quarta-feira, 31 de julho de 2013

"Brasil: geopolítica e desenvolvimento", por José Luís Fiori

Carta Maior,  31/07/2013

Brasil: geopolítica e desenvolvimento

José Luís Fiori
 
Apesar da posição do governo, existem divisões e resistências profundas, dentro de suas elites e de suas agências governamentais, que seguem retardando a consolidação efetiva da nova estratégia brasileira. Como se o sistema político, a sociedade e a intelectualidade brasileira ainda não estivessem preparados para assumir os objetivos definidos pelos documentos oficiais. Por José Luís Fiori


“A impotência dos economistas não é culpa da economia, é culpa do “desenvolvimento” que não cabe dentro dos limites estreitos da própria economia.”
J.L.F. “Poder, Geopolítica e Desenvolvimento”, Editora Boitempo, SP, 2013, pg 21, (no prelo)


1. Na primeira década do século XXI, o Brasil começou a trilhar uma estratégia de afirmação internacional que retoma iniciativa proposta e interrompida na década de 60. De maneira ainda titubeante, o Brasil vem expandindo sua presença em alguns tabuleiros geopolíticos e vem tentando aumentar sua capacidade de defesa autônoma de suas reivindicações internacionais. A nova estratégia foi definida pelo Plano Nacional de Defesa, e pela Estratégia Nacional de Defesa, aprovados pelo Congresso Nacional, em 2005 e 2008, respectivamente. Nos dois documentos, o governo brasileiro propõe uma política externa que integre suas ações diplomáticas, com suas politicas de defesa e de desenvolvimento econômico, e ao mesmo tempo, introduz um conceito inovador na história democrática do país, o conceito de “entorno estratégico”, onde o Brasil se propõe irradiar, de forma preferencial, a sua influência e a sua liderança, incluindo a América do Sul, a África Subsaariana, a Antártida, e a bacia do Atlântico Sul.

2. Um país pode projetar o seu poder e a sua liderança, fora de suas fronteiras nacionais, através da coerção, da cooperação, da difusão das suas ideias e valores, e também, através da sua capacidade de transferir dinamismo econômico para sua “zona de influência”. Mas em qualquer caso, uma política de projeção de poder exige objetivos claros e uma coordenação estreita, entre as agencias responsáveis pela política externa do país, envolvendo a diplomacia, a defesa, e as políticas econômica e cultural. Sobretudo exige uma sociedade mais igualitária e mobilizada, e uma “vontade estratégica” consistente e permanente, ou seja, uma capacidade social e estatal de construir consensos em torno de objetivos internacionais de longo prazo, junto com a capacidade de planejar e implementar ações de curto e médio prazo, em conjunto com os atores sociais, políticos e econômicos relevantes.

3. Ao contrário de tudo isto, desde a II Guerra Mundial, e mesmo depois do fim da Guerra Fria, até o início do século XXI, a política externa brasileira oscilou no tempo, mudando seus objetivos imediatos segundo o governo, apesar de que tenha mantido sempre seu alinhamento – quase automático – ao lado das “grandes potências ocidentais”. E mesmo hoje, apesar da posição do governo, existem divisões e resistências profundas, dentro de suas elites e dentro de suas agências governamentais, que seguem retardando a consolidação efetiva da nova estratégia brasileira. Como se o sistema político, a sociedade e a intelectualidade brasileira ainda não estivessem preparados para assumir os objetivos definidos pelos documentos oficiais. A própria universidade brasileira só expandiu recentemente sua capacidade de pesquisa e formação de recursos humanos na área internacional. E algumas universidades do país não possuem nem centros nem unidades especializadas, como é o caso surpreendente da UFRJ, a maior universidade federal do país. Além disto, existe uma carência acentuada de instituições ou think tanks que cumpram o papel de reunir as informações e as ideias indispensáveis para o estudo e a escolha de alternativas, e para a orientação inteligente da inserção internacional do país.

4. De qualquer maneira, se o Brasil conseguir sustentar suas novas posições, terá que se enfrentar inevitavelmente com uma regra fundamental do sistema: todo país que se propõe ascender a uma nova posição de liderança regional ou global em algum momento terá que questionar os “consensos éticos” e os arranjos geopolíticos e institucionais que foram definidos e impostos previamente, pelas potências que já são ou foram dominantes, dentro do sistema mundial. Esta regra não impede o estabelecimento de convergências e alianças táticas, entre a potência ascendente com uma ou várias das antigas potencias dominantes, mas exige que a potência ascendente mantenha seu objetivo permanente de crescer, expandir e galgar posições, dentro do sistema internacional. Isto não é uma veleidade ideológica, é um imperativo do próprio sistema interestatal capitalista: neste sistema, “quem não sobe cai” (nota).

