domingo, 22 de novembro de 2015

A hegemonia alemã na Europa


A hegemonia alemã na Europa 

Nesta segunda-feira, 23 de novembro de 2015, no Clube de Cultura de Porto Alegre, ocorre um debate entre o prof. Dr. Paulo G. Fagundes Visentini e o prof. José Miguel Quedi Martins sobre o "Novo papel da Alemanha: derrotada em 1945, dona da Europa em 2015".

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Referente a este tema, recomendamos a leitura do artigo de Emmanuel Todd:




TODD, Emmanuel (2014). La France s’est mise en état de servitude volontaire par rapport à l’Allemagne.  Les Crises, 01 setembro 2014.



https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiok9YpB9WvKWjsZvDhBm9XRMpwJCCpfG3wAbCLlZ6kbKt825mmNkNe66wQOmhu_b2DAL9ag4KYQvoTVuGmDcL2tbTyDnDYXLCSnt7NVs18Ft_vzsiflOPTlUSJapm-8fM38EL5sSNz_Gc/s1600/Emmanuel+todd-mapa.jpgA França estabeleceu um estado de servidão voluntária em relação à Alemanha





Olivier Berruyer (OB): Emmanuel Todd, como você vê a crise atual com a Rússia?
Emmanuel Todd (ET): Há alguma coisa estranha, irreal, no atual sistema internacional. Alguma coisa não faz sentido: todo mundo dedicado a atacar uma Rússia que mal chega aos 145 milhões de habitantes, que se reergueu, é verdade, mas em relação à qual ninguém pode supor que volte a ser potência dominante, em escala mundial, nem mesmo em escala europeia. A força da Rússia é fundamentalmente defensiva. Manter a integridade de seu território imenso já é problemático, com população tão reduzida, comparável à do Japão.
A Rússia é uma potência de equilíbrio: seu arsenal nuclear e sua autonomia energética fazem com que possa desempenhar o papel de contrapeso aos EUA. A Rússia pode permitir-se acolher Snowden e ajudar a defender as liberdades civis no Ocidente. Mas a hipótese de uma Rússia que devore a Europa e o mundo é absurda.
OB: No início de sua carreira você interessava-se muito mais pela URSS – chegou a prever a desintegração iminente. Hoje, a Rússia não tem mais o nível hegemônico daquele tempo, e embora a Rússia seja mais democrática que a URSS, é tratada com ainda mais desconsideração. Por exemplo, quando a URSS interveio na Tchecoslováquia, em 1968, com seus tanques, houve protestos, mas rapidamente, em semanas, a histeria acabou. Hoje, quando não acontece nada nem semelhante, além de uma população que vota democraticamente na Crimeia a favor de ser reintegrada à casa da mãe russa, tem-se a impressão de que estaria acontecendo drama terrível, que justificaria até fazermos guerra à Rússia para devolver a Crimeia, contra a vontade dos crimeanos, à Ucrânia. Por que o tratamento tão diferente?
ET: Essa questão não diz respeito só à Rússia, diz respeito a todo o Ocidente. O Ocidente, com certeza massivamente dominante, está hoje contudo, em todos os estados que o compõem, inquieto, ansioso, doente: crise financeira, estagnação ou baixa nos ganhos, aumento das desigualdades, ausência total de perspectivas e, no caso da Europa continental, crise demográfica. Se nos colocamos no plano ideológico, essa fixação contra a Rússia parece ser a procura de um bode expiatório, melhor, como a criação de inimigo necessário para manter alguma qualquer mínima coerência no Ocidente. A União Europeia nasceu contra a URSS; não vive sem o adversário russo.
Mas também é verdade que a Rússia impõe ao mundo ocidental alguns problemas de “valores”. Contudo, ao contrário do que sugerem as asneiras antiputinistas e russofóbicas do Jornal Le Monde, o problema do Ocidente é o caráter positivo e útil de vários valores da cultura e da história russa.
A Rússia não acompanhou o mundo ocidental na trilha do “liberalismo total”. Lá, se manteve e reafirmou-se um determinado papel para o Estado, e, também, uma determinada ideia nacional. É país que está começando a reerguer-se, inclusive em termos de fecundidade, de diminuição da mortalidade infantil. O desemprego é baixo.
Sem dúvida: os russos são pobres e ninguém na Europa ocidental inveja o sistema russo, também no nível das liberdades. Mas ser russo hoje é pertencer a uma coletividade nacional forte e protetiva, é a possibilidade de se projetar mentalmente para um futuro melhor, é estar andando para alguma coisa. Quem pode dizer a mesma coisa da França?
A Rússia está em vias de se tornar, sem que esse seja algum tipo de projeto, uma verdadeira ameaça para os que, no ocidente, fazem ares de nos governar, perdidos na história, que falam de valores ocidentais, mas que, como diz, acho, Basile de Koch, “em matéria de valores, só reconhecem os bursáteis”. Mas já não se trata de conflito entre Oriente e Ocidente, tradicional, regressivo, no sentido psiquiátrico, no qual os EUA seriam o motor.
A crise atual tem tudo a ver com a intervenção europeia na Ucrânia. Se se escapa do delírio ‘jornalístico’ das mídias ‘ocidentais’, que parecem ter regredido a 1956, em plena guerra fria ameaçando esquentar, e observamos a realidade geográfica dos fenômenos, o que se vê, muito simplesmente, é que o conflito acontece numa zona tradicional de enfrentamento entre Alemanha e Rússia.
Desde o início tive a sensação de que os EUA, dessa vez, talvez por medo da desmoralização depois que a Crimeia quis voltar à Rússia, acompanharam os passos da Europa, ou, mais, da própria Alemanha, porque é a Alemanha quem controla a Europa. Veem-se sinais contraditórios vindos da Alemanha. Às vezes, a Alemanha parece mais pacifista, numa linha de retirada, de cooperação. Outras vezes, ao contrário, aparece fortemente contestatária, ou enfrenta declaradamente a Rússia. O vigor dessa linha dura aumenta dia a dia.
Steinmeier levou Fabius e Sikorski a Kiev. Mas Merkel vai sozinha, em visita ao novo protetorado ucraniano. E não é só nesse enfrentamento, que a Alemanha caminha na frente. No espaço de seis meses, também nas últimas semanas, quando já estava em virtual conflito com a Rússia nas planícies ucranianas, Merkel humilhou os ingleses, ao impor-lhes Juncker, com grosseria inacreditável, como presidente da Comissão Europeia. Evento ainda mais extraordinário, os alemães começaram a afrontar os EUA, servindo-se de uma história de espionagem pelos norte-americanos.
É absolutamente inacreditável, se se conhecem as relações muito íntimas entre as atividades de informação e inteligência norte-americanas e alemãs, desde a guerra fria. Parece também hoje, que os serviços alemães de informação, BND, também espionam, muito normalmente, os políticos norte-americanos. Ainda que soe chocante, eu diria que, consideradas as ambiguidades da política alemã, sou absolutamente favorável a que a CIA monitore os responsáveis pela política alemã. Espero também que os serviços de informação franceses façam seu serviço e participem da vigilância sobre uma Alemanha cada vez mais ativa e aventurosa no plano internacional.
O que se deve considerar é que essa agressividade antiamericana da Alemanha é fenômeno novo, que temos de considerar. O estilo é fascinante. O modo como os políticos alemães falaram dos norte-americanos manifesta profundo desprezo. Já há importante fundo antiamericano além-Reno. Pude avaliá-lo quando do lançamento da edição alemã do meu livro Depois do Império. Acho que aquele fundo antiamericano explica o sucesso excepcional da edição em alemão. Já houve até um momento em que o governo alemão zombou das reprimendas norte-americanas em matéria de gestão econômica. Contribuir para o equilíbrio da demanda mundial? E depois, o que mais?
A Alemanha tem seu projeto, de poder, mais do que de bem-estar: comprimir a demanda na Alemanha, pôr a ferros os países endividados do sul, pôr uns amendoins ao sistema bancário francês que controla o Eliseu, etc..
Num primeiro momento, quando a Crimeia foi tomada, estive mais sensível ao restabelecimento da Rússia: potência que não quer mais se deixar atropelar e que é capaz de tomar decisões. Hoje, constato que a Rússia é, fundamentalmente, uma nação em estabilização, e só em estabilização, por mais que tantos pintem a Rússia como um lobo-mau.
Mas a verdadeira potência emergente, antes da Rússia, é a Alemanha. A Alemanha fez um caminho prodigioso, das dificuldades econômicas que tinha quando da reunificação até o restabelecimento econômico e, na sequência, a tomada de controle sobre todo o continente, nos últimos cinco anos. Tudo isso está aí para ser reinterpretado
A crise financeira não apenas demonstrou a solidez da Alemanha. Ela também revelou a capacidade da Alemanha para usar a crise da dívida para baixar a crista de todo o continente.
Se nos livramos da retórica arcaica da guerra fria, se paramos de sacudir o chocalho ideológico da democracia liberal e de seus valores, se se para de dar ouvidos ao blá-blá-blá europeísta, para observar a sequência em curso de modo a observar a sequência histórica em andamento, de modo bruto, quase como uma criança, em resumo, se se aceita ver que o rei está nu, contata-se que:
(1) ao longo dos últimos cinco últimos anos, a Alemanha tomou o controle do continente europeu no plano econômico e político; e que
(2) ao cabo desses mesmos cinco anos, a Europa já está virtualmente em guerra contra a Rússia!
Esse fenômeno simples é ocultado por uma dupla negação; dois países agem como ferrolhos para impedir que compreendamos a realidade do que se passa.
Primeiro, a França, que continua sem admitir que se pôs em estado de servidão voluntária, na relação com a Alemanha. Não pode fazer diferente, porque não admite plenamente o crescimento do poder da Alemanha e o fato de que não está no padrão que lhe permita controlar esse crescimento. Se há lição geopolítica a extrair da IIª Guerra Mundial, é que a França não consegue controlar a Alemanha; e que temos de reconhecer as imensas qualidades de organização e de disciplina econômica... e o não menos imenso potencial para a irracionalidade política.
Que a França recusa-se a ver a realidade alemã é uma evidência. Já há algum tempo venho falando de François Hollande como “vice-chanceler Hollande”. Pensando bem, de fato, ele é mais um simples “diretor de comunicação da chancelaria”. Hollande é nada. Alcança níveis excepcionais de impopularidade, que são efeito, em parte, do servilismo diante da Alemanha. François Hollande é desprezado como é, pelos franceses, porque é homem que obedece à Alemanha. Mas todas as elites francesas, jornalísticas e políticas, estão afundadas no mesmo processo de negação, de não ver.
 (...)

