sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

Governo aprova Política de Defesa Cibernética

Agência Brasil, 27/12/2012

Governo aprova Política Cibernética de Defesa

Mariana Tokarnia 

Repórter da Agência Brasil


Brasília - O Ministério da Defesa aprovou a política que define estratégias de defesa cibernética nos níveis operacional e tático e que deve ser aplicada nos grandes eventos que serão sediados no país, a Copa do Mundo de 2014 e os Jogos Olímpicos de 2016. Portaria que aprova a Política Cibernética de Defesa foi publicada hoje (27) no Diário Oficial da União.

De acordo com o documento, caberá ao ministério, em conjunto com as Forças Armadas, impedir ou dificultar a utilização criminosa da rede. Para isso, a política prevê a implantação do Sistema Militar de Defesa Cibernética, composto por militares e civis, e o fornecimento da estrutura e infraestrutura para que as atividades de defesa sejam desempenhadas.  

Deverão ser criados e normatizados processos de segurança cibernética para padronizar os procedimentos de defesa da rede. Deverão também ser estabelecidos programas e projetos para assegurar a capacidade de atuar em rede com segurança. A política deve integrar as ações já em curso de defesa cibernética no país.

Em agosto de 2011, foi criada, por meio do Decreto 7.538, a Secretaria Extraordinária de Segurança para Grandes Eventos, responsável por planejar, definir, coordenar, implementar, acompanhar e avaliar as ações de segurança para esse tipo de evento, promovendo a integração entre os órgãos de segurança pública federais, estaduais, distrital e municipais envolvidos com a questão.

Já em agosto deste ano, portaria do Ministério da Defesa estabeleceu as diretrizes que vão nortear a atuação dos militares do Exército, da Marinha e Aeronáutica durante os grandes eventos.

A portaria também autoriza o Ministério da Defesa a empregar, temporariamente, as Forças Armadas para atuar na segurança e defesa cibernética, defesa contra terrorismo, fiscalização de explosivos, contingência e defesa contra agentes químicos, biológicos, radiológicos ou nucleares; e em outras atribuições constitucionais das Forças Armadas, em todas as cidades-sede, durante a Copa e as Olimpíadas.

Apesar de não ter sofrido nenhum grande atentado virtual, o Brasil é um dos países com maior ocorrência de crimes cibernéticos. Em pesquisa realizada pela empresa norte-americana Norton, especializada em antivírus, o Brasil estava, em 2011, em quarto lugar em uma lista de 24 países com maior quantidade de crimes cibernéticos aplicados, abaixo da China, África do Sul e México.

Segundo a pesquisa, 80% dos adultos brasileiros já foram vítimas desse tipo de crime. A cada 11 dias, uma nova vítima de crime cibernético é registrada no país. Calcula-se que, em 2011, o prejuízo tenha chegado a US$ 15 bilhões.
 

*Colaborou Alex Rodrigues   //     Edição: Lílian Beraldo

quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

O STF abriu a Caixa de Pandora, por Luis Nassif

 ter, 18/12/2012 

O Supremo abriu a Caixa de Pandora



Autor : 
 
O xadrez político está interessantíssimo, principalmente depois do episódio STF-Congresso.
O Estadão não se pronunciou em editorial. A Folha condenou a atitude do Supremo. Parece que o Globo não se pronunciou.
As razões ficarão mais claras no decorrer da leitura desse artigo. Abriu-se uma Caixa de Pandora que, provavelmente, nem mesmo os Ministros do STF tinham previsto.
Como diz o Antonio Só nos comentários: "Tirar o saci da garrafa é fácil; quero ver botar ele de novo lá dentro..."

Primeiro passo - Esqueçam, por um instante, que essa pro-atividade do STF (Supremo Tribunal Federal) foi insuflada pela mídia. Interessa, agora, a análise dos desdobramentos.

Segundo passo – Separem o relevante do irrelevante na atuação dos Ministros.
Joguem no lixo da história personagens como Luiz Fux e Ayres Britto, insignificantes, pequenos oportunistas.
Fixem-se nos dois que tiveram efetivamente peso, Joaquim Barbosa e Gilmar Mendes. O primeiro, um torquemada para ninguém botar defeito. O segundo, um acendrado defensor dos seus que, no episódio Satiagraha, agiu para enquadrar o juizado de primeira instância. Incluam o Marco Aurélio de Mello, um ex-garantista que, por convicção política, abriu mão de sua atuação pregressa.
Por motivos nobres ou menores, liberou geral.
Depois, analisem o voto de Celso de Mello, o que mais se aproxima do perfil do magistrado tradicional, afirmando – com o rompante de quem aguardou a vida toda por esse momento histórico – o primado da lei e a ameaça à ordem democrática no caso de ela ser desrespeitada.

Terceiro passo –Vamos alargar a vista, sair das paredes restritas do Supremo para o Poder Judiciário como um todo. Para o bem ou para o mal, esse voto enquadra todos os poderes – inclusive o próprio STF. É por aí que se entenderá a abertura da Caixa de Pandora.
O sistema judiciário é uma organização complexa, composta de várias instituições, a primeira instância, os tribunais estaduais, os federais, o Ministério Público etc.
É um sistema integrado por pessoas, organizadas em torno da interpretação da Constituição e das leis. Como leis comportam várias interpretações, o agente uniformizador é o Supremo. Proferidas suas sentenças, firmada a jurisprudência, as conclusões irradiam-se por todo o sistema jurídico, obrigando juízes, promotores, procuradores a se adequarem às normas.
Mais que isso: sujeitando o STF a todo tipo de cobrança, daqui para frente, para preservar a coerência.
Vamos a um pequeno levantamento das repercussões dessa votação

Direitos humanos
O Ministério Público Federal trabalha, há anos, para condenar torturadores. Para tanto, há a necessidade de sobrepor à Lei da Anistia um documento juridicamente superior: as determinações da Corte Interamericana de Direitos Humanos (http://www.corteidh.or.cr/).
Segundo o que consta no site da AGU (http://migre.me/cr0nA)
A Corte Interamericana de Direitos Humanos tem competência para conhecer de qualquer caso relativo à interpretação e aplicação das disposições da Convenção Americana sobre Direitos humanos, desde que os Estados-Partes no caso tenham reconhecido a sua competência. Somente a Comissão Interamericana e os Estados Partes da Convenção Americana sobre Direitos Humanos podem submeter um caso à decisão desse Tribunal. (…)
No plano contencioso, sua competência para o julgamento de casos, limitada aos Estados Partes da Convenção que tenham expressamente reconhecido sua jurisdição, consiste na apreciação de questões envolvendo denúncia de violação, por qualquer Estado Parte, de direito protegido pela Convenção. Caso reconheça que efetivamente ocorreu a violação à Convenção, determinará a adoção de medidas que se façam necessárias à restauração do direito então violado, podendo condenar o Estado, inclusive, ao pagamento de uma justa compensação à vítima.
A tendência do STF era a de não aceitar as determinações da Corte. À luz da observância estrita das leis, o STF ousará se opor às determinações da Corte? Não tem como. A não ser que Celso de Mello e seus pares pretendam impor o primado da selvageria jurídica no país.

Reportagens abusivas contra saúde pública
A revista Veja solta uma matéria de capa vendendo como emagrecedor determinado remédio para diabetes. A Anvisa  (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) tem legislação férrea contra publicidade de remédios, mas não agiu contra a publicidade disfarçada de matéria. Pode alegar que existe um vácuo na lei em relação a esse ponto.
Mas o STF ensinou que, em caso de vácuo na legislação, caberá ao Judiciário atuar. Com base na decisão dos cinco do Supremo, procuradores da base ganharam fôlego para atuar contra esse tipo de reportagem.
Gradativamente os abusos midiáticos contra a saúde pública terão um novo fiscal: o MPF e o Judiciário.
Outro caso: o carnaval em torno da febre amarela. Oficiou-se o MPF. Na época, o Ministério da Saúde não apresentou estatísticas que comprovassem o aumento de mortes devido à escandalização da febre, por isso o processo não foi para frente. Mas, no decorrer da instrução, todas as empresas jornalísticas tiveram que mobilizar seu jurídico para prestar contas ao MPF. Agora, saiu um estudo de uma professora da USP com a comprovação do aumento de mortes. Provavelmente o MPF reabrirá o caso, agora com força redobrada graças ao horizonte que se abriu com os votos dos cinco do Supremo.
E as empresas jornalísticas terão que reforçar seu jurídico para atender às novas cobranças.