5. Mesmo assim, sempre existirá um imenso espaço de liberdade e de invenção revolucionária para o Brasil: descobrir como projetar seu poder e sua liderança fora de suas fronteiras sem seguir o figurino tradicional das grandes potências. Ou seja, sem reivindicar nenhum tipo de “destino manifesto”, sem utilizar a violência bélica dos europeus e norte-americanos, e sem se propor conquistar qualquer povo que seja, para “convertê-lo”, “civilizá-lo”, ou simplesmente comandar o seu destino.

Nota
Elias, N. (1993), O Processo Civilizador, Jorge Zahar Editores, Rio de Janeiro, pág. 94

sábado, 20 de julho de 2013

Seminário “Novas geopolíticas e a Pan-Amazônia organizado pelo Centro de Estudos Estratégicos do Exército e pelo Instituto Pandiá Calógeras


Mundorama
 
Evento – Seminário “Novas geopolíticas e a Pan-Amazônia" 

04/07/2013 por Antônio Carlos Lessa

Compreender a posição internacional do Brasil é importante para desenhar as políticas governamentais destinadas a alçar o país a uma posição de maior relevância no mundo.

As iniciativas atualmente empreendidas pelo Estado brasileiro vêm obtendo êxitos na área social, atendendo diretamente aos interesses da população no curto prazo, mas esses ganhos só se traduzirão em benefícios de longo prazo se estiverem associados claramente a objetivos estratégicos. Isso requer exame das capacidades e das vulnerabilidades nacionais, esforço em que se incorre mediante a publicação de documentos como a Estratégia Nacional de Defesa e o Livro Branco de Defesa Nacional.

Além da publicação de documentos oficiais, importante contribuição para essa discussão pode resultar da interação entre atores políticos e a sociedade brasileira. Em um ambiente complexo, como o cenário internacional na atualidade, esse diálogo ganha relevância e pode contribuir para a definição dos conceitos que fundamentarão as ações necessárias a transformar os avanços setoriais já alcançados em uma mudança estrutural definitiva.

Com o objetivo de promover esse debate, o Centro de Estudos Estratégicos do Exército Brasileiro (CEEEx), em parceria com o Instituto Pandiá Calógeras do Ministério da Defesa, realizará o Seminário “Novas geopolíticas e a Pan-Amazônia”.

A iniciativa consiste na primeira reunião temática do CEEEx e visa contribuir tanto para fortalecer os estudos de Geopolítica, promovendo a reflexão sobre sua relevância na contemporaneidade, quanto para difundir informações sobre as ações cooperativas levadas a efeito pelo Governo brasileiro na América do Sul. Objetiva-se, também, aproveitar a ocasião para estreitar os laços entre indivíduos preocupados com a defesa da Amazônia.

Ao promover o evento, o CEEEx cumpre sua missão de conduzir estudos prospectivos de interesse do Exército e o Instituto Pandiá avança em seus objetivos de incentivar a pesquisa e a formação de recursos humanos no campo de defesa nacional e de promover, estimular e participar de eventos vinculados à sua área de atuação, contribuindo, ainda, para aproximar civis e militares no meio acadêmico nacional.
O seminário “Novas geopolíticas e a Pan-Amazônia” ocorrerá entre os dias 9 e 11 de julho de 2013, no período da tarde, no auditório do Estado-Maior do Exército, Bloco A, 1º piso. O encontro abordará diferentes perspectivas teóricas da Geopolítica, a partir das quais se discutirá, em caráter prospectivo, o significado estratégico da Amazônia para o Brasil e seu entorno.

O conceito de Geopolítica e as abordagens produzidas por esse ramo do conhecimento têm passado por constantes modificações. É preciso refletir sobre o alcance e a propriedade do emprego dessas concepções teóricas para interpretar a realidade contemporânea. Em outras palavras, a análise das opções brasileiras no complexo cenário atual já não se deve fundamentar apenas na mensuração de seus recursos naturais, no tamanho de seu território, em seu posicionamento geográfico, em suas alianças e capacidades militares, como destacavam Mahan, Mackinder, Spykman, Haushofer ou Douhet, geopolíticos clássicos. Atualmente, examinam-se as capacidades das potências internacionais no marco de uma combinação intrincada de variáveis, que dependem, por exemplo, de sua capacidade de resistir a crises econômicas internacionais, de sua vulnerabilidade às mudanças climáticas, do grau em que provêm condições satisfatórias a sua população e de sua habilidade em agregar apoios a seus interesses.

A partir da realização de debates sobre os conceitos tradicionais de Geopolítica e sobre sua capacidade de trazer contribuições para a análise do papel do Brasil no cenário internacional, o Seminário pretende contribuir para a construção de um pensamento geopolítico próprio para nosso país, com ênfase na importância de uma maior aproximação com nosso Entorno Estratégico e, mais especificamente, na relevância da Amazônia.

A programação, o termo de referência, a ficha de inscrição e outras informações sobre o evento podem ser encontrados no sítio eletrônico: http://www.eme.eb.mil.br/ceeex/ireuniaoceeex



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Leia os textos preparatórios:


Acesse as apresentações realizadas no seminário:


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