quinta-feira, 5 de novembro de 2015

Geopolítica das Crises que marcam a instabilidade sistêmica global


Mundorama - Revista de Divulgação Científica em Relações Internacionais, 05/11/2015
 
Lucas Kerr Oliveira & Patrícia Freitas


A crise financeira de 2008-2009 foi seguida de uma crise econômica estrutural que ainda impacta a maioria dos países desenvolvidos, assim como muitos dos países emergentes e periféricos. Contudo, assim como na década pós-Crise de 1929, a consequência mais importante da atual crise econômica foi a abertura de uma verdadeira “temporada de crises políticas e geopolíticas” em todo o mundo. No nível local e regional nota-se grande diversidade de crises, desde as que são marcadas por manifestações e protestos contra os governos vigentes, até os casos de sangrentas guerras civis. No nível global, é marcante o aumento da rivalidade entre as grandes potências, especialmente entre as potências decadentes, progressivamente mais agressivas, e as potências emergentes.

Uma série de disputas poderiam ser consideradas como indicadores deste processo em pelo menos três grandes cenários: (I) na Ásia Oriental, envolvendo as disputas marítimas e estratégicas entre China e Japão, as crises na Península Coreana e no Mar do Sul da China; (II) no Leste Europeu e ex-URSS, em que as tensões envolvendo Rússia e OTAN tornaram-se críticas nas disputas entre Rússia e Geórgia e, especialmente na atual guerra civil na Ucrânia; e (III) no Grande Oriente Médio e Norte da África, com as crises iniciadas à partir da Primavera Árabe, e incluindo intensas guerras civis como a da Líbia, Síria e Iêmen.




No Norte da África, em contraposição à uma política anti-hegemônica adotada pelas potências emergentes nos últimos anos, potências tradicionais como a França aderiram a uma estratégia claramente neoimperialista, derrubando governos, ocupando e provocando guerras civis em países como Costa do Marfim, Mali, República Centro Africana e Líbia, apenas para defender os seus interesses econômicos mais básicos, como o acesso a petróleo e minérios. No Oriente Médio, observa-se a sobreposição de disputas regionais e globais, destacando-se, no nível regional a intensificação da disputa entre Irã e Arábia Saudita, torna-se patente nas guerras civis do Iêmen e da Síria, mesclando-se à polarização entre EUA e Rússia na região (KERR OLIVEIRA, PEREIRA BRITES & SILVA REIS, 2013).


http://www.limesonline.com/wp-content/uploads/2013/10/la_guerra_di_Siria_820_913.jpg


http://www.energyfuse.org/wp-content/uploads/2015/10/isis.png



O apoio direto da Rússia ao governo sírio, na “Guerra ao Terror” contra o ISIS, permitiu que os russos rapidamente conquistassem o domínio do espaço aéreo e atacassem com precisão centenas de alvos dos rebeldes extremistas, utilizando desde mísseis Kh-25 e Kh-29 guiados por laser e bombas KAB-500S-E guiadas pela rede de satélites de posicionamento Glonass, até mísseis de cruzeiro de longo alcance da classe Klub, lançados de 1500km de distância pela frota do Mar Cáspio.

https://defencyclopedia.files.wordpress.com/2015/10/russian-missile-launch.gif?w=1000
Imagem: Ministério de Defesa da Rússia



 



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http://operamundi.uol.com.br/conteudo/opiniao/41855/guerra+na+siria+washington+esta+num+beco+sem+saida+com+entrada+das+forcas+russas.shtml


No âmbito das relações internacionais esta exibição de força por parte da Rússia em apoio aos seus aliados no Oriente Médio, pode ser considerado mais um indicador de que o Sistema Internacional está se tornando Multipolar. Semelhantemente, o Sistema Internacional continua estruturalmente anárquico, no sentido realista, mas organizado a partir de uma distribuição de poder hierárquica-oligárquica. Agrega-se a isto, o aprofundamento da crise da hegemonia até então estabelecida, que parece coerente com distintos modelos explicativos, como o dos ciclos acumulação de capital e dominação de Giovanni Arrighi, ou dos ciclos de transição de poder e guerras globais de Rasler & Thompson. Mas há também fortes indícios que a atual crise ou transição se manifesta principalmente na forma de uma crise da governança global, ampliando a instabilidade e a incerteza (QUEDI MARTINS, 2012). Destarte, a manutenção da anarquia no Sistema Internacional e a polarização entre as grandes potências, marcada por uma multipolaridade oligárquica e desequilibrada e uma conjuntura de crise de governança, reforçam o comportamento dos Estados em busca de segurança para sobreviver em um ambiente internacional competitivo e ameaçador.








