentina impõe  unilateralmente sanções comerciais às empresas petrolíferas inglesas que estão extraindo petróleo das Malvinas, o resultado pode ser pequeno, ou se voltar contra a os argentinos. Mas se todos os países membros do Mercosul ou Unasul impõem sanções comerciais deste tipo, pode ser suficiente para inviabilizar o projeto inglês de explorar o petróleo desta região sem a participação argentina.
É pouco provável que a atual crise em torno das Malvinas resulte em uma nova guerra. Mas isto não significa que o Brasil pode descuidar do seu futuro.
De uma forma ou de outra, o futuro do Brasil estará profundamente ligado ao futuro da América do Sul, assim como o futuro da Petrobrás está ligado ao desenvolvimento do pré-sal. O Brasil tem uma oportunidade ímpar em sua história: a disponibilidade de um recurso estratégico que o país tem plena capacidade tecnológica e econômica para desenvolver, com tempo e recursos humanos suficientes para planejar utilizá-lo da melhor forma possível.

O petróleo tem que ser nosso!

Campanha  "O Pré-Sal tem que ser Nosso"
Pela primeira vez o país pode planejar o uso do pré-sal de forma estratégica, para que sua exploração resulte em benefícios para todo o povo brasileiro, mas também para as futuras gerações, ao mesmo tempo em que pode  fortalecer os laços com os países vizinhos, consolidando de tal forma a integração sulamericana que esta não possa mais regredir quando vierem novas crises.
As primeiras  linhas desta história o país está escrevendo hoje, nas discussões que resultarão na Nova Lei do Petróleo, que integrará um novo marco regulatório para o petróleo no Brasil.
Este é o passo inicial para garantir a soberania sobre os recursos petrolíferos do país. Soberania esta, que é premissa fundamental para que possamos utilizar estas riquezas em prol do nosso povo, para a geração de emprego e distribuição de renda, para investir em educação, saúde, tecnologia e infra-estrutura de energias mais limpas e transportes mais eficientes. Ou seja, é a oportunidade para criar um novo tipo de desenvolvimento, socialmente e ambientalmente mais sustentável, que ajude a melhorar a qualidade de vida do povo brasileiro e dos povos irmãos da América do Sul.

Lucas Kerr de Oliveira
-
-

Março de 2010

Publicado no jornal online "Pare o Trem" (6ª edição): http://pareotrem.com/6-edicao/politica-internacional-2/