Concessões de rádio e TV
Até hoje era questão absolutamente pacificada. O Ministério das Comunicações nunca teve coragem de enfrentar o modelo abusivo de concessões e o Congresso, como parte interessada, sempre avalizou a não-ação do Ministério.
Jamais se exigiu dos concessionários provas de ilibada reputação – lembrem-se o caso do inacreditável Ronaldo Tiradentes, dono da concessão da CBN Manaus e que acaba de ganhar uma concessão de TV do Ministério das Comunicações, graças a sua rede de relações políticas.
Agora, haverá condições da sociedade civil questionar diretamente o Judiciário sobre o uso abusivo das concessões. Será mais um vácuo a ser ocupado.

Abusos contra minorias
Nos últimos anos houve uma ação solitária do MPF contra os abusos de emissoras contra direitos difusos da população – ataques às religiões afro, exercício do preconceito abusivo, ridicularização de gays e obesos, mensagens não-educativas às crianças, propaganda infantil abusiva etc. Mas, em geral, eram barradas na Primeira Instância porque juízes não acreditavam que o judiciário pudesse avançar em outros campos, mais restritos ao Executivo.
Ora, o Executivo não regula, não coíbe abusos. O máximo que faz é definir recomendações e horários. Mas, como o STF ensinou, o vácuo na ação do Executivo precisa ser preenchido pelo Judiciário.

Ações contra políticos da oposição
Depois do mensalão, como não repetir o mesmo padrão de julgamento no mensalão mineiro e em outras ações envolvendo parlamentares de todos os partidos e governantes de todas as épocas?

Discutindo a nova posição
Mais do que nunca, CNJ (Conselho Nacional de Justiça), MPF, justiças estaduais precisam seguir o exemplo da Ajufe (Associação dos Juízes Federais) e começar a discutir da forma mais aberta possível essas questões. Inclusive entender de maneira adequada o papel da velha mídia, da nova mídia, a nova opinião pública.
A campanha em torno do mensalão visava atingir um poder: o Executivo. Aberta a Caixa de Pandora, os demais dois poderes ficaram expostos ao primado da lei. Um, o próprio STF, que será regido, de agora em diante, pela cobrança permanente de coerência. Outro, a mídia, o segundo poder maior do país.


 

terça-feira, 11 de dezembro de 2012

Dilma e Patriota escolhem novos nomes para áreas estratégicas da política externa do Brasil

Agência Brasil, 11/12/2012

Dilma e Patriota escolhem novos nomes para áreas estratégicas da política externa

Renata Giraldi

Repórter da Agência Brasil
Brasília – O Ministério das Relações Exteriores  promoverá mudanças em duas áreas estratégicas: a Secretaria-Geral e a Subsecretaria-Geral de Assuntos Econômicos e Financeiros. O atual embaixador do Brasil no Paraguai, Eduardo Santos, assumirá a Secretaria-Geral do Itamaraty. Para a área econômica, o escolhido é o embaixador Enio Cordeiro. As mudanças foram anunciadas, internamente, ontem (10).  

A escolha de Santos e Cordeiro demonstra a relevância da América do Sul para o governo da presidenta Dilma Rousseff. Santos é considerado um dos nomes mais preparados do Itamaraty - foi assessor especial de Assuntos Internacionais da Presidência da República, no período do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, além ter ocupado postos na América do Sul e Europa.

Santos acompanhou de perto a crise no Paraguai, deflagrada pela destituição do então presidente Fernando Lugo – que deixou o poder após a aprovação de um impeachment. Para os presidentes sul-americanos, a destituição ocorreu em meio ao rompimento da ordem democrática.

Embaixador em Assunção, Santos foi elogiado por integrantes do governo pela forma como lidou com os acontecimentos. Antes, ele havia se destacado ao mediar as tensões entre brasiguaios (brasileiros que moram no Paraguai) e o governo Lugo.

Cordeiro é apontado como um especialista em América do Sul. Embaixador em Buenos Aires, ele lida cotidianamente com as negociações entre os governos do Brasil e da Argentina. Para os brasileiros, os argentinos impõem barreiras que dificultam a entrada de produtos na região.

O atual subsecretário-geral de Assuntos Econômicos e Financeiros, Waldemar Carneiro Leão, será o novo embaixador do Brasil na China. Os chineses são os principais parceiros comerciais do Brasil e de vários países sul-americanos.

Edição: Graça Adjuto

sábado, 1 de dezembro de 2012

Forças Armadas do Brasil simulam defesa das plataformas de petróleo em alto mar

Agência Brasil,  28/11/2012

Operação em alto-mar das Forças Armadas prepara país para defesa das plataformas de petróleo

Flávia Villela

Repórter da Agência Brasil

Rio de Janeiro – Vôos rasantes, bombas, tiros de canhão e metralhadoras e fumaça em plena costa brasileira fizeram parte da simulação de ataque de duas aeronaves contra o navio de desembarque de carro de combate Almirante Sabóia, de 138 metros de comprimento, da Marinha brasileira.

O ataque simulado, feito hoje (28) a cerca de 80 quilômetros da entrada da Baía de Guanabara, foi um dos exercícios da terceira edição da Operação Atlântico 3, coordenada pelo Ministério da Defesa.

De acordo com o comandante da Primeira Divisão da Esquadra da Marinha, contra-almirante Márcio Ferreira de Mello, testes como esses servem para preparar o país para emergências que possam ameaçar a chamada Amazônia Azul, área marítima com cerca de 700 quilômetros de extensão a partir da costa brasileira.

“Neste ano focamos na defesa de instalações estratégicas, como as nossas plataformas de petróleo e nossas linhas de comunicação marítimas, pois o tráfego marítimo é responsável por 95% do nosso comércio exterior”.

Outro objetivo importante, segundo Ferreira de Mello, é testar e incrementar a integração entre as três Forças para momentos de atuação conjunta.

A operação durou duas semanas, mobilizou cerca de 10 mil homens das Forças Armadas e custou aproximadamente R$ 15 milhões. Além da parte marítima, que contou com submarinos, navios-patrulha oceânicos, fragatas e corvetas, a parte aérea mobilizou aviões, helicópteros e homens, enquanto carros de combate do Exército encarregaram-se da proteção terrestre.

Ao longo do dia foram feitos cinco exercícios: simulação de ataque de aeronaves à Força Naval, de incêndio a bordo causado por ataque, incidente de proteção marítima envolvendo um suposto navio exercendo atividades ilegais em águas brasileiras, tiro de superfície sobre alvo à deriva e a transferência de um militar entre dois navios.

Embarcado há 16 dias, o estudante Antônio Marco Ferreira Neto, 19 anos, foi um dos 23 alunos do Colégio Naval que se apresentaram como voluntários para participar da operação como observadores. “Vim, porque queria ter um melhor preparo para fazer uma escolha no futuro na carreira que pretendo seguir a Marinha”.

Cursando o 3º ano do ensino médio, o rapaz disse que a parte da Armada foi a que mais gostou de ver durante os testes. “Foi muito proveitoso o convívio com praças e oficiais que nos deram muitas informações a respeito da carreira”, comentou.

As operações Atlântico anteriores ocorreram em 2008 e 2010. O contra-almirante ressaltou que todos os anos as Forças Armadas fazem pelo menos duas operações de testes, na costa ou nos rios brasileiros.

Edição: Davi Oliveira

http://agenciabrasil.ebc.com.br/noticia/2012-11-28/operacao-em-alto-mar-das-forcas-armadas-prepara-pais-para-defesa-das-plataformas-de-petroleo

“Custo Brasil” ou “lucro Brasil”? Porque as taxas de lucro no Brasil são tão exorbitantes.

Blog do Miro, 3 de julho de 2011 

“Custo Brasil” ou “lucro Brasil”?

Altamiro Borges

A elite patronal adora falar no tal “Custo Brasil”. Ambiciosa e marota, ela difunde que a economia é vítima da alta carga tributária e do elevado custo da força de trabalho. Repetitiva, ela usa sua mídia para defender a redução dos impostos e o corte dos direitos trabalhistas. Os editoriais do jornalões e os comentários na TV são unânimes na defesa deste "pensamento único" neoliberal.


Felizmente, ainda há jornalistas na velha mídia que não se submetem às bravatas empresariais e exercitam com ética a profissão – pesquisando as reais causas que entravam o desenvolvimento da economia. É o caso do jornalista Joel Leite, especialista no setor automobilístico, que produziu uma reportagem no UOL que desmascara o discurso do Custo Brasil. Reproduzo alguns trechos:

 
O carro mais caro do mundo

“O Brasil tem o carro mais caro do mundo. Por quê? Os principais argumentos das montadoras para justificar o alto preço do automóvel vendido no Brasil são a alta carga tributária e a baixa escala de produção. Outro vilão seria o “alto valor da mão de obra”, mas os fabricantes não revelam quanto os salários – e os benefícios sociais - representam no preço final do carro. Muito menos os custos de produção, um segredo protegido por lei.