Resultado de imagem para Pré-Sal Segurança do Atlântico SulPara o Brasil, estas são variáveis centrais para que o país possa estabelecer uma estratégia de inserção internacional de longo prazo que assegure a sobrevivência do país em um mundo progressivamente mais interdependente, integrado e competitivo, mas ainda mais instável e inseguro.


A atual crise política enfrentada pelo Brasil está diretamente ligada à crise econômica, impactando os principais setores produtivos nacionais que impulsionaram o robusto ciclo de crescimento dos anos 2000, a saber, energia e petróleo, construção civil e de infraestrutura, indústria naval, e, ainda, a indústria de defesa. Contudo, a gravidade com que a instabilidade global influencia a política e a economia do país pode impactar seriamente o conjunto destas indústrias, especialmente a última, que tem como principal cliente o Estado.


No longo prazo, a indústria de defesa é vital para o atual processo de modernização estratégico e das capacidades defensivas do Brasil, central para garantir a soberania e satisfatória capacidade defensiva de seu território nacional. Também é uma indústria essencial devido à capacidade de inovação tecnológica e científica, central para o desenvolvimento das demais forças produtivas industriais, apresentando impactos econômicos e sociais como geração direta e indireta de empregos de elevada qualificação e salários, mostrando-se imprescindível para que o país consiga retomar o desenvolvimento econômico. Mostra-se relevante, ainda, para viabilizar a consolidação de cadeias produtivas mais intensivas em tecnologia e mais integradas no âmbito regional, viabilizando a integração das indústrias de defesa da América do Sul. Portanto, é uma indústria essencial não apenas para assegurar a capacidade estratégica do país de exercer sua autonomia no ambiente internacional, mas também de compartilhar novos processos de desenvolvimento e integração com o bloco dos países sul-americanos.

... that there will be a growinggap between energy supply and demand



Nos últimos anos a indústria de produtos de segurança e defesa no Brasil passou a ter relevância cada vez mais estratégica, resultando em considerável crescimento, particularmente no período de governo Lula. De acordo com o estudo FIPE realizado em agosto de 2015, entre 2009 e 2014, a indústria de defesa cresceu em média 9,44%. O mesmo estudo constata que nos últimos anos, cada real investido em programas de defesa gerou um multiplicador de 9,8 vezes em valor do PIB, sendo o segmento responsável por 3,7% do PIB do Brasil em 2014, movimentando cerca de R$ 202 bilhões em 2014. Estes dados são ainda mais significativos quando se considera que o Brasil tem investido apenas US$ 31,74 bilhões ou seja, somente 1,4% do seu PIB em defesa (SIPRI, 2014). Contudo, o corte orçamentário no ano de 2015 poderá significar um corte de mais 24,8% no valor da lei Orçamentária Anual, que já havia sido reduzido para R$ 22,6 bilhões, significando uma redução para R$ 17 bilhões de reais nesse ano. 

Segurança Nacional Blog SNB: Astros 2020 da Avibras Exército ...

A adoção de políticas como a inclusão da defesa como um setor estratégico para o Programa de Aceleração de Crescimento (PAC-2), foi uma medida fundamental para garantir recursos para os Programas desenvolvidos pelas Forças Armadas, como o Satélite Geoestacionário Brasileiro (SGDC), PROSUB, PROSUPER, o Sistema Astros 2020, SISFRON, além da aquisição dos caças Gripen NG e da fabricação da aeronave construída no Brasil, o KC-390. Entretanto, a interrupção desses investimentos e os cortes orçamentária podem trazer não somente incerteza da continuação dos projetos em executados, como também impactos imediatos na economia das empresas envolvidas nesses projetos. Devido ao elevado risco tecnológico evolvido neste setor, existe não apenas a ameaça de paralização dos principais projetos de modernização de defesa, como o Sisfron e o Prosub, como, ainda, pior, o risco catastrófico de destruição da capacidade produtiva da indústria de defesa nacional, ou seja, de um novo ciclo de desindustrialização como o que marcou o país nos anos 1990.

Para que o país consiga superar a crise econômica e política, afastando o fantasma da desindustrialização, é necessário repensar as estratégias de desenvolvimento de suas indústrias inovadoras, de forma a assegurar a sobrevivência destas empresas, que via de regra dependem muito mais diretamente dos investimentos estatais do que das exportações. O Brasil tem hoje a chance de estar entre os países emergentes que conseguem assegurar sua defesa com seus próprios sistemas de alta tecnologia, mas corre o risco de assistir à desindustrialização de sua base produtivo-tecnológica e perder tal possibilidade. Tudo dependerá da prioridade com que a política industrial do setor de defesa será conduzida nos próximos anos.


BIBLIOGRAFIA

ABIMDE (2015). Estudo FIPEFundação Pesquisa Econômicas: Cadeia de Valor e Importância Socioeconômica do Complexo de Defesa e Segurança no Brasil. Associação Brasileira das Indústrias de Materiais de Defesa e Segurança. 12/08/3015. <http://www.abimde.org.br/downloads> .


ARRIGHI, G. (1996).  O Longo Século XX: dinheiro, poder e as origens de  nosso tempo . Ed. Contraponto: Rio  de Janeiro.


KERR OLIVEIRA, L.; PEREIRA BRITES, P. V. & SILVA REIS, J. A. (2013). A guerra proxy na Síria e as disputas estratégicas russo-estadunidenses no Oriente Médio. Boletim Mundorama, 20/09/2013. <http://mundorama.net/2013/09/20/a-guerra-proxy-na-siria-e-as-disputas-estrategicas-russo-estadunidenses-no-oriente-medio-por-lucas-kerr-de-oliveira-pedro-vinicius-pereira-brites-e-joao-arthur-da-silva-reis/> .


QUEDI MARTINS, J. M. (2013) [org.]. Relações Internacionais Contemporâneas 2012/2: estudos de caso em política externa e de segurança. 1. ed. (Série Cadernos ISAPE). Instituto Sul-Americano de Política e Estratégia, ISAPE: Porto Alegre, RS.


RASLER, K. & THOMPSON, W. R. (2005).  Global War and the Political Economy os Structural  Change. p.  301-331.  In:  MIDLARSKY,  M.  I. (2005). [org].  Handbook  of  War  Studies  II.  4ª  ed.  The  University  of  Michigan  Press: Ann Arbor, Michigan. EUA.


SIPRI (2015). Military Expenditure Database. Stockholm International Peace Research Institute. Estocolmo, Suécia. <http://www.sipri.org/research/armaments/milex/milex_database> .



Prof. Dr. Lucas Kerr Oliveira, professor adjunto da Universidade Federal da Integração Latino-Americana, UNILA.

