domingo, 22 de novembro de 2015

A hegemonia alemã na Europa


A hegemonia alemã na Europa 

Nesta segunda-feira, 23 de novembro de 2015, no Clube de Cultura de Porto Alegre, ocorre um debate entre o prof. Dr. Paulo G. Fagundes Visentini e o prof. José Miguel Quedi Martins sobre o "Novo papel da Alemanha: derrotada em 1945, dona da Europa em 2015".

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Referente a este tema, recomendamos a leitura do artigo de Emmanuel Todd:




TODD, Emmanuel (2014). La France s’est mise en état de servitude volontaire par rapport à l’Allemagne.  Les Crises, 01 setembro 2014.



https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiok9YpB9WvKWjsZvDhBm9XRMpwJCCpfG3wAbCLlZ6kbKt825mmNkNe66wQOmhu_b2DAL9ag4KYQvoTVuGmDcL2tbTyDnDYXLCSnt7NVs18Ft_vzsiflOPTlUSJapm-8fM38EL5sSNz_Gc/s1600/Emmanuel+todd-mapa.jpgA França estabeleceu um estado de servidão voluntária em relação à Alemanha





Olivier Berruyer (OB): Emmanuel Todd, como você vê a crise atual com a Rússia?
Emmanuel Todd (ET): Há alguma coisa estranha, irreal, no atual sistema internacional. Alguma coisa não faz sentido: todo mundo dedicado a atacar uma Rússia que mal chega aos 145 milhões de habitantes, que se reergueu, é verdade, mas em relação à qual ninguém pode supor que volte a ser potência dominante, em escala mundial, nem mesmo em escala europeia. A força da Rússia é fundamentalmente defensiva. Manter a integridade de seu território imenso já é problemático, com população tão reduzida, comparável à do Japão.
A Rússia é uma potência de equilíbrio: seu arsenal nuclear e sua autonomia energética fazem com que possa desempenhar o papel de contrapeso aos EUA. A Rússia pode permitir-se acolher Snowden e ajudar a defender as liberdades civis no Ocidente. Mas a hipótese de uma Rússia que devore a Europa e o mundo é absurda.
OB: No início de sua carreira você interessava-se muito mais pela URSS – chegou a prever a desintegração iminente. Hoje, a Rússia não tem mais o nível hegemônico daquele tempo, e embora a Rússia seja mais democrática que a URSS, é tratada com ainda mais desconsideração. Por exemplo, quando a URSS interveio na Tchecoslováquia, em 1968, com seus tanques, houve protestos, mas rapidamente, em semanas, a histeria acabou. Hoje, quando não acontece nada nem semelhante, além de uma população que vota democraticamente na Crimeia a favor de ser reintegrada à casa da mãe russa, tem-se a impressão de que estaria acontecendo drama terrível, que justificaria até fazermos guerra à Rússia para devolver a Crimeia, contra a vontade dos crimeanos, à Ucrânia. Por que o tratamento tão diferente?
ET: Essa questão não diz respeito só à Rússia, diz respeito a todo o Ocidente. O Ocidente, com certeza massivamente dominante, está hoje contudo, em todos os estados que o compõem, inquieto, ansioso, doente: crise financeira, estagnação ou baixa nos ganhos, aumento das desigualdades, ausência total de perspectivas e, no caso da Europa continental, crise demográfica. Se nos colocamos no plano ideológico, essa fixação contra a Rússia parece ser a procura de um bode expiatório, melhor, como a criação de inimigo necessário para manter alguma qualquer mínima coerência no Ocidente. A União Europeia nasceu contra a URSS; não vive sem o adversário russo.
Mas também é verdade que a Rússia impõe ao mundo ocidental alguns problemas de “valores”. Contudo, ao contrário do que sugerem as asneiras antiputinistas e russofóbicas do Jornal Le Monde, o problema do Ocidente é o caráter positivo e útil de vários valores da cultura e da história russa.