A explicação dos fabricantes para vender no Brasil o carro mais caro do mundo é o chamado Custo Brasil, isto é, a alta carga tributária somada ao custo do capital, que onera a produção. Mas as histórias que você verá a seguir vão mostrar que o grande vilão dos preços é, sim, o Lucro Brasil. Em nenhum país do mundo onde a indústria automobilística tem um peso importante no PIB, o carro custa tão caro para o consumidor (...).

Com um mercado interno de um milhão de unidades em 1978, as fábricas argumentavam que seria impossível produzir um carro barato. Era preciso aumentar a escala de produção para, assim, baratear os custos dos fornecedores e chegar a um preço final no nível dos demais países produtores.

Pois bem: o Brasil fechou 2010 como quinto maior produtor de veículos do mundo e como quarto maior mercado consumidor, com 3,5 milhões de unidades vendidas no mercado interno e uma produção de 3,638 milhões de unidades. Três milhões e meio de carros não seria um volume suficiente para baratear o produto? Quanto será preciso produzir para que o consumidor brasileiro possa comprar um carro com preço equivalente ao dos demais países?


Carga tributária caiu e preço do carro subiu

O imposto, o eterno vilão, caiu nos últimos anos. Em 1997, o carro 1.0 pagava 26,2% de impostos, o carro com motor até 100cv recolhia 34,8% (gasolina) e 32,5% (álcool). Para motores mais potentes o imposto era de 36,9% para gasolina e 34,8% a álcool. Hoje – com os critérios alterados – o carro 1.0 recolhe 27,1%, a faixa de 1.0 a 2.0 paga 30,4% para motor a gasolina e 29,2% para motor a álcool. E na faixa superior, acima de 2.0, o imposto é de 36,4% para carro a gasolina e 33,8% a álcool.

Quer dizer: o carro popular teve um acréscimo de 0,9 ponto percentual na carga tributária, enquanto nas demais categorias o imposto diminuiu: o carro médio a gasolina paga 4,4 pontos percentuais a menos. O imposto da versão álcool/flex caiu de 32,5% para 29,2%. No segmento de luxo, o imposto também caiu: 0,5 ponto no carro e gasolina (de 36.9% para 36,4%) e 1 ponto percentual no álcool/flex.

Enquanto a carga tributária total do País, conforme o Instituto Brasileiro de Planejamento Tributário, cresceu de 30,03% no ano 2000 para 35,04% em 2010, o imposto sobre veículo não acompanhou esse aumento. Isso sem contar as ações do governo, que baixaram o IPI (retirou, no caso dos carros 1.0) durante a crise econômica. A política de incentivos durou de dezembro de 2008 a abril de 2010, reduzindo o preço do carro em mais de 5% sem que esse benefício fosse totalmente repassado para o consumidor.

As montadoras têm uma margem de lucro muito maior no Brasil do que em outros países. Uma pesquisa feita pelo banco de investimento Morgan Stanley, da Inglaterra, mostrou que algumas montadoras instaladas no Brasil são responsáveis por boa parte do lucro mundial das suas matrizes e que grande parte desse lucro vem da venda dos carros com aparência fora-de-estrada. Derivados de carros de passeio comuns, esses carros ganham uma maquiagem e um estilo aventureiro. Alguns têm suspensão elevada, pneus de uso misto, estribos laterais. Outros têm faróis de milha e, alguns, o estepe na traseira, o que confere uma aparência mais esportiva.


Margem de lucro é três vezes maior que em outros países

O Banco Morgan concluiu que esses carros são altamente lucrativos, têm uma margem muito maior do que a dos carros dos quais são derivados. Os técnicos da instituição calcularam que o custo de produção desses carros, como o CrossFox, da Volks, e o Palio Adventure, da Fiat, é 5 a 7% acima do custo de produção dos modelos dos quais derivam: Fox e Palio Weekend. Mas são vendidos por 10% a 15% a mais.

O Palio Adventure (que tem motor 1.8 e sistema locker), custa R$ 52,5 mil e a versão normal R$ 40,9 mil (motor 1.4), uma diferença de 28,5%. No caso do Doblò (que tem a mesma configuração), a versão Adventure custa 9,3% a mais. O analista Adam Jonas, responsável pela pesquisa, concluiu que, no geral, a margem de lucro das montadoras no Brasil chega a ser três vezes maior que a de outros países.

O Honda City é um bom exemplo do que ocorre com o preço do carro no Brasil. Fabricado em Sumaré, no interior de São Paulo, ele é vendido no México por R$ 25,8 mil (versão LX). Neste preço está incluído o frete, de R$ 3,5 mil, e a margem de lucro da revenda, em torno de R$ 2 mil. Restam, portanto R$ 20,3 mil.

Adicionando os custos de impostos e distribuição aos R$ 20,3 mil, teremos R$ 16.413,32 de carga tributária (de 29,2%) e R$ 3.979,66 de margem de lucro das concessionárias (10%). A soma dá R$ 40.692,00. Considerando que nos R$ 20,3 mil faturados para o México a montadora já tem a sua margem de lucro, o “Lucro Brasil” (adicional) é de R$ 15.518,00: R$ 56.210,00 (preço vendido no Brasil) menos R$ 40.692,00.

Isso sem considerar que o carro que vai para o México tem mais equipamentos de série: freios a disco nas quatro rodas com ABS e EBD, airbag duplo, ar-condicionado, vidros, travas e retrovisores elétricos. O motor é o mesmo: 1.5 de 116cv. Será possível que a montadora tenha um lucro adicional de R$ 15,5 mil num carro desses? O que a Honda fala sobre isso? Nada. Consultada, a montadora apenas diz que a empresa “não fala sobre o assunto”.

Na Argentina, a versão básica, a LX com câmbio manual, airbag duplo e rodas de liga leve de 15 polegadas, custa a partir de US$ 20.100 (R$ 35.600), segundo o Auto Blog. Já o Hyundai ix35 é vendido na Argentina com o nome de Novo Tucson 2011 por R$ 56 mil, 37% a menos do que o consumidor brasileiro paga por ele: R$ 88 mil.

Altamiro Borges

Presidentes da Unasul se reúnem em Lima para discutir inclusão social e crescimento econômico

Agência Brasil, 30/11/2012

Presidentes da Unasul se reúnem em Lima para discutir inclusão social e crescimento econômico

Renata Giraldi
Repórter da Agência Brasil

Brasília - Alguns dos presidentes da União de Nações Sul-Americanas (Unasul) se reúnem hoje (30), em Lima, no Peru, durante a Cúpula dos Chefes de Estado e Governo da Unasul para definir as metas e prioridades para a próxima etapa dos trabalhos do grupo. A ideia é aliar a inclusão social ao crescimento econômico e ao desenvolvimento da ciência, tecnologia e inovação.

A presidenta Dilma Rousseff cancelou a participação na cúpula por questões de agenda interna. Os presidentes Cristina Kirchner (Argentina) e Hugo Chávez (Venezuela) também estarão ausentes.

Já estão em Lima os presidentes José Mujica (Uruguai), Ramotar Donald (Guiana), Desiré Delano Bouterse (Suriname) e o vice-presidente brasileiro Michel Temer, que representa Dilma na cúpula. Para hoje são esperados os presidentes Rafael Correa (Equador), Sebastián Piñera (Chile) e Evo Morales (Bolívia).

Ontem (29) os ministros das Relações Exteriores da Unasul definiram que deve ser criado um mecanismo para a resolução de disputas de investimentos. Mas o tema ainda tem de ser discutido e aprovado pelos presidentes de países da região.

Também há a proposta de apresentar uma posição comum sobre temas específicos, como o sugerido pelo governo do Equador, para reformar o Corte Interamericana de Direitos Humanos da Organização dos Estados Americanas (OEA)

O presidente do Peru, Ollanta Humala, ofereceu ontem (29) um jantar para os presidentes sul-americanos. No jantar, ele disse que a Unasul deve servir também para articular políticas e troca de experiências sobre a melhor forma de combater a pobreza e a promoção social na região.

Humala lembrou que a América do Sul é mais “desigual” do que pobre e que o esforço para combater essa característica da região deve ser coletivo. "Atualmente o povo sul-americano espera muito de nós, por isso é importante a Unasul porque a nossa história é de esperança e é por isso que nós temos que trabalhar", disse ele.