Patrícia de Freitas, bacharel em Relações Internacionais e Integração pela Universidade Federal da Integração Latino-Americana, UNILA



Fonte:

KERR OLIVEIRA, L. & FREITAS, P. (2015). Crises e Guerras que marcam a instabilidade sistêmica global: perspectivas para a Indústria Nacional de Defesa no Brasil. Mundorama,  Revista de Divulgação Científica em Relações Internacionais, 05/11/2015. Brasília, DF. ISSN 2175-2052.   <mundorama.net/2015/11/05/crises-e-guerras-que-marcam-a-instabilidade-sistemica-global-perspectivas-para-a-industria-nacional-de-defesa-no-brasil-por-lucas-kerr/>
















http://www.planobrazil.com/wp-content/uploads/2015/10/Stratfor%E2%80%99s-analysis-of-an-expanded-Russian-air-campaign-into-Iraq-1.jpg
http://static.independent.co.uk/s3fs-public/styles/story_large/public/thumbnails/image/2015/10/13/08/Russian-cruise-missile.jpg
Foto: Ministério de Defesa da Rússia
http://pop.h-cdn.co/assets/15/41/320x160/landscape-1444240593-mzojpd.gif 











https://www.washingtonpost.com/graphics/world/russian-cruise-missile/







http://www.24news.ca/the-news/canada-news/105120-canadian-military-predicted-libya-would-descend-into-civil-war-if-foreign-countries-helped-overthrow-gaddafi












Há risco de guerra entre Ucrânia e Rússia, diz ministro ucraniano ...
Crise na Ucrânia
http://www.thedailysheeple.com/on-the-edge-of-war-the-latest-russian-and-ukraine-troop-movements_052014

deeper into chaos, the sound of war drums gets ever louder. Russian ...



https://www.eia.gov/beta/international/regions-topics.cfm?RegionTopicID=SCS

Zonas petrolíferas nas regiões disputadas do Mar do Sul da China

http://www.southchinasea.org/files/2011/08/EEZ-Claims-Oil-and-Gas-Resources.jpg







terça-feira, 21 de julho de 2015

Igor Fuser : A Globo é o principal agente da imbecilização da sociedade

Revista Fórum, 20 de julho de 2015, 12h21

Igor Fuser: A Globo é o principal agente da imbecilização da sociedade


A Rede Globo é o aparelho ideológico mais eficiente que as classes dominantes já construíram no Brasil desde o início do século XX. Substitui perfeitamente a Igreja Católica como instrumento de controle das mentes e do comportamento.
 
Por Redação




A Rede Globo é o aparelho ideológico mais eficiente que as classes dominantes já construíram no Brasil desde o início do século XX. Substitui perfeitamente a Igreja Católica como instrumento de controle das mentes e do comportamento

Por Igor Fuser*, no Diário Liberdade

A Globo esteve ao lado de todos os governos de direita, desde o regime militar – no qual se transformou no gigante que é hoje – até Fernando Henrique Cardoso. Serviu caninamente à ditadura, demonizando as forças de esquerda e endossando o discurso ufanista do tipo “Brasil Ame-o ou Deixe-o” e as versões sabidamente falsas sobre a morte de combatentes da resistência assassinados na tortura e apresentados como caídos em tiroteios. Mais tarde, após o fim da ditadura, alinhou-se no apoio à implantação do neoliberalismo, apresentado como a única forma possível de organizar a economia e a sociedade.

No plano cultural, é impossível medir o imenso prejuízo causado pela Rede Globo, que opera como o principal agente da imbecilização da sociedade brasileira. Começando pelas novelas, seguindo pelos reality shows, pelos programas de auditório, o papel da Globo é sempre o de anestesiar as consciências, bloquear qualquer tipo de reflexão crítica.

A Globo impôs um português brasileiro “standard”, que anula o que as culturas regionais têm de mais importante – o sotaque local, a maneira específica de falar de cada região. Pratica ativamente o racismo, ao destinar aos personagens da raça negra papéis secundários e subalternos nas novelas em que os heróis e heroínas são sempre brancos. Os personagens brancos são os únicos que têm personalidade própria, psicologia complexa, os únicos capazes de despertar empatia dos telespectadores, enquanto os negros se limitam a funções de apoio. Aliás, são os únicos que aparecem em cena trabalhando, em qualquer novela, os únicos que se dedicam a labores manuais.

A postura racista da Globo não poupa nem sequer as crianças, induzidas, há várias gerações, a valorizar a pele branca e os cabelos loiros como o padrão superior de beleza, a partir de programas como o da Xuxa.

O jornalismo da Globo contraria os padrões básicos da ética, ao negar o direito ao contraditório. Só a versão ou ponto de vista do interesse da empresa é que é veiculado. Ocorre nos programas jornalísticos da Globo a manipulação constante dos fatos. As greves, por exemplo, são apresentadas sempre do ponto de vista dos patrões, ou seja, como transtorno ou bagunça, sem que os trabalhadores tenham direito à voz. Os movimentos sociais são caluniados e a violência policial raramente aparece. Ao contrário, procura-se sempre disseminar na sociedade um clima de medo, com uma abordagem exagerada e sensacionalista das questões de segurança pública, a fim de favorecer as falsas soluções de caráter violento e os atores políticos que as defendem.

No plano da política, a Rede Globo tem adotado perante os governos petistas uma conduta de sabotagem permanente, omitindo todos os fatos que possam apresentar uma visão positiva da administração federal, ao mesmo tempo em que as notícias de corrupção são apresentadas, muitas vezes sem a sustentação em provas e evidências, de forma escandalosa, em uma postura de constante denuncismo.

A Globo pratica o monopólio dos meios de comunicação, ao controlar simultaneamente as principais emissoras de TV e rádio em todos os Estados brasileiros juntamente com uma rede de jornais, revistas, emissoras de TV a cabo e portais na internet.

Uma verdadeira democratização das comunicações no Brasil passa, necessariamente, pela adoção de medidas contra a Rede Globo, para que o monopólio seja desmontado e que a sua programação tenha de se submeter a critérios pautados pela ética jornalística, pelo respeito aos direitos humanos e pelo interesse público.


*Igor Fuser é jornalista e professor de Relações Internacionais na Universidade Federal do ABC (UFABC)

 





https://revistaforum.com.br/noticias/igor-fuser-a-globo-e-o-principal-agente-da-imbecilizacao-da-sociedade/

domingo, 19 de julho de 2015

A Geopolítica do Império


Carta Maior, 19/07/2015

A Geopolítica do Sistema Imperial


 José Luís Fiori
 


 



Saul Leblon: A engrenagem que mastiga governos e nações - introdução para o texto "A Geopolítica do Sistema Imperial"

Onde estamos e para onde estamos indo? A pergunta intrínseca a qualquer deslocamento humano ganha pertinência redobrada quando a neblina da história parece embaralhar os pontos cardiais da política conduzindo governos e projetos distintos ao mesmo desfecho: a rendição aos mercados.

Por trás da tragédia grega, mas também a do PT e a de Dilma no Brasil, movem-se forças e interesses que refletem a reacomodação de um poder global  mais geral, a distinguir o método, a virulência e a hierarquia de dominação dentro do capitalismo no século XXI.