A Rússia não acompanhou o mundo ocidental na trilha do “liberalismo total”. Lá, se manteve e reafirmou-se um determinado papel para o Estado, e, também, uma determinada ideia nacional. É país que está começando a reerguer-se, inclusive em termos de fecundidade, de diminuição da mortalidade infantil. O desemprego é baixo.
Sem dúvida: os russos são pobres e ninguém na Europa ocidental inveja o sistema russo, também no nível das liberdades. Mas ser russo hoje é pertencer a uma coletividade nacional forte e protetiva, é a possibilidade de se projetar mentalmente para um futuro melhor, é estar andando para alguma coisa. Quem pode dizer a mesma coisa da França?
A Rússia está em vias de se tornar, sem que esse seja algum tipo de projeto, uma verdadeira ameaça para os que, no ocidente, fazem ares de nos governar, perdidos na história, que falam de valores ocidentais, mas que, como diz, acho, Basile de Koch, “em matéria de valores, só reconhecem os bursáteis”. Mas já não se trata de conflito entre Oriente e Ocidente, tradicional, regressivo, no sentido psiquiátrico, no qual os EUA seriam o motor.
A crise atual tem tudo a ver com a intervenção europeia na Ucrânia. Se se escapa do delírio ‘jornalístico’ das mídias ‘ocidentais’, que parecem ter regredido a 1956, em plena guerra fria ameaçando esquentar, e observamos a realidade geográfica dos fenômenos, o que se vê, muito simplesmente, é que o conflito acontece numa zona tradicional de enfrentamento entre Alemanha e Rússia.
Desde o início tive a sensação de que os EUA, dessa vez, talvez por medo da desmoralização depois que a Crimeia quis voltar à Rússia, acompanharam os passos da Europa, ou, mais, da própria Alemanha, porque é a Alemanha quem controla a Europa. Veem-se sinais contraditórios vindos da Alemanha. Às vezes, a Alemanha parece mais pacifista, numa linha de retirada, de cooperação. Outras vezes, ao contrário, aparece fortemente contestatária, ou enfrenta declaradamente a Rússia. O vigor dessa linha dura aumenta dia a dia.
Steinmeier levou Fabius e Sikorski a Kiev. Mas Merkel vai sozinha, em visita ao novo protetorado ucraniano. E não é só nesse enfrentamento, que a Alemanha caminha na frente. No espaço de seis meses, também nas últimas semanas, quando já estava em virtual conflito com a Rússia nas planícies ucranianas, Merkel humilhou os ingleses, ao impor-lhes Juncker, com grosseria inacreditável, como presidente da Comissão Europeia. Evento ainda mais extraordinário, os alemães começaram a afrontar os EUA, servindo-se de uma história de espionagem pelos norte-americanos.
É absolutamente inacreditável, se se conhecem as relações muito íntimas entre as atividades de informação e inteligência norte-americanas e alemãs, desde a guerra fria. Parece também hoje, que os serviços alemães de informação, BND, também espionam, muito normalmente, os políticos norte-americanos. Ainda que soe chocante, eu diria que, consideradas as ambiguidades da política alemã, sou absolutamente favorável a que a CIA monitore os responsáveis pela política alemã. Espero também que os serviços de informação franceses façam seu serviço e participem da vigilância sobre uma Alemanha cada vez mais ativa e aventurosa no plano internacional.