Na reunião ontem os ministros das Relações Exteriores da Unasul analisaram também as propostas apresentadas pelos conselhos de defesa, de economia, de saúde, de desenvolvimento social, de energia, educação, ciência, tecnologia e inovação e combate ao tráfico de drogas.

*Com informações da agência pública de notícias do Peru, Andina.

Edição: Talita Cavalcante



http://agenciabrasil.ebc.com.br/noticia/2012-11-30/presidentes-da-unasul-se-reunem-em-lima-para-discutir-inclusao-social-e-crescimento-economico

Chanceleres da Unasul se reúnem no Peru para discutir política, economia e defesa

Agência Brasil, 29/11/2012

Chanceleres da Unasul se reúnem no Peru para discutir política, economia e defesa

Renata Giraldi

Repórter da Agência Brasil

Brasília – O ministro das Relações Exteriores, Antonio Patriota, e mais dez chanceleres que compõem a União de Nações Sul-Americanas (Unasul) se reúnem hoje (29), em Lima, no Peru. A reunião antecede a Cúpula dos Chefes de Estado e de Governo da Unasul, que ocorre amanhã. Estarão em debate questões políticas, como a expectativa do Paraguai de ver revogada sua suspensão do grupo, econômicas, com a ampliação de parcerias, além de defesa e segurança.

A Unasul é formada pela Bolívia, Colômbia, o Equador, Peru, a Argentina, o Brasil, Paraguai, Uruguai, a Venezuela, o Chile, a Guiana e o Suriname. São países observadores o Panamá e o México.

A presidenta Dilma Rousseff cancelou a participação na cúpula. No Paraguai, a expectativa é que os presidentes presentes ao encontro decidam pela revogação da suspensão do país tanto da Unasul quanto do Mercosul. O Paraguai foi suspenso em junho porque os líderes políticos da região concluíram que a destituição do então presidente Fernando Lugo ocorreu em meio ao rompimento da ordem democrática. As autoridades paraguaias negam irregularidades.

O presidente do Grupo de Alto Nível da Unasul, Salomón Lerner, esteve em Assunção, examinou o funcionamento das instituições paraguaias e conversou com autoridades do Judiciário, Executivo e Legislativo. Lerner apresentará um relatório detalhando as conclusões do grupo sobre a situação política do Paraguai. Por enquanto, a suspensão é válida até abril de 2013, quando haverá eleições presidenciais no país.

Nas áreas econômica e comercial, os conselhos ministeriais, integrados por membros de todos os países, negociam a ampliação de parcerias. As prioridades são os projetos de infraestrutura  de planejamento e integração física. Nas questões relativas à segurança e defesa, há a proposta de instaurar um conselho específico para a área e as preocupações estão centradas no combate  ao tráfico de drogas, de armas e de pessoas.   

Há ainda vários temas também em discussão que devem ser incluídos no comunicado final da cúpula. A reunião dos chefes de Estado e Governo ocupará apenas a manhã de sexta-feira (30). Os líderes poderão se manifestar pelo tempo que considerarem adequado, não há limite. Mas a única manifestação à imprensa prevista é do presidente do Peru, Ollanta Humala, que deverá fazer uma declaração – sem direito a perguntas.

Em 2011, as relações comerciais entre o Brasil e os demais integrantes da Unasul envolveu US$ 76 bilhões, registrando crescimento de 20% em relação a 2010 e de 65% se comparado a 2009. Criado em 2008, o grupo reúne 12 países sul-americanos, sendo que o Paraguai está suspenso há cinco meses. Juntos,somam 400,2 milhões de habitantes e um Produto Interno Bruto (PIB) de US$ 4,276 trilhões.

Edição: Graça Adjuto

segunda-feira, 26 de novembro de 2012

Jurista explica porque a cassação de mandatos só pode ser feita pelo Congresso

Correio do Brasil, 25/11/2012

Jurista afirma que cassação de mandatos pelo STF é inconstitucional

Por Redação, com ABr - de Brasília

A fase de fixação de penas dos réus condenados durante o julgamento da Ação Penal 470, o processo do mensalão, pelo Supremo Tribunal Federal (STF), está levando a uma discussão polêmica nos corredores da Câmara Federal sobre o futuro do mandato dos deputados considerados culpados.

A polêmica surgiu porque em julho, ao protocolar as alegações finais do processo no STF, o procurador-geral da república, Roberto Gurgel, disse que é “relevante a aplicação da pena de perda de cargo, função pública ou mandato eletivo” como um dos efeitos da decisão da Suprema Corte.
Para o jurista e professor da Universidade de São Paulo Dalmo Dallari, uma determinação do Supremo nesse sentido seria inconstitucional. “Se o Supremo fizesse isso, criaria um embaraço jurídico extremo”, avaliou. Dallari explicou à Agência Brasil que, nesse caso, o Supremo pode apenas comunicar ao Parlamento que entende que a condenação é caso de cassação de mandato. “A Constituição assegura que a última palavra é do Parlamento, qualquer decisão contrária a isso caberia recurso à Corte Interamericana de Direitos Humanos”, disse.

O Inciso VI do Artigo 55 da Constituição Federal, que fala da perda de mandato de deputado ou senador, disse que fica sem o mandado o parlamentar “que sofrer condenação criminal em sentença transitada em julgado”. Porém, o Parágrafo 2º do mesmo artigo diz que “a perda do mandato será decidida pela Câmara dos Deputados ou pelo Senado, por voto secreto e maioria absoluta, mediante provocação da respectiva Mesa ou de partido político representado no Congresso Nacional, assegurada ampla defesa”.

Três deputados federais, João Paulo Cunha (PT-SP), Pedro Henry (PP-MT) e Valdemar Costa Neto ( PR-SP), foram condenados pelo STF, mas ainda aguardam a definição das penas. Na Câmara, a polêmica também envolve o ex-presidente do PT, José Genoíno (SP). Como suplente, o petista deve assumir em janeiro a vaga do deputado Carlinhos Almeida ( PT-SP), que foi eleito prefeito de São José dos Campos. Genoíno já teve a pena fixada em sete anos e 11 meses de prisão por corrupção ativa e formação de quadrilha. Segundo a assessoria da Secretaria-Geral da Mesa da Câmara dos Deputados, até hoje a Casa não teve nenhum caso de perda de mandato por motivo de sentença transitada em julgado.

Depois que o Supremo concluir o julgamento e comunicar a decisão à Câmara, o processo que pode levar à cassação desses deputados deve ser longo. Primeiro, o presidente da Casa, deputado Marco Maia ( PT-RS), pode pedir que o corregedor se pronuncie sobre o assunto. A corregedoria, então, ouve a defesa dos deputados condenados e leva o caso para análise dos sete membros da Mesa Diretora da Câmara, que decidem se oferecem representação para perda de mandato à Comissão de Constituição e Justiça (CCJ).
Se na CCJ os deputados decidirem pela abertura de processo de cassação, a palavra final é do plenário. “Nada impede também que, depois de terminado o julgamento, qualquer partido político entre com pedido de cassação de mandato junto à Mesa Diretora”, explicou o chefe da assessoria jurídica da Secretaria-Geral da Mesa da Câmara, Fábio Ramos.

Questionado sobre uma possível cassação dos colegas condenados, o presidente da Câmara, Marco Maia, já disse que não existe a possibilidade de o STF interferir nesse assunto. Maia tem dito também que quer esperar a conclusão do julgamento “até para ver se haverá equilíbrio entre as penas”, mas em todas as vezes que falou do assunto adiantou que vai cumprir integralmente a Constituição.

- A lei é muito clara, eles [os ministros do Supremo] mandam para cá e quem vai decidir se cassa ou não é o conjunto de deputados. O PT vai defender esses deputados aqui, não há dúvida em relação à defesa do mandato desses companheiros – garantiu o líder do PT na Câmara, deputado Jilmar Tatto (SP).

A incerteza sobre o futuro dos deputados condenados incomoda o PSOL. “Para nós, é um constrangimento muito grande ver deputados condenados exercendo o mandato”, disse o líder do partido na Câmara, deputado Ivan Valente (SP). Mesmo reconhecendo que não há disposição entre a maioria dos líderes partidários para votar a proposta de emenda constitucional que acaba com o voto secreto em casos de cassação de mandato, Valente diz que a prioridade do partido é acelerar essa discussão no plenário. “Sem o voto aberto, vamos continuar tendo casos desse tipo”, disse.