Qual a singularidade da dominação hoje aparentemente difusa e sem núcleo, exceto o dos pregões que nunca dormem e o do olho ubíquo dos monitores dos mercados, em sua diuturna vigília global?

Que posição ocupa o Brasil dentro dessa roleta planetária?

Em que medida a interação de sua elite com essa mecânica mudou a natureza da luta pelo desenvolvimento e pela democracia entre nós, tornando anacrônicas, caducas algumas bandeiras e alianças propostas pela esquerda?

São perguntas obrigatórias no momento em que, mais que a sorte da nação e a do desenvolvimento, a formação virtuosa da infância, os valores e compromissos que distinguem uma democracia social de um mero ajuntamento demográfico, há muito deixaram de interessar à elite brasileira.

A expressão ‘vale tudo’ descreve com fidelidade o que tem sido e será, cada vez mais, o bombardeio  para convencer o imaginário social das virtudes intrínsecas  à troca do ‘populismo estatizante’, pela estado de exceção de direitos e conquistas sociais permanente.

Aquilo que se fez com a Grécia agora, processa-se em câmera lenta no Brasil.

Quem vê no capitalismo apenas  um sistema econômico, e não a dominação política intrínseca à sua encarnação financeira atual, subestima erroneamente a dominância global por trás da encruzilhada da luta pelo desenvolvimento em nosso tempo.

Ademais dos percalços macroeconômicos --reais e desafiadores-- foi a  tentativa petista de deslocar o capital parasitário para a produção no 1º mandato Dilma – reduzindo os juros reais a 3,3%, o menor patamar da história, contra 18,5% sob FHC e 11,7% com Lula-- que acendeu o estopim de um confronto, ora em fase explícita de agendamento golpista.

Interesses que tomaram gosto pelo vício de ganhar sem agregar riqueza ao bem comum, detém hoje uma hegemonia planetária, que se perpetua através de mecanismos de valorização do capital fictício, cuja escalada depende de mercados desimpedidos de qualquer maçaneta protecionistas e Bancos Centrais complacentes às exigências de elevada remuneração e baixa regulação dos fluxos de capitais.

Ao contrário do que aconteceu no caso das cadeias industriais, o Brasil atingiu o estado das artes nessa matéria.

 A coagulação rentista de uma elite perfeitamente integrada aos circuitos da alta finança, amesquinhou a democracia brasileira, privando-a de instrumentos para dar à riqueza a sua finalidade social.


 A regressividade inerente a esse processo está promovendo uma mutação acelerada nas relações sociais, aqui e no resto do mundo.

O locaute do capital diante das necessidades de investimento do país –repita-se, ademais dos entraves macroeconômicos–  é o sintoma desse esgarçamento profundo entre os detentores da riqueza e o destino coletivo da sociedade.

A greve do capital contra a ‘Dilma intervencionista’ começou aí quando a taxa de juro real foi comprimida, sem que se tenha providenciado a musculatura política necessária para enfrentar interesses descomunais  situados do outro lado da pista.

Sem o discernimento engajado da sociedade para enfrentar a riqueza que não reparte, a façanha está fadada a tropeçar na assimetria das forças em confronto.

A Grécia acaba de aprender, da forma mais dura possível, que não basta sequer legitimar uma demanda justa através de um plebiscito vitorioso.

À falta de um amortecedor propiciado pela expansão do comercio internacional, por exemplo, ou de uma ainda inexistente aliança global de interesses populares e de instituições correspondentes, como poderão vir a ser as dos Brics, dá-se o confronto direto entre os interesses das sociedades e das nações e a virulenta captura da sua riqueza pelo aspirador financeiro.

Não terá êxito diante desse xadrez quem não se apetrechar de forma desassombrada para enfrenta o embate que virá, inapelavelmente.

Uma primeira e obrigatória providencia consiste em entender as estruturas globais e as forças motrizes por trás desse enfrentamentos.

É disso que trata o texto do professor José Luís Fiori, ‘A geopolítica do novo sistema imperial’, cuja oportuna releitura Carta Maior recomenda neste fim de semana.








 







 









A GEOPOLÍTICA DO NOVO SISTEMA IMPERIAL
 
JOSÉ LUÍS FIORI

A História conta que os estados nacionais e o moderno sistema econômico e político mundial nasceram praticamente juntos, nos século XV e XVI.

Ou mais precisamente, nos conta que o próprio sistema mundial foi uma construção e um produto da expansão extraterritorial dos primeiros estados nacionais europeus.

Depois de nascer, esse sistema mundial se manteve, nos 500 anos seguintes, sob  égide política européia e do seu sistema inter-estatal.

Mas não é verdade que neste período o Estado Nacional tenha destruído ou substituído todas as demais formas de organização do poder territorial, e sobretudo os Impérios, como pensam Paul Kennedy e Charles Tilly, entre outros.

É verdade que os primeiros estados europeus nasceram da luta contra o império muçulmano e da resistência ao império dos Habsburgos. Mas todos estes estados também se transformaram depois, por um caminho ou outro, em Impérios, dentro ou fora da Europa.

Impérios que   duraram muito, aliás, e que só foram desmontados na segunda metade do século XX.  Por isto, o mais correto é dizer que o império, ou a "vontade imperial", foi sempre uma dimensão essencial dos próprios estados nacionais europeus,  e que foi esta vontade a grande responsável pelo nascimento do sistema político mundial hierarquizado a partir de um nucleo central composto pelas grandes potências.


Mas este núcleo central nunca foi homogêneo, coeso ou pacífico, pelo contrário, viveu em estado de quase permanente guerra.

Exatamente porque todos seus estados eram ao mesmo tempo impérios, e sempre se propuseram construir um império mundial. Por isto foram chamados de grandes potências ou potências globais, complementares e competitivas entre si.

Como dissemos num livro recente: " o que a história moderna nos ensina é que os conflitos político-militares dentro deste núcleo do sistema mundial foram sempre provocadas por uma ‘vontade imperial’ que consegue se impor, aos demais estados, durante um certo período da história, e que a partir daí tentou construir o seu império global.

Mas o que a história também ensina é que estes projetos nunca conseguiram se completar. Em todos os casos, o impulso imperial dos poderes políticos e econômicos dominantes, acabaram sendo barrados por outras ‘vocações’, iguais e contrárias. E foi a existência simultânea destas várias vocações iguais e contrárias que produziu, em alguns momentos da história, situações de ‘equilíbrio de poder’, e em outros momentos, as grandes guerras mundiais entre os estados-potências".

Mas mesmo nos períodos de "equilíbrio de poder", o que de fato existiu foi sempre uma competição bipolar central que acabou contendo o caos europeu e exportando, muitas vezes,  as guerras para fora da Europa.

Foi o que se passou, por exemplo, com a bipolaridade ibérica nos séculos XV e XVI; e com a competição entre a Holanda e a União Ibérica, nos séculos XVI e XVII. Logo antes do início da longa disputa secular entre a França e a Inglaterra. 


Uma complementariedade e conflito político-militar que, como nos ensinou Max Weber,  foi absolutamente decisiva para o desenvolvimento e a acumulação da riqueza capitalista das grandes potências européias.

O mesmo quadro e as mesmas regras que se mantiveram no século XX, enquanto o sistema mundial foi gerido pela bipolaridade competitiva entre Estados Unidos e União Soviética.