O que se deve considerar é que essa agressividade antiamericana da Alemanha é fenômeno novo, que temos de considerar. O estilo é fascinante. O modo como os políticos alemães falaram dos norte-americanos manifesta profundo desprezo. Já há importante fundo antiamericano além-Reno. Pude avaliá-lo quando do lançamento da edição alemã do meu livro Depois do Império. Acho que aquele fundo antiamericano explica o sucesso excepcional da edição em alemão. Já houve até um momento em que o governo alemão zombou das reprimendas norte-americanas em matéria de gestão econômica. Contribuir para o equilíbrio da demanda mundial? E depois, o que mais?
A Alemanha tem seu projeto, de poder, mais do que de bem-estar: comprimir a demanda na Alemanha, pôr a ferros os países endividados do sul, pôr uns amendoins ao sistema bancário francês que controla o Eliseu, etc..
Num primeiro momento, quando a Crimeia foi tomada, estive mais sensível ao restabelecimento da Rússia: potência que não quer mais se deixar atropelar e que é capaz de tomar decisões. Hoje, constato que a Rússia é, fundamentalmente, uma nação em estabilização, e só em estabilização, por mais que tantos pintem a Rússia como um lobo-mau.
Mas a verdadeira potência emergente, antes da Rússia, é a Alemanha. A Alemanha fez um caminho prodigioso, das dificuldades econômicas que tinha quando da reunificação até o restabelecimento econômico e, na sequência, a tomada de controle sobre todo o continente, nos últimos cinco anos. Tudo isso está aí para ser reinterpretado
A crise financeira não apenas demonstrou a solidez da Alemanha. Ela também revelou a capacidade da Alemanha para usar a crise da dívida para baixar a crista de todo o continente.
Se nos livramos da retórica arcaica da guerra fria, se paramos de sacudir o chocalho ideológico da democracia liberal e de seus valores, se se para de dar ouvidos ao blá-blá-blá europeísta, para observar a sequência em curso de modo a observar a sequência histórica em andamento, de modo bruto, quase como uma criança, em resumo, se se aceita ver que o rei está nu, contata-se que:
(1) ao longo dos últimos cinco últimos anos, a Alemanha tomou o controle do continente europeu no plano econômico e político; e que
(2) ao cabo desses mesmos cinco anos, a Europa já está virtualmente em guerra contra a Rússia!
Esse fenômeno simples é ocultado por uma dupla negação; dois países agem como ferrolhos para impedir que compreendamos a realidade do que se passa.
Primeiro, a França, que continua sem admitir que se pôs em estado de servidão voluntária, na relação com a Alemanha. Não pode fazer diferente, porque não admite plenamente o crescimento do poder da Alemanha e o fato de que não está no padrão que lhe permita controlar esse crescimento. Se há lição geopolítica a extrair da IIª Guerra Mundial, é que a França não consegue controlar a Alemanha; e que temos de reconhecer as imensas qualidades de organização e de disciplina econômica... e o não menos imenso potencial para a irracionalidade política.
Que a França recusa-se a ver a realidade alemã é uma evidência. Já há algum tempo venho falando de François Hollande como “vice-chanceler Hollande”. Pensando bem, de fato, ele é mais um simples “diretor de comunicação da chancelaria”. Hollande é nada. Alcança níveis excepcionais de impopularidade, que são efeito, em parte, do servilismo diante da Alemanha. François Hollande é desprezado como é, pelos franceses, porque é homem que obedece à Alemanha. Mas todas as elites francesas, jornalísticas e políticas, estão afundadas no mesmo processo de negação, de não ver.
 (...)