O líder do PP na Câmara, Arthur Lira (AL) disse à Agência Brasil que o partido ainda não conversou sobre a situação do deputado Pedro Henry. Ele destacou o fato de o colega não ter renunciado e ter sido eleito para mais dois mandatos depois das denúncias. “De qualquer forma, esse é um assunto que extrapola os partidos e cabe à Mesa Diretora da Casa, mas nem a pena foi definida pelo Supremo. Vamos esperar, acrescentou.

http://correiodobrasil.com.br/noticias/politica/jurista-afirma-que-cassacao-de-mandatos-pelo-stf-e-inconstitucional/550200/


sábado, 27 de outubro de 2012

Pesquisadores traçam "mapa" sobre a abordagem do problema do aquecimeto global na imprensa




Recentemente publicado na revista científica História, Ciências, Saúde-Manguinhos, pelo pesquisador prof. Dr. Celso Dal Ré Carneiro (professor livre docente, associado do Instituto de Geociências da Universidade Estadual de Campinas, Unicamp) e João Cláudio Toniolo, graduado em filosofia pela Unicamp, o estudo acadêmico buscou analisar o perfil das notícias e opiniões expressas pelos editoriais relativos ao tema do "aquecimento global", em alguns dos grandes veículos de comunicações de imprensa do Brasil, como a  Folha de S. Paulo, a Folha.com e o UOL. Os pesquisadores verificaram que do total de 676 notícias analisadas, de uma amostra de 3 mil que o relacionadas ao tema do "aquecimento global", apenas 1% das notícias constituem exceções à abordagem hegemônica de que o fenômeno do "aquecimento" seria causado pelo Homem (tese da causa antrópica ou do aquecimento de causa antrópica). 

Recomendados aos leitores a leitura do artigo, que, em última instância trata do problema da séria dificuldade apresentada pela grande imprensa para abordar de forma mais "imparcial" os debates envolvendo a construção do conhecimento científico, incluindo os debates acadêmicos entre teses antagônicas. As implicações desta dificuldade são ainda mais complexas quando se considera que muitas vezes, as políticas públicas são implementadas com base em uma ou outra tese que não foi amplamente verificada ou comprovada, ou ainda pior, são justificadas com base em hipóteses científicas, quando estas são apenas isso, hipóteses.     


 

CARNEIRO, Celso Dal Ré  & TONIOLO, João Cláudio (2012). A Terra 'quente' na imprensa: confiabilidade de notícias sobre aquecimento global. História, Ciências, Saúde-Manguinhos, vol.19, n.2, pp. 369-390. <http://www.scielo.br/pdf/hcsm/v19n2/02.pdf>


terça-feira, 23 de outubro de 2012

Nomeação de praça em Porto Alegre homenageia o professor, jornalista e militante Daniel Herz

Coletiva.net - 22 de Outubro de 2012

Daniel Herz empresta nome a praça em Porto Alegre

Falecido em 2006, jornalista foi reconhecido por seu trabalho pela Democratização da comunicação no Brasil. 

A praça número 3140 – localizada na Rua Paulo Renato Ketzer de Souza com José Miguel da Conceição, no bairro Rubem Berta – passou a chamar-se Jornalista Daniel Koslowsky Herz. Iniciativa do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Rio Grande do Sul (SindJors) para saudar seu ex-diretor, falecido em 2006, a proposta foi acolhida pelo vereador Adeli Sell e formalizada em cerimônia no local, ocorrida neste sábado, 20. Para a concretização da proposta, uma petição pública foi lançada na internet, e contou com adesão de nomes como Santiago, Edelberto Behs, Juarez Fonseca, Ayrton Kanitz, Adroaldo Bauer Corrêa, Flávio Porcello e Ayrton Centeno, entre centenas de pessoas.

Participaram da cerimônia diretores do sindicato, autoridades, amigos e familiares, além dos três filhos do homenageado - Fernando, Guilherme e Ada. "No momento em que o Brasil retoma o Conselho de Comunicação no Congresso Nacional, vemos a importância que se dá à memória do Daniel, reconhecendo o trabalho que teve pela democratização da Comunicação”, relatou José Nunes, presidente do SindJors. Celia Stadnik, viúva do jornalista, se disse feliz por ver reconhecido o trabalho do ex-companheiro . "Achei bonito, diferenciado, lembrando o papel que ele teve na Comunicação", comentou.

Nascido em 29 de dezembro de 1954, em Porto Alegre, Daniel Herz foi um dos fundadores do Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação e é até hoje referência para os movimentos por uma comunicação mais democrática. Em 1992, tornou-se diretor do Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado do Rio Grande do Sul e, no mesmo ano, passou a atuar como diretor da Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj). Também foi um dos idealizadores do Conselho de Comunicação Social do Congresso Nacional, do qual fez parte.

Nas discussões sobre a democratização da comunicação, nos anos 1970, Daniel trabalhou pela ampliação e qualificação do debate, mostrando que a comunicação ia além da técnica ou do domínio de uma ferramenta. Daniel faleceu em Porto Alegre, em 30 de maio de 2006, por complicações do mieloma múltiplo.


http://www.coletiva.net/site/noticia_detalhe.php?idNoticia=47385


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Homenagem

Jornalista Daniel Herz é nome de praça na Capital

Na presença de familiares, amigos, colegas de trabalho e profissionais da área da comunicação foi realizado, no sábado (20/10), ato de descerramento de placa nomeando praça no bairro Rubem Berta de jornalista Daniel Koslowsky Herz. A escolha do homenageado partiu da iniciativa de amigos e jornalistas, companheiros em sua trajetória pela democratização dos meios de comunicação.

“Trata-se de uma justa honraria ao grande militante, professor, sindicalista, escritor, estrategista político, pesquisador e empresário que Daniel Herz foi”, observou Adeli Sell, proponente da homenagem. “O que seria da TV a cabo sem uma legislação adequada?” emendou o parlamentar ao lembrar que a Lei do Cabo foi uma das principais realizações de Herz, pois disciplinou os serviços de TV por assinatura, criando os canais comunitários, universitários, públicos e legislativos, e adotou os conceitos de universalização dos serviços, compartilhamento de infraestrutura e controle público. 

Emociados com o ato, os familiares agradeceram pela iniciativa da Câmara Municipal. “É uma emoção e um reconhecimento muito grande ouvir de todos vocês a importância que o nosso Daniel teve para a sociedade. Saber que publicamente é reconhecido é uma honra para todos nós”, disse Célia Stadnik, víuva do jornalista falecido em 2006. Os filhos Fernando (27), Guilherme (21) e Ada (16) também acompanharam o ato. 

Sindjors
Da sua trajetória, merece destaque o fato de ter sido um dos fundadores do Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação e diretor do Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado do Rio Grande do Sul em 1992, aos 37 anos. Sua contribuição foi fundamental em diversos aspectos, principalmente depois que passou a atuar, no mesmo ano, como diretor da Federação Nacional dos Jornalistas.

"No momento em que o Brasil retoma o Conselho de Comunicação no Congresso Nacional, vemos a importância que se dá à memória do Daniel, reconhecendo o trabalho que teve pela democraitzação da Comunicação. Por isso o Sindicato está na luta pelo Conselho Estadual de Comunicação, e esse papel o Daniel soube fazer muito bem. O Sindicato está fazendo o que ele propôs, de uma verdadeira democracia na Comunicação, ao contrário dos donos da mídia, que estão querendo apenas o monopólio. É uma honra poder homenagear Daniel Herz", relatou José Maria Rodrigues Nunes, presidente do Sindjors. Nunes ainda entregou aos familiares medalha em comemoração aos 70 anos do Sindicato, celebrado neste ano. 

A praça que ganhou o nome de Daniel Herz está localizada na Rua Paulo Renato Ketzer de Souza com Rua José Miguel da Conceição, Zona Norte da cidade. O local é referência importante para a comunidade, sendo utilizada para esportes e lazer.

Tatiana Feldens
Gabinete do vereador Adeli Sell (PT)

sexta-feira, 31 de agosto de 2012

O desafio sul-americano, por Samuel Pinheiro Guimarães


Carta Maior, 30/08/2012

Samuel Pinheiro Guimarães: O desafio sul-americano

O principal desafio da política externa brasileira no século XXI será a América do Sul. No processo de construção da integração América do Sul é preciso vencer o pessimismo interessado daqueles que, externa e internamente, não acreditam no potencial nem do Brasil, nem do Mercosul, nem da América do Sul, e que preferem sonhar com a volta ao regaço do colonialismo, até recentemente sob as roupagem tentadoras, agora meio esfrangalhadas, da globalização equânime, do livre comércio e da auto regulação dos mercados. O artigo é de Samuel Pinheiro Guimarães.