O desaparecimento desta bipolaridade, em 1991, somada à "eutanásia" dos estados europeus que criaram o próprio sistema e suas regras de funcionamento, deu uma impressão inicial de que chegara enfim a hora do Império Mundial, um novo tipo de império sem fronteiras, sem estados e sem um centro de poder com base nacional.

Do nosso ponto de vista, entretanto, o centro de poder deste novo projeto imperial responde ainda pelo nome de Estados Unidos da América.

Como já dissemos noutro lugar, "o espaço deste novo tipo de Império Americano não é contínuo nem homogêneo. Seu poder apoia-se no controle de estruturas transnacionais, militares, financeiras, produtivas e ideológicas de alcance global, mas não suprime os estados nacionais, nem a hierarquia do sistema inter-estatal.

Reconhece a existência de estados, que são seus adversários estratégicos, e exerce seu poder de maneira diferenciada, com relação aos demais: vassalagem, no caso de alguns países do leste asiático e do oriente médio; hegemonia, no caso dos seus aliados europeus.

Só na América Latina, o poder imperial americano é exercido sobre um território contínuo, incluindo todos os seus estados, com a exceção de Cuba."

O que passou foi que nos anos 90, a vitória na Guerra Fria, somada ao seu sucesso econômico, permitiu aos Estados Unidos proporem aos seus principais aliados e ao mundo em geral um projeto de integração e coordenação global das principais potências e economias nacionais, que se chamou de globalização e que dava a impressão que estivéssemos ingressando numa nova era, sob a tutela de um império mundial benevolente.

Foi o tempo em que muitos sonharam com a abundância fácil e rápida e com o fim dos conflitos e das soberanias nacionais.

Mas este projeto já havia sido engavetado pela nova administração americana empossada no início de 2001, quando ocorreram os atentados terroristas que ajudaram a decantar a "Doutrina Bush": uma   "estratégia de contenção" de longo prazo, como foi a da Inglaterra com relação à França e à Rússia, no século XIX; e a dos EUA, com relação à URSS, na Guerra Fria.

Com a diferença que agora a contenção se refere a  um "inimigo invisível" e global, e os Estados Unidos se atribuem a capacidade quase exclusiva de definir a sua localização e as suas intenções, nos seus momentos de invisibilidade.

Uma estranha "bipolaridade" mundial que delega aos Estados Unidos um direito sem precedentes de repressão interna e de intervenção externa em todo e qualquer território, estado ou sistema de fluxos onde ele localize ou decida que existe o "virus do terrorismo".

Mas enganam-se redondamente os que pensam que chegou ao fim o projeto neoliberal de universalização dos mercados "auto-regulados".

Desde Hiroshima e Nagasaki, os Estados Unidos nunca tiveram receio de explicitar, nos momentos de crise, que: os mercados e as finanças globais só são possíveis, porque existe o poder político do Príncipe capaz de impor ao mundo a sua ordem e a sua moeda. 


Foi o que aconteceu em 1973, quando os Estados Unidos se desfizeram do padrão ouro-dólar, instituído em Bretton Woods, dando lugar a um novo sistema monetário internacional sem referência metálica, baseado no dólar e na "credibilidade" do poder global americano. 
    

Agora, no Afeganistão, os Estados Unidos  reafirmaram a superioridade avassaladora de suas armas e a capacidade de sustentar sua vontade e seus valores através do mundo.

A vitória inicial da ofensiva americana, e a destruição exemplar do regime talibã, recolocou o estado e as armas no epicentro do sistema mundial,  mas não engavetou o projeto liberal da globalização, apenas deixou claro para os mais cegos ou iludidos, a dimensão política, imperial e nacional deste projeto.

Por outro lado, do ponto de vista estritamente geopolítico, o consenso que foi construído em torno do combate ao terrorismo é excessivamente universal para ser eficaz.

Além disto, não é difícil de perceber a relocalização russa e o renascimento militar da Alemanha e do Japão, enquanto se dilata a importância político-estratégica da China e Índia – as economias que mais crescem no mundo, apesar da recessão mundial.

Assim mesmo, o mais provável é que por muito tempo, não ocorram conflitos militares diretos entre as grandes potências enquanto se dê  a lenta construção de uma nova bipolaridade política capaz de equilibrar o funcionamento do sistema mundial.

Neste processo deverá pesar decisivamente a estranha troca de cadeiras que está ocorrendo entre a Europa e a Ásia.

Enquanto a Europa tenta se desfazer do modelo responsável pelo seu sucesso nestes 500 anos, a Ásia finalmente se transformou num  sistema inter-estatal complementar e competitivo, igual ao que a Europa está desmontando.

De qualquer maneira, durante este período de lenta transformação do núcleo central, o mais provável é que ocorra uma exportação dos conflitos para a periferia do sistema, como no século XIX.

Por isto, a importância - para quem queira entender a geopolítica do novo sistema imperial emergente - de olhar o que está ocorrendo no Afeganistão e na Argentina. Do nosso ponto de vista, existe no momento um mesmo impasse escondido por trás das duas crises, tão distantes no espaço e no tempo. E este impasse se deve, em grande medida, à inexistência de consenso dentro do governo norte-americano, e entre as grandes potências, sobre  como prosseguir a "guerra" contra o terrorismo, depois da destruição do regime talebã, no Afeganistão; e como fazer a Argentina pagar suas dívidas.

Alguns defendem a continuação da ofensiva militar, com ataques sucessivos ao Iraque, Iêmen ou ao próprio Irã, e todos parecem estar de acordo que o governo argentino tem que honrar seus contratos e se manter nos trilhos da ortodoxia liberal. 


Mas muitos temem os efeitos em cadeia da expansão da guerra na Ásia Central, e uma situação de caos social que leve à  ruptura do sistema político argentino.

Para não falar que a moratória latino-americana  trouxe prejuízos desiguais, para os capitais europeus e norte-americanos.

Por trás deste dissenso sobre a condução imediata das duas crises esconde-se, entretanto, um problema mais grave e de longo alcance,  que em geral não é mencionado pelos analistas e estrategistas internacionais.

No fim da Guerra Fria e durante a década de 1990, falou-se muito sobre as novas relações entre as grandes potências, depois do desaparecimento da União Soviética, da consolidação da União Européia e da ascensão econômica e política asiática.

Neste período, contudo, o crescimento econômico americano e a globalização do capital financeiro mantiveram a crença numa coincidência de interesses entre os países desenvolvidos e o resto do mundo.

A volta da recessão mundial , em 2001, a intensificação dos conflitos militares na periferia e as crises econômicas nos "mercados emergentes", trouxeram para o primeiro plano uma questão muito antiga e permanente do moderno sistema político e econômico mundial:

o que fazer ou como renovar suas velhas estruturas de dominação global, articuladas a partir da Europa desde o século XV?

o que fazer neste novo milênio, com as antigas colônias e com os estados que  foram inventados pelos europeus, na América, na Oriente Médio, na Ásia e na África?

Como manter a "ordem" e como administrar as crises e as moratórias nacionais que deverão se multiplicar na periferia do sistema? como dividir entre as grandes potências os custos imediatos e as tarefas futuras? quem assume a responsabilidade pelo quê, e onde?

Entre 1940 e 1990, o fim dos impérios europeus e a descolonização da África e da Ásia deram origem a cerca de 100 novos estados nacionais independentes.