quinta-feira, 5 de novembro de 2015

Geopolítica das Crises que marcam a instabilidade sistêmica global


Mundorama - Revista de Divulgação Científica em Relações Internacionais, 05/11/2015
 
Lucas Kerr Oliveira & Patrícia Freitas


A crise financeira de 2008-2009 foi seguida de uma crise econômica estrutural que ainda impacta a maioria dos países desenvolvidos, assim como muitos dos países emergentes e periféricos. Contudo, assim como na década pós-Crise de 1929, a consequência mais importante da atual crise econômica foi a abertura de uma verdadeira “temporada de crises políticas e geopolíticas” em todo o mundo. No nível local e regional nota-se grande diversidade de crises, desde as que são marcadas por manifestações e protestos contra os governos vigentes, até os casos de sangrentas guerras civis. No nível global, é marcante o aumento da rivalidade entre as grandes potências, especialmente entre as potências decadentes, progressivamente mais agressivas, e as potências emergentes.

Uma série de disputas poderiam ser consideradas como indicadores deste processo em pelo menos três grandes cenários: (I) na Ásia Oriental, envolvendo as disputas marítimas e estratégicas entre China e Japão, as crises na Península Coreana e no Mar do Sul da China; (II) no Leste Europeu e ex-URSS, em que as tensões envolvendo Rússia e OTAN tornaram-se críticas nas disputas entre Rússia e Geórgia e, especialmente na atual guerra civil na Ucrânia; e (III) no Grande Oriente Médio e Norte da África, com as crises iniciadas à partir da Primavera Árabe, e incluindo intensas guerras civis como a da Líbia, Síria e Iêmen.




No Norte da África, em contraposição à uma política anti-hegemônica adotada pelas potências emergentes nos últimos anos, potências tradicionais como a França aderiram a uma estratégia claramente neoimperialista, derrubando governos, ocupando e provocando guerras civis em países como Costa do Marfim, Mali, República Centro Africana e Líbia, apenas para defender os seus interesses econômicos mais básicos, como o acesso a petróleo e minérios. No Oriente Médio, observa-se a sobreposição de disputas regionais e globais, destacando-se, no nível regional a intensificação da disputa entre Irã e Arábia Saudita, torna-se patente nas guerras civis do Iêmen e da Síria, mesclando-se à polarização entre EUA e Rússia na região (KERR OLIVEIRA, PEREIRA BRITES & SILVA REIS, 2013).


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O apoio direto da Rússia ao governo sírio, na “Guerra ao Terror” contra o ISIS, permitiu que os russos rapidamente conquistassem o domínio do espaço aéreo e atacassem com precisão centenas de alvos dos rebeldes extremistas, utilizando desde mísseis Kh-25 e Kh-29 guiados por laser e bombas KAB-500S-E guiadas pela rede de satélites de posicionamento Glonass, até mísseis de cruzeiro de longo alcance da classe Klub, lançados de 1500km de distância pela frota do Mar Cáspio.

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Imagem: Ministério de Defesa da Rússia



 



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http://operamundi.uol.com.br/conteudo/opiniao/41855/guerra+na+siria+washington+esta+num+beco+sem+saida+com+entrada+das+forcas+russas.shtml


No âmbito das relações internacionais esta exibição de força por parte da Rússia em apoio aos seus aliados no Oriente Médio, pode ser considerado mais um indicador de que o Sistema Internacional está se tornando Multipolar. Semelhantemente, o Sistema Internacional continua estruturalmente anárquico, no sentido realista, mas organizado a partir de uma distribuição de poder hierárquica-oligárquica. Agrega-se a isto, o aprofundamento da crise da hegemonia até então estabelecida, que parece coerente com distintos modelos explicativos, como o dos ciclos acumulação de capital e dominação de Giovanni Arrighi, ou dos ciclos de transição de poder e guerras globais de Rasler & Thompson. Mas há também fortes indícios que a atual crise ou transição se manifesta principalmente na forma de uma crise da governança global, ampliando a instabilidade e a incerteza (QUEDI MARTINS, 2012). Destarte, a manutenção da anarquia no Sistema Internacional e a polarização entre as grandes potências, marcada por uma multipolaridade oligárquica e desequilibrada e uma conjuntura de crise de governança, reforçam o comportamento dos Estados em busca de segurança para sobreviver em um ambiente internacional competitivo e ameaçador.








Resultado de imagem para Pré-Sal Segurança do Atlântico SulPara o Brasil, estas são variáveis centrais para que o país possa estabelecer uma estratégia de inserção internacional de longo prazo que assegure a sobrevivência do país em um mundo progressivamente mais interdependente, integrado e competitivo, mas ainda mais instável e inseguro.