Samuel Pinheiro Guimarães - Especial para Carta Maior

1. O principal desafio da política externa brasileira no século XXI será a América do Sul.

2. A América Central e o Caribe, a América do Norte, a Europa, a África e a Ásia serão áreas de grande interesse, mas nenhuma delas apresenta para a política externa brasileira a mesma complexidade do que a América do Sul.

3. As relações do Brasil com cada país da América do Sul são fundamentais tanto bilateralmente como para a defesa dos interesses do país na esfera multilateral, em suas dimensões política, econômica e militar.

4. A característica essencial dessas relações são as assimetrias de ordem econômica, política e militar entre o Brasil e cada um de seus nove vizinhos de fronteira e os outros dois vizinhos de região, o Chile e o Equador.

5. O território brasileiro é cerca de três vezes o território da Argentina, que é o segundo maior da América do Sul, com seus quase três milhões de Km² o que naturalmente inclui as Ilhas Malvinas, Sandwich e Geórgia do Sul, ocupadas ilegalmente pela Inglaterra. A extraordinária extensão do território brasileiro, o quinto maior do mundo, significa que a possibilidade de o Brasil deter uma gama mais diversificada de recursos minerais assim como a de ter uma produção agrícola maior e mais variada é maior, em princípio, o que, aliás, já ocorre, do que a de seus vizinhos.

6. A população brasileira é quase cinco vezes a da Argentina (41 milhões) ou quatro vezes a da Colômbia (47 milhões), as duas maiores depois do Brasil, mas chega a ser 60 vezes a do Uruguai, com seus 3,3 milhões de habitantes. Quanto maior a população, maior a possibilidade de, superadas as extraordinárias desigualdades de renda, ter um mercado interno maior e de assim lograr construir uma economia industrial mais sofisticada e com um número de setores mais amplo.

7. Por esta razão, o Brasil, em comparação com seus vizinhos, logrou estruturar uma economia industrial e de serviços muito maior, mais sofisticada e diversificada.

8. No campo político, o Brasil soube nos últimos anos estreitar suas relações com os países africanos da Costa Ocidental, com os países árabes e ainda que em menor escala com os países asiáticos, exceto no caso especial da China, com os países chamados do Sul, no que o Presidente Lula e o Chanceler Celso Amorim chamaram de uma nova geografia econômica e política mundial.

9. No caso da África, o fato de ser o Brasil o segundo maior país do mundo em população negra; de não haver legislação de natureza discriminatória ainda que haja preconceito, porém cada vez menor; de estarem sendo executadas firmes políticas de igualdade racial; de serem implementadas amplas políticas de combate à pobreza; de ter tido relativo êxito em seu processo de industrialização; de existirem semelhanças de desafios sociais, tais como na educação, na saúde, na pobreza, na habitação e do êxito de vários programas brasileiros nessas áreas; de existirem desafios econômicos semelhantes, como na agricultura de cerrado e na construção da infraestrutura; de o Brasil desenvolver políticas de cooperação técnica e financeira sem imposição de condicionalidades, como faziam as potências coloniais e fazem as neocoloniais, tudo isto explica o êxito da política brasileira com a África.

10. Com o Oriente Próximo, o equilíbrio do Brasil em relação à situação na Palestina; a defesa de uma solução pacífica para a questão do Iraque antes da eclosão da Segunda Guerra do Golfo; a cooperação técnica com a Autoridade Palestina; a iniciativa com a Turquia junto ao Irã, para permitir o encaminhamento de uma solução pacífica para as pressões americanas (e dos seus coadjuvantes ocidentais) sobre o programa nuclear iraniano, aliás, nos termos de uma carta do Presidente Obama em que ele detalhava as exigências ocidentais, tudo isto são fatores que tem contribuído para a expansão das relações comerciais e políticas do Brasil com os países do Oriente Próximo.

11. Este esforço de diversificar a política externa brasileira ocorreu sem que fossem abandonados ou prejudicados os laços tradicionais, especialmente econômicos, com os países da Europa Ocidental e com os Estados Unidos.

12. As políticas domésticas de incorporação de grandes massas da população à economia moderna e ao mercado de consumo, tais como Bolsa Família, o Luz para Todos, o crédito popular, e os programas de construção da infraestrutura e o tratamento correto ao capital estrangeiro tiveram seu papel.

13. Assim, a equidistância e independência serena da política externa brasileira, a estabilidade democrática, o equilíbrio macroeconômico, os superávits do comércio exterior, as condições do mercado interno brasileiro e seu potencial fizeram com que, nos últimos anos, o influxo de capitais estrangeiros, mesmo depois da crise, venha sendo excepcional, em especial aquele proveniente dos Estados Unidos e da Europa, e em tempos mais recentes, da China.

14. Nem as relações com os Estados Unidos e com a Europa, alvejados pela crise que não dá sinais de fim; nem todo o extraordinário potencial das relações com a África; nem a complexidade da situação do Oriente Próximo, com seu potencial explosivo; nem as relações com a Ásia e com o seu centro dinâmico a China, em sua crescente disputa com os Estados Unidos, nada disto poderá trazer para o Brasil os mesmos desafios que traz a América do Sul.

15. O desafio da política externa brasileira estará na América do Sul.

16. Em um mundo crescentemente multipolar, em que a ação americana é onipresente e poderosa, e no qual as negociações internacionais tendem a ter cada vez maior importância não só para definir as relações entre os Estados mas para fixar parâmetros para políticas domésticas, é de grande relevância a constituição de um bloco de Estados na América do Sul, tanto para aqueles de menor como para aqueles de maior dimensão, como a Argentina e o Brasil. Nas negociações internacionais a cada Estado corresponde um voto seja ele um micro Estado do Pacífico seja ele a maior Potência do mundo. A título de exemplo, nas recentes eleições para Diretor Geral da FAO o brasileiro José Graziano da Silva foi eleito por quatro votos... Os Estados de menor dimensão, se isolados, se encontram numa posição de maior fragilidade na defesa de seus interesses ou tendem a ser absorvidos por blocos maiores liderados por países desenvolvidos onde seus interesses se diluem. Mas o mesmo ocorre com os países de maior dimensão. À própria Alemanha interessa a existência e a participação na União Européia. Para o Brasil a construção de um bloco sul-americano é um objetivo estratégico mais do que fundamental: é essencial. Muitos são os desafios a enfrentar para tornar realidade este projeto.

17. As dimensões da economia brasileira, a variedade de sua produção exportável, a dimensão de suas empresas faz com que o Brasil tenda a ter um superávit comercial significativo e crônico com praticamente cada país da América do Sul. Nossa produção industrial é mais diversificada e nossa produção agrícola é semelhante à dos países vizinhos e, quando menos competitiva, é capaz de articular mecanismos de defesa que impedem ou dificultam a concorrência externa.

18. As dimensões da economia brasileira fazem com que as empresas brasileiras sejam muito maiores do que as empresas dos países vizinhos.

19. Devido às limitações do mercado interno brasileiro, decorrentes da concentração de renda, as empresas brasileiras de capital nacional procuram expandir suas operações para o exterior, natural e inicialmente para os países vizinhos.

20. Essas empresas brasileiras tendem a adquirir empresas locais existentes, o que configura um processo de desnacionalização, ou, quando vem a construir capacidade instalada nova, tendem a ser produtoras concorrentes das empresas locais.

21. À medida que empresas brasileiras assumem um papel relevante em um determinado setor, sua atividade passa a ser vital para a economia do país vizinho onde estão instaladas.

22. Assim, quando o governo local edita leis de regulamentação do setor onde atuam essas empresas e elas consideram, com ou sem razão, que seus interesses (o que significa, em geral, os seus lucros) estão sendo atingidos passam elas a “agir” junto ao governo local e, em caso de insucesso, passam a procurar a ajuda do governo de seu país de origem, isto é do Brasil.

23. Estas situações tenderão naturalmente a ocorrer e, certamente, o Brasil não dispõe dos recursos de poder para impor aos países vizinhos a sua (isto é, dessas empresas) vontade para modificar a legislação do país onde se encontram e assim, não só por razões de princípio como de conveniência, o Brasil terá de se aferrar ao princípio de não intervenção nos assuntos internos de outros países, como determina sua Constituição, para evitar receber a pecha de imperialista ou, o que é pior, de subimperialista.

24. As relações entre os países vizinhos e o Brasil tenderão a se tornar mais complexas à medida que se ampliem os fluxos migratórios desses países para o Brasil em decorrência da magnitude do mercado brasileiro, de dificuldades econômicas e políticas nos países vizinhos, do diferencial das taxas de crescimento econômico e de maiores oportunidades de emprego.