Em 2001, dos 188 estados membros das Nações Unidas, 125 haviam sido, em algum momento, colônias européias que se independizaram de forma concentrada, em duas grandes ondas: a primeira delas no início do século XIX, na América, e esta segunda, depois da II Guerra Mundial, na África e na Ásia. Curtos pedaços de uma história muito longa, a própria história do sistema econômico e político mundial que nasceu no século XV, como uma projeção "extra-territorial" do poder europeu.

Seu primeiro passo foi dado por Portugal, ao tomar Ceuta dos mulçumanos, no norte da África, em 1415.

Menos de um século depois, em 1494, os europeus já se consideravam no direito de repartir o mundo, definindo, na cidadezinha de Tordesilhas, o que foi de fato a primeira "ordem mundial européia". Depois vieram os impérios marítimos asiáticos e a colonização americana, uma caminhada que nunca mais se interrompeu.
 

Nos 500 anos seguintes, 8 países, com apenas 1,6% do território global (Portugal, Espanha,Holanda, França, Inglaterra, Bélgica, Alemanha e Itália) foram conquistando ou submetendo praticamente todo o resto do mundo, através da conquista militar e territorial, ou através do mercado e do poder dos seus capitais.

Movimento expansivo - político e econômico - que acompanha a história do desenvolvimento capitalista e que se transformou numa dimensão constitutiva do sistema mundial moderno. Uma estrutura hierárquica de dominação global, centrada na Europa - e depois, na sua ex-colônia norte-americana - que assumiu várias formas através dos séculos: colônias, domínios, províncias de além mar, mandatos, protetorados etc.

Também neste caso se pode falar em duas grandes ondas, só que ao contrário das outras, estas foram expansivas e muito mais prolongadas: a primeira, que vai do século XV ao XVIII e é interrompida pelas independências dos estados americanos que se transformaram imediatamente em periferia econômica da Inglaterra (no sentido que deu Raul Prebisch a esta palavra).

E a segunda, que vai do século XIX ao XX, e coincide com o período da competição imperialista européia, pelo controle da Ásia e da África.

Esta segunda onda expansiva é que foi "debelada", depois da  II Guerra Mundial, mas o controle europeu (ou agora "ocidental”) do mundo se manteve sob a tutela da competição global e bipolar entre a União Soviética e os Estados Unidos, o verdadeiro cinturão de segurança que manteve a "ordem" dentro desta galáxia de estados nacionais que nasceu cinco séculos depois de Tordesilhas.

Immanuel Wallerstein sublinha com razão, a importância que os Estados Unidos e a União Soviética tiveram na descolonização do século XX, defendendo, desde a I Guerra Mundial, o direito à auto-determinação dos povos.

Mas no fim da II Guerra Mundial, as duas novas lideranças mundiais prometeram para todos, o desenvolvimento econômico e uma maior igualdade social.

Em 1990, o fim da URSS enterrou a promessa comunista, mas isto ocorreu no mesmo momento em que o mundo capitalista também declarava o fracasso de sua promessa desenvolvimentista. 


No seu lugar colocou a utopia globalitária da integração sem fronteiras e do crescimento convergente.

Uma utopia que virou pó muito rapidamente, e hoje, na Ásia Central como na América Latina só lhes restou às grandes potências, propor ao resto do mundo, a sua velha defesa do livre-comércio, que já foi testada no século XIX.

Neste ponto, pode ser útil um pequeno recuo no tempo, sobretudo para quem queira especular, a esta altura de 2002, sobre os futuros possíveis.

Voltar ao século XIX, para entender como foi que a utopia do livre comércio acabou transformando - entre 1830 e 1940 -  3/5 do mundo em colônia européia.

Apesar da diversidade das situações nacionais e das relações estabelecidas com a América, Áfria e Asia, sobretudo depois da independência norte-americana,  é possível identificar, na Europa industrial do século XIX,  duas grandes posições frente ao problema do seu relacionamento com o "resto do mundo".

De um lado, os que se alinharam com Adam Smith e o Lord Shelbourne (que negociou a paz e a independencia com os norte-americano) e que já defendiam, na segunda metade do século XVIII, que as vantagens do livre comércio, para os países mais desenvolvidos, dispensavam os monopólios coloniais e as conquistas territoriais que haviam sido necessárias, nos séculos anteriores.

Estes senhores apostaram, desde o primeiro momento, que a simples superioridade econômica inglesa - acentuada pela Revolução Industrial - seria capaz de promover a especialização "primário-exportadora" das economias periferizadas, segundo as necessidades dos estados mais ricos e poderosos.

"We prefer trade to dominion", diziam eles, e foi esta idéia que sustentou a defesa inglesa das independências politicas latino-americanas, acompanhadas pela assinatura simultânea dos Tratados Comerciais que abriram os mercados locais aos produtos manufaturados, e aos capitais financeiros  europeus.

Numa posição oposta, se colocaram quase todos os políticos e intelectuais conservadores que, na segunda metade do século XIX,  defenderam a expansão territorial e a missão civilizatória dos europeus, através do mundo.

Foi o caso de políticos como Disraeli e Palmerston, ou intelectuais como Spengler, Dilthey e Scheller que pensavam como o principe-chanceler russo Gortchakov, ou  como Cecil Rhodes, que além de defender as conquistas territoriais européias, foi o primeiro a sustentar a tese de que o caminho da paz mundial deveria passar pela submissão do mundo às leis anglo-saxônicas.

Na mesma hora em que o alemão Carl Peters assumia, sem nenhum tipo de hipocrisia civilizatória, que "o objetivo da colonização é enriquecer, sem escrúpulos e com decisão, nosso próprio povo, às custas de outros povos mais fracos".  

Se a  posição de Adam Smith predominou na primeira metade do século XIX, a  de Cecil Rhodes se impôs de forma avassaladora a partir de 1850. Mas o mais interessante é que esta vitória não se deu no campo político- partidário, nem tampouco no campo das idéias, se deu como resultado muitas vezes inesperado da conjunção, no mundo real, do livre-comércio com a competição entre as grandes potenciais decididas a apoiar seus capitais nacionais, e impedir o avanço territorial dos seus rivais.

Esta história se repetiu muitas vezes e por todos lados, reproduzindo o modelo testado na América Latina, e que se transformou num princípio geral da política externa européia.

Tudo começava pela assinatura (muitas vezes imposta pela força) de Tratados Comerciais que obrigavam os países signatários a eliminarem suas barreiras comerciais, permitindo o livre acesso das mercadorias e dos capitais europeus. Esses Tratados foram estabelecidos com o Império Otomano, em 1838, e depois  com a China, o Japão, o Egito, a Tunísia, o Marrocos, o Afeganistão, o Iraque e vários outros países que acabaram se especializando na exportação de matérias primas necessárias à industrialização européia.

A nova situação obrigou, também, os governos destes países a se endividarem junto a banca privada, sobretudo inglesa e francesa, devido à perda de arrecadação com o fim das tarifas comerciais, e ao seu envolvimento na construção da infra-estrutural indispensável às exportações.

Nos momentos de retração cíclica das economias européias, estes países enfrentaram, invariavelmente, problemas de balanço de pagamentos, sendo obrigados a renegociar suas dívidas externas ou declarar moratórias nacionais.