A atual crise política enfrentada pelo Brasil está diretamente ligada à crise econômica, impactando os principais setores produtivos nacionais que impulsionaram o robusto ciclo de crescimento dos anos 2000, a saber, energia e petróleo, construção civil e de infraestrutura, indústria naval, e, ainda, a indústria de defesa. Contudo, a gravidade com que a instabilidade global influencia a política e a economia do país pode impactar seriamente o conjunto destas indústrias, especialmente a última, que tem como principal cliente o Estado.


No longo prazo, a indústria de defesa é vital para o atual processo de modernização estratégico e das capacidades defensivas do Brasil, central para garantir a soberania e satisfatória capacidade defensiva de seu território nacional. Também é uma indústria essencial devido à capacidade de inovação tecnológica e científica, central para o desenvolvimento das demais forças produtivas industriais, apresentando impactos econômicos e sociais como geração direta e indireta de empregos de elevada qualificação e salários, mostrando-se imprescindível para que o país consiga retomar o desenvolvimento econômico. Mostra-se relevante, ainda, para viabilizar a consolidação de cadeias produtivas mais intensivas em tecnologia e mais integradas no âmbito regional, viabilizando a integração das indústrias de defesa da América do Sul. Portanto, é uma indústria essencial não apenas para assegurar a capacidade estratégica do país de exercer sua autonomia no ambiente internacional, mas também de compartilhar novos processos de desenvolvimento e integração com o bloco dos países sul-americanos.

... that there will be a growinggap between energy supply and demand



Nos últimos anos a indústria de produtos de segurança e defesa no Brasil passou a ter relevância cada vez mais estratégica, resultando em considerável crescimento, particularmente no período de governo Lula. De acordo com o estudo FIPE realizado em agosto de 2015, entre 2009 e 2014, a indústria de defesa cresceu em média 9,44%. O mesmo estudo constata que nos últimos anos, cada real investido em programas de defesa gerou um multiplicador de 9,8 vezes em valor do PIB, sendo o segmento responsável por 3,7% do PIB do Brasil em 2014, movimentando cerca de R$ 202 bilhões em 2014. Estes dados são ainda mais significativos quando se considera que o Brasil tem investido apenas US$ 31,74 bilhões ou seja, somente 1,4% do seu PIB em defesa (SIPRI, 2014). Contudo, o corte orçamentário no ano de 2015 poderá significar um corte de mais 24,8% no valor da lei Orçamentária Anual, que já havia sido reduzido para R$ 22,6 bilhões, significando uma redução para R$ 17 bilhões de reais nesse ano. 

Segurança Nacional Blog SNB: Astros 2020 da Avibras Exército ...

A adoção de políticas como a inclusão da defesa como um setor estratégico para o Programa de Aceleração de Crescimento (PAC-2), foi uma medida fundamental para garantir recursos para os Programas desenvolvidos pelas Forças Armadas, como o Satélite Geoestacionário Brasileiro (SGDC), PROSUB, PROSUPER, o Sistema Astros 2020, SISFRON, além da aquisição dos caças Gripen NG e da fabricação da aeronave construída no Brasil, o KC-390. Entretanto, a interrupção desses investimentos e os cortes orçamentária podem trazer não somente incerteza da continuação dos projetos em executados, como também impactos imediatos na economia das empresas envolvidas nesses projetos. Devido ao elevado risco tecnológico evolvido neste setor, existe não apenas a ameaça de paralização dos principais projetos de modernização de defesa, como o Sisfron e o Prosub, como, ainda, pior, o risco catastrófico de destruição da capacidade produtiva da indústria de defesa nacional, ou seja, de um novo ciclo de desindustrialização como o que marcou o país nos anos 1990.

Para que o país consiga superar a crise econômica e política, afastando o fantasma da desindustrialização, é necessário repensar as estratégias de desenvolvimento de suas indústrias inovadoras, de forma a assegurar a sobrevivência destas empresas, que via de regra dependem muito mais diretamente dos investimentos estatais do que das exportações. O Brasil tem hoje a chance de estar entre os países emergentes que conseguem assegurar sua defesa com seus próprios sistemas de alta tecnologia, mas corre o risco de assistir à desindustrialização de sua base produtivo-tecnológica e perder tal possibilidade. Tudo dependerá da prioridade com que a política industrial do setor de defesa será conduzida nos próximos anos.