25. As relações do Brasil com os países vizinhos se tornaram ainda mais complexas devido à política exterior norte americana para a América do Sul, em especial em período de grave e prolongada crise econômica e de primórdios da longa disputa pela hegemonia com a China.

26. Os Estados Unidos, na execução de sua política externa para a região, continuarão a procurar celebrar acordos de livre comércio com os países da região e nesta estratégia desintegrar o Mercosul e desestabilizar os governos da região que se opõem mais frontalmente às políticas americanas tais como a Venezuela, o Equador e a Bolivia. Ademais, estimulam projetos, como a Aliança do Pacífico, de iniciativa mexicana que envolve a Colômbia, o Chile e o Peru, que se propõem a ser um contraponto ao Mercosul.

27. A China, por sua vez, em sua estratégia de controlar o acesso a recursos naturais e em abrir mercados para suas exportações procurava fazer algo semelhante ao propor e negociar acordos de livre comércio com os países da América do Sul como fez agora aos países do Mercosul.

28. Tanto a ação dos Estados Unidos como a da China afetam o que deve ser o principal objetivo estratégico da política exterior brasileira: a construção de um polo econômico e político na América do Sul.

29. Os Estados Unidos, através de sua política de expansão comercial que tem como um de seus instrumentos a desvalorização do dólar pela quantitative easing (ampliação da oferta de dólares) e a China, pela sua política de exportação de manufaturados, afetam a economia brasileira gerando um processo de desindustrialização que, por sua vez, atinge os laços de comércio entre os países do Mercosul e da América do Sul, cuja base é o comércio de manufaturas.

30. Por outro lado, cerca de 90% do comércio intra Mercosul é o comércio entre Brasil e Argentina e cerca de 40 a 50% do comércio entre Brasil e Argentina corresponde a automóveis e autopeças, sendo um comércio entre megaempresas multinacionais, organizado pelos Estados, de acordo com as normas do acordo automotivo.

31. Ademais, a participação das megaempresas multinacionais nas economias e no comércio exterior nos países do Mercosul é notável. Mesmo a exportação de produtos agrícolas (commodities) é controlada por megaempresas multinacionais como a Dreyfus, a Cargill, a Bunge. O comércio intra Mercosul é em grande parte um comércio organizado pelas empresas multinacionais, de acordo com seu planejamento global de produção e de comércio.

32. Assim, caberia ao Brasil como maior economia do Mercosul e da América do Sul, em conjunto com a Argentina, fortalecer sua indústria e a dos demais países do Mercosul através de uma política de comércio organizado, sem insistir no mito de um comércio livre que, na realidade, não existe já que é organizado de fato por multinacionais; fortalecer os atrativos do Mercosul para os países menores já integrantes ou candidatos ao Mercosul através da ampliação do Fundo para a Convergência Estrutural do Mercosul - FOCEM; criar linhas de créditos que estimulassem as empresas brasileiras a fazer investimentos na América do Sul e no Mercosul para ampliar a capacidade instalada nos países e não para adquirir empresas existentes; reforçar de forma significativa os programas de cooperação técnica, inclusive na área militar; instalar unidades de instituições brasileiras de pesquisa como a Embrapa, a Fiocruz, o IPEA e outras nos países da América do Sul; e finalmente fortalecer os centros de pesquisas nacionais desses países.

33. Neste processo, de construção da América do Sul é preciso vencer o pessimismo interessado daqueles que, externa e internamente, não acreditam no potencial nem do Brasil, nem do Mercosul, nem da América do Sul, e que preferem sonhar com a volta ao regaço do colonialismo, até recentemente sob as roupagem tentadoras, agora meio esfrangalhadas, da globalização equânime, do livre comércio e da auto regulação dos mercados.
 
 
Fonte: http://www.cartamaior.com.br/templates/materiaMostrar.cfm?materia_id=20802


sábado, 18 de agosto de 2012

Mercosul X nova Alca X China : a necessidade de integrar a América do Sul para sobreviver à competição entre os gigantes

Agência Carta Maior, 17/08/2012

Mercosul versus a nova Alca versus a China



Hoje, o embate político, econômico e ideológico na América do Sul se trava entre os Estados Unidos, a maior potência do mundo; a crescente presença chinesa, com suas investidas para garantir acesso a recursos naturais, ao suprimento de alimentos e de suas exportações de manufaturas; e as políticas dos países do Mercosul, que ainda entretém aspirações de desenvolvimento soberano, pretendem atingir níveis de desenvolvimento social elevado e que sabem que, para alcançar estes objetivos, a ação do Estado, é indispensável. O artigo é de Samuel Pinheiro Guimarães.

Samuel Pinheiro Guimarães (*)



1. Todo o noticiário sobre Mercosul, Aliança do Pacífico, Parceria Transpacífica e China tem a ver com um embate ideológico entre duas concepções de política de desenvolvimento econômico e social.

2. A primeira dessas concepções afirma que o principal obstáculo ao crescimento e ao desenvolvimento é a ação do Estado na economia.

3. A ação direta do Estado na economia, através de empresas estatais, como a Petrobrás, ou indireta, através de políticas tributárias e creditícias para estimular empresas consideradas estratégicas, como a ação de financiamento do BNDES, distorceria as forças de mercado e prejudicaria a alocação eficiente de recursos.

4. Nesta visão privatista e individualista, uma política de eliminação dos obstáculos ao comércio e à circulação de capitais; de não discriminação entre empresas nacionais e estrangeiras; de eliminação de reservas de mercado; de mínima regulamentação da atividade empresarial, inclusive financeira; e de privatização de empresas estatais conduziria a uma eficiente divisão internacional do trabalho em que todas as sociedades participariam de forma equânime e atingiriam os mais elevados níveis de crescimento e desenvolvimento.

5. Esta visão da economia se fundamenta em premissas equivocadas. Primeiro, de que todos os Estados partem de um mesmo nível de desenvolvimento, de que não há Estados mais e menos desenvolvidos. Segundo, de que as empresas são todas iguais ou pelo menos muito semelhantes em dimensão de produção, de capacidade financeira e tecnológica e de que não são capazes de influir sobre os preços. Terceiro, de que há plena liberdade de movimento da mão de obra entre os Estados. Quarto, de que há pleno acesso à tecnologia que pode ser adquirida livremente no mercado. Quinto, de que todos os Estados, inclusive aqueles mais desenvolvidos, seguem hoje e teriam seguido passado esse tipo de políticas.

6. Como é obvio, estas premissas não correspondem nem à realidade da economia mundial, que é muito, muito mais complexa, nem ao desenvolvimento histórico do capitalismo.

7. Historicamente, as nações hoje altamente desenvolvidas utilizaram uma gama de instrumentos de política econômica que permitiram o fortalecimento de suas empresas, de suas economias e de seus Estados nacionais. Isto ocorreu mesmo na Inglaterra, que foi a nação líder do desenvolvimento capitalista industrial, com a Lei de Navegação, que obrigava o transporte em navios ingleses de todo o seu comércio de importação e exportação; com a política de restrição às exportações de lã em bruto e às importações de tecidos de lã; com as restrições à exportação de máquinas e à imigração de “técnicos”.

8. Políticas semelhantes utilizaram a França, a Alemanha, os Estados Unidos e o Japão. Países que não o fizeram naquela época, tais como Portugal e Espanha, não se desenvolveram industrialmente e, portanto, não se desenvolveram.
 


9. Se assim foi historicamente, a realidade da economia atual é a de mercados financeiros e industriais oligopolizados em nível global por megaempresas multinacionais, cujas sedes se encontram nos países altamente desenvolvidos. A lista das maiores empresas do mundo, publicada pela revista Forbes, apresenta dados sobre essas empresas cujo faturamento é superior ao PIB de muitos países. Das 500 maiores empresas, 400 se encontram operando na China. Os países altamente desenvolvidos protegem da competição estrangeira setores de sua economia como a agricultura e outros de alta tecnologia. Através de seus gigantescos orçamentos de defesa, todos, inclusive a Alemanha e o Japão, que não poderiam legalmente ter forças armadas, subsidiam as suas empresas e estimulam o desenvolvimento cientifico e tecnológico. Com os programas do tipo “Buy American” e outros semelhantes, privilegiam as empresas nacionais de seus países; através da legislação e de acordos cada vez mais restritivos de proteção à propriedade intelectual, dificultam e até impedem a difusão do conhecimento tecnológico. Através de agressivas políticas de “abertura de mercados” obtém acesso aos recursos naturais (petróleo, minérios etc) e aos mercados dos países periféricos, em troca de uma falsa reciprocidade, e conseguem garantir para suas megaempresas um tratamento privilegiado em relação às empresas locais, inclusive no campo jurídico, com os acordos de proteção e promoção de investimentos, pelos quais obtém a extraterritorialidade. Como é sabido, protegem seus mercados de trabalho através de todo tipo de restrição à imigração, favorecendo, porém, a de pessoal altamente qualificado, atraindo cientistas e engenheiros, colhendo as melhores “flores” dos jardins periféricos.