No caso da América Latina, as dívidas e moratórias foram solucionadas através de renegociações com os credores e transferências dos custos para as populações nacionais.

No resto do mundo, a história foi diferente: primeiro foram criados, pelos credores, os Comitês de Administração das Dívidas Publicas, que assumiam a tutela fiscal e financeira dos países endividados.

Foi o que aconteceu na Tunísia em 1869, no Egito em 1880; no Império Otomano em 1881 e assim sucessivamente em quase todos os países que haviam assinado os famosos "tratados desiguais". Quando assim mesmo o problema se manteve ou se agravou, a solução foi a tomada direta do poder pelos estados europeus mais atingidos pelas situações de inadimplência.

Nessa história, o Egito foi um caso paradigmático, no curto período em que viveu o sonho modernizante do Quediva Ismael Paxá - entre 1867 e 1883 - sustentado pelos capitais franceses e ingleses que financiaram suas plantações de algodão, e a  construção de suas ferrovias e do Canal de Suez.

Em 1876, os financistas, os intelectuais cosmopolitas e a alta sociedade européia foram ao Egito comemorar, junto com as elites locais, o sucesso da modernização do país e a inauguração da Ópera do Cairo, ouvindo a première da Aída de Verdi, composta especialmente para a ocasião. 

 

Mas em 1878, o Egito já começou a enfrentar problemas sérios no seu balanço de pagamentos.

Em 1879, como conseqüência, o Quediva Ismael Paxá renunciou ao governo do Egito. Em 1880, foi declarada a moratória nacional. Em 1881, foi criado pelos credores, o Comitê de Administração da Dívida, que assumiu a tutela do fisco e das finanças egípcias. Mas apesar disto, em 1882, as tropas inglesas invadiram o Egito em nome dos credores, transformando o país numa colônia, e depois num protetorado militar, que durou até 1952.


A grande diferença, até agora, no início do ano 2002, é que em 1880, já havia consenso entre as grandes potências sobre o que fazer: elas já haviam deixado de lado a utopia de Adam Smith e haviam se decidido seguir - em defesa do livre-comércio - o caminho proposto por Cecil Rhodes,  personagem símbolo do expansionismo territorial e do imperialismo europeu.


Fevereiro de 2002






Fonte: Carta Maior, 19/07/2015

segunda-feira, 11 de maio de 2015

Desafios geopolíticos para a Integração Energética Regional

Integração Energética Regional: desafios geopolíticos

08/05/2015

A energia é uma das principais preocupações em todo o mundo. A agenda internacional de sustentabilidade está cada vez mais vinculada à segurança do abastecimento energético. As mudanças climáticas já são uma realidade tangível e um exemplo de seu impacto é a relação entre o aquecimento global e a disponibilidade de água. Recentes cenários de escassez hídrica impõem um novo desafio para os países que decidiram construir suas plantas de energia baseados na energia hidrelétrica. Por ser um insumo importante para a produção, a energia desempenha um papel fundamental no plano do desenvolvimento dos países de rendimento médio. Esses países experimentaram anos de crescimento e melhora da qualidade de vida de sua população, conduzindo a um maior consumo de energia. Em suma, a produção está diminuindo; ao passo que o consumo está elevando. Enfrentar esses desafios requer necessariamente a cooperação entre nações através da integração regional. Mecanismos de integração são múltiplos na região. Com a incorporação da Venezuela, Mercosul converteu-se em uma potência mundial de energia: é o quarto maior produtor de petróleo bruto, depois de Arábia Saudita, Rússia e Estados Unidos. A Unasul, por sua vez, tem dois conselhos que tratam diretamente dos desafios energéticos: o Conselho Energético Sul-americano (CES) e o Conselho Sul-americano de Infraestrutura e Planejamento (COSIPLAN). Por outro lado, a CELAC promove reuniões dos Ministros de Energia para o intercâmbio de experiências e pontos de vista sobre a segurança energética, o desenvolvimento sustentável e o uso adequado e equilibrado da energia. Além disso, a OLADE, que se formou em resposta à crise energética da década de 1970, proporciona apoio técnico e político aos países para alcançar a integração e o desenvolvimento no mercado energético regional. Apesar da existência de tais mecanismos, é necessário avançar com projetos concretos para enfrentar os desafios climáticos e geopolíticos atuais da integração. Nesse sentido, convidamos todos a refletir sobre possíveis avanços.

La energía es una de las principales preocupaciones en todo el mundo. La agenda internacional de sostenibilidad está cada vez más vinculada a la seguridad del abastecimiento energético. El cambio climático ya es una realidad tangible y un ejemplo de su impacto es la relación entre el calentamiento global y la disponibilidad de agua. Escenarios recientes de la escasez del agua han puesto un nuevo desafío para los países que han decidido construir sus plantas de energía basados en la energía hidroeléctrica. La energía es un insumo importante para la producción y, por lo tanto, desempeña un papel fundamental en la planificación del desarrollo de los países de ingresos medios. Estos países han experimentado años de crecimiento y mejoramiento del nivel de vida de su población, lo que conduzco a un mayor consumo de energía. En suma, la producción está disminuyendo; aunque el consumo se está elevando. Hacer frente a estos retos requiere necesariamente de la cooperación entre las naciones a través de la integración regional. Mecanismos de integración son múltiples en la región. Con la incorporación de Venezuela, Mercosur se ha convertido en una potencia mundial de energía: es el cuarto mayor productor de petróleo crudo, después de Arabia Saudita, Rusia y Estados Unidos. Asimismo, Unasur tiene dos consejos que tratan directamente con los desafíos energéticos: el Consejo Energético Suramericano (CES) y el Consejo Suramericano de Infraestructura y Planeamiento (COSIPLAN). Por otro lado, CELAC promueve reuniones de los Ministros de Energía para el intercambio de experiencias y puntos de vista sobre la seguridad energética, el desarrollo sostenible y el uso adecuado y equilibrado de la energía. Además, OLADE, que se formó en respuesta a la crisis energética de la década de 1970, proporciona apoyo técnico y político a los países para lograr la integración y el desarrollo en el mercado energético regional. A pesar de la existencia de tales mecanismos, es necesario avanzar con proyectos concretos para hacer frente a los desafíos climáticos y geopolíticos actuales de la integración. En este sentido, invitamos a todos a reflexionar sobre posibles avances.
  • Download áudio PAINEL 1 - Contextualizando a integração regional
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  • Download áudio PANEL 1 - Contextualizando la integración energética regional
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  •  Download áudio PANEL 1 - Contextualizing the Energy Integration
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  • Download áudio PAINEL 2 – Avançando a matriz energética regional
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  • Download áudio PANEL 2 - Desplegando la matriz energética regional
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  • Download áudio PANEL 2 - Improving the matrix regional energy
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  • Download áudio PAINEL 3 – Os desafios geopolíticos do abastecimento energético: integração energética bi ou multilateral
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  • Download áudio PANEL 3 - Los desafíos geopolíticos del abastecimiento energético: Integración energética bi o multilateral
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  • Download áudio PANEL 3 - Geopolitical challenges of suply energy: bi or multilateral energy integration
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  • Download áudio PAINEL 4 - Os impactos das mudanças climáticas no abastecimento de água e a energia hidrelética
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  • Download áudio PANEL 4 - Los impactos del cambio climático hacia el abastecimiento de agua y la energía hidroeléctrica
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