BIBLIOGRAFIA

ABIMDE (2015). Estudo FIPEFundação Pesquisa Econômicas: Cadeia de Valor e Importância Socioeconômica do Complexo de Defesa e Segurança no Brasil. Associação Brasileira das Indústrias de Materiais de Defesa e Segurança. 12/08/3015. <http://www.abimde.org.br/downloads> .


ARRIGHI, G. (1996).  O Longo Século XX: dinheiro, poder e as origens de  nosso tempo . Ed. Contraponto: Rio  de Janeiro.


KERR OLIVEIRA, L.; PEREIRA BRITES, P. V. & SILVA REIS, J. A. (2013). A guerra proxy na Síria e as disputas estratégicas russo-estadunidenses no Oriente Médio. Boletim Mundorama, 20/09/2013. <http://mundorama.net/2013/09/20/a-guerra-proxy-na-siria-e-as-disputas-estrategicas-russo-estadunidenses-no-oriente-medio-por-lucas-kerr-de-oliveira-pedro-vinicius-pereira-brites-e-joao-arthur-da-silva-reis/> .


QUEDI MARTINS, J. M. (2013) [org.]. Relações Internacionais Contemporâneas 2012/2: estudos de caso em política externa e de segurança. 1. ed. (Série Cadernos ISAPE). Instituto Sul-Americano de Política e Estratégia, ISAPE: Porto Alegre, RS.


RASLER, K. & THOMPSON, W. R. (2005).  Global War and the Political Economy os Structural  Change. p.  301-331.  In:  MIDLARSKY,  M.  I. (2005). [org].  Handbook  of  War  Studies  II.  4ª  ed.  The  University  of  Michigan  Press: Ann Arbor, Michigan. EUA.


SIPRI (2015). Military Expenditure Database. Stockholm International Peace Research Institute. Estocolmo, Suécia. <http://www.sipri.org/research/armaments/milex/milex_database> .



Prof. Dr. Lucas Kerr Oliveira, professor adjunto da Universidade Federal da Integração Latino-Americana, UNILA.

Patrícia de Freitas, bacharel em Relações Internacionais e Integração pela Universidade Federal da Integração Latino-Americana, UNILA



Fonte:

KERR OLIVEIRA, L. & FREITAS, P. (2015). Crises e Guerras que marcam a instabilidade sistêmica global: perspectivas para a Indústria Nacional de Defesa no Brasil. Mundorama,  Revista de Divulgação Científica em Relações Internacionais, 05/11/2015. Brasília, DF. ISSN 2175-2052.   <mundorama.net/2015/11/05/crises-e-guerras-que-marcam-a-instabilidade-sistemica-global-perspectivas-para-a-industria-nacional-de-defesa-no-brasil-por-lucas-kerr/>
















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Foto: Ministério de Defesa da Rússia
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https://www.washingtonpost.com/graphics/world/russian-cruise-missile/







http://www.24news.ca/the-news/canada-news/105120-canadian-military-predicted-libya-would-descend-into-civil-war-if-foreign-countries-helped-overthrow-gaddafi












Há risco de guerra entre Ucrânia e Rússia, diz ministro ucraniano ...
Crise na Ucrânia
http://www.thedailysheeple.com/on-the-edge-of-war-the-latest-russian-and-ukraine-troop-movements_052014

deeper into chaos, the sound of war drums gets ever louder. Russian ...



https://www.eia.gov/beta/international/regions-topics.cfm?RegionTopicID=SCS

Zonas petrolíferas nas regiões disputadas do Mar do Sul da China

http://www.southchinasea.org/files/2011/08/EEZ-Claims-Oil-and-Gas-Resources.jpg