10. A segunda concepção de desenvolvimento econômico e social afirma que, dada a realidade da economia mundial e de sua dinâmica, e a realidade das economias subdesenvolvidas, é essencial a ação do Estado para superar os três desafios que tem de enfrentar os países periféricos, ex-colônias, algumas mais outras menos recentes, mas todas vítimas da exploração colonial direta ou indireta. Esses desafios são a redução das disparidades sociais, a eliminação das vulnerabilidades externas e o pleno desenvolvimento de seu potencial de recursos naturais, de sua mão de obra e de seu capital.

11. As extremas disparidades sociais, as graves vulnerabilidades externas, o potencial não desenvolvido caracterizam o Brasil, mas também todas as economias sul-americanas. A superação desses desafios não poderá ocorrer sem a ação do Estado, pela simples aplicação ingênua dos princípios do neoliberalismo, de liberdade absoluta para as empresas as quais, aliás, levaram o mundo à maior crise econômica e social de sua História: a crise de 2007. E agora, Estados europeus, pela política de austeridade (naturalmente, não para os bancos) que ressuscita o neoliberalismo, atacam vigorosamente a legislação social, propagam o desemprego e agravam as disparidades de renda e de riqueza. Mas isto é tema para outro artigo.

12. Assim, neste embate entre duas visões, concepções, de política econômica, a aplicação da primeira política, a do neoliberalismo, levou à ampliação da diferença de renda entre os países da América do Sul e os países altamente desenvolvidos nos últimos vinte anos até a crise de 2007. Por outro lado, é a aplicação de políticas econômicas semelhantes, que preveem explicitamente a ação do Estado, que permitiu à China crescer à taxa média de 10% a/a desde 1979 e que farão que a China venha a ultrapassar os EUA até 2020. Ainda assim, há aqueles que na periferia não querem ver, por interesse ou ideologia, a verdadeira natureza da economia internacional e a necessidade da ação do Estado para promover o desenvolvimento. Nesta economia internacional real, e não mitológica, é preciso considerar a ação da maior Potência.

13. A política econômica externa dos Estados Unidos, a partir do momento em que o país se tornou a principal potência industrial do mundo no final do século XIX e em especial a partir de 1945, com a vitória na Segunda Guerra Mundial, e confiante na enorme superioridade de suas empresas, tem tido como principal objetivo liberalizar o comércio internacional de bens e promover a livre circulação de capitais, de investimento ou financeiro, através de acordos multilaterais como o GATT, mais tarde OMC, e o FMI; de acordos regionais, como era a proposta da ALCA e de acordos bilaterais, como são os tratados de livre comércio com a Colômbia, o Chile, o Peru, a América Central e com outros países como a Coréia do Sul. E agora as negociações, altamente reservadas, da chamada Trans-Pacific Partnership - TPP, a Parceria Transpacífica, iniciativa americana extremamente ambiciosa, que envolve a Austrália, Brunei, Chile, Malásia, Nova Zelândia, Peru, Singapura, Vietnã, e eventualmente Canadá, México e Japão, e que, nas palavras de Bernard Gordon, Professor Emérito de Ciência Política, da Universidade de New Hampshire, “adicionaria bilhões de dólares à economia americana e consolidaria o compromisso político, financeiro e militar dos Estados Unidos no Pacifico por décadas”. O compromisso, a presença, a influência dos Estados Unidos no Pacifico isto é, na Ásia, no contexto de sua disputa com a China. A TPP merece um artigo à parte.

14. Através daqueles acordos bilaterais, procuram os EUA consagrar juridicamente a abertura de mercados e obter o compromisso dos países de não utilizar políticas de desenvolvimento industrial e de proteção do capital nacional. Não desejam os Estados Unidos ver o desenvolvimento de economias nacionais, com fortes empresas, capazes de competir com as megaempresas americanas, por razões óbvias, entre elas a consequente redução das remessas de lucros das regiões periféricas para a economia americana. Os lucros no exterior são cerca de 20% do total anual dos lucros das empresas americanas!

15. Nas Américas, a política econômica dos Estados Unidos teve sempre como objetivo a formação de uma área continental integrada à economia americana e liderada pelos Estados Unidos que, inclusive, contribuísse para o alinhamento político de cada Estado da região com a política externa americana em seus eventuais embates com outros centros de poder, como a União Européia, a Rússia e hoje a China.

16. Assim, já no século XIX, em 1889 , no mesmo ano em que Deodoro da Fonseca proclamou a República, na Conferência Internacional Americana, em Washington, os Estados Unidos propuseram a criação de uma união aduaneira continental. Esta proposta, que recebeu acolhida favorável do Brasil, no entusiasmo pan-americano da recém-nascida república, foi rejeitada pela Argentina e outros países.

17. Com a I Guerra Mundial, a Grande Depressão, a ascensão do nazismo e a Segunda Guerra Mundial, os Estados Unidos procuraram estreitar seus laços econômicos com a América Latina, aproveitando, inclusive, a derrota alemã e o retraimento francês e inglês, influências históricas tradicionais.

18. Em 1948, na IX Conferência Internacional Americana, em Bogotá, propuseram novamente a negociação de uma área de livre comércio nas Américas; mais tarde, em 1988, negociaram o acordo de livre comércio com o Canadá, que seria transformado em Nafta com a inclusão do México, em 1994; e propuseram a negociação de uma Área de Livre Comércio das Américas, a ALCA, em 1994.

19. A negociação da ALCA fracassou em parte pela oposição do Brasil e da Argentina, a partir da eleição de Lula, em 2002 e de Kirchner, em 2003 e, em parte, devido à recusa americana de negociar os temas de agricultura e de defesa comercial, o que permitiu enviar os temas de propriedade intelectual, compras governamentais e investimentos para a esfera da OMC, o que esvaziou as negociações.

20. O objetivo estratégico americano, todavia, passou a ser executado, agora com redobrada ênfase, através da negociação de tratados bilaterais de livre comércio, que concluíram com o Chile, a Colômbia, o Peru, a América Central e República Dominicana, só não conseguindo o mesmo com o Equador e a Venezuela devido à eleição de Rafael Correa e de Hugo Chávez e à resistência do Mercosul às investidas feitas junto ao Uruguai.

21. Assim, a estratégia americana tem tido como resultado, senão como objetivo expresso, impedir a integração da América do Sul e desintegrar o Mercosul através da negociação de acordos bilaterais, incorporando Estado por Estado na área econômica americana, sem barreiras às exportações e capitais americanos e com a consolidação legal de políticas econômicas internas, em cada país, nas áreas de propriedade intelectual, compras governamentais, defesa comercial, investimentos, em geral com dispositivos chamados de OMC – Plus, mais favoráveis aos Estados Unidos do que aqueles que conseguiram incluir na OMC, que, sob o manto de ilusória reciprocidade, beneficiam as megaempresas americanas, em especial neste momento de crise e de início da competição sino-americana na América Latina.

22. Na execução deste objetivo, de alinhar econômica, e por consequência politicamente, toda a América Latina sob a sua bandeira contam com o auxílio dos grupos internos de interesse em cada país que, tendo apoiado a ALCA no passado, agora apoiam a negociação de acordos bilaterais ou a aproximação com associações de países, tais como a Aliança do Pacífico, que reúne países sul-americanos e mais o México, que celebraram acordos de livre comércio com os EUA.

23. Hoje, o embate político, econômico e ideológico na América do Sul se trava entre os Estados Unidos da América, a maior potência econômica, política, militar, tecnológica, cultural e de mídia do mundo; a crescente presença chinesa, com suas investidas para garantir acesso a recursos naturais, ao suprimento de alimentos e de suas exportações de manufaturas e que, para isto, procuram seduzir os países da América do Sul e em especial do Mercosul com propostas de acordos de livre comércio; e as políticas dos países do Mercosul, Argentina, Brasil, Venezuela, Uruguai e Paraguai que ainda entretém aspirações de desenvolvimento soberano, pretendem atingir níveis de desenvolvimento social elevado e que sabem que, para alcançar estes objetivos, a ação do Estado, i.e. da coletividade organizada, é essencial, é indispensável.

FONTE: http://www.cartamaior.com.br/templates/materiaMostrar.cfm?materia_